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Na família Grant relacionamentos são tão importantes quanto promessas. Isso vem dos meus pais que ao se conhecerem no auge de suas juventudes, se amaram a primeira vista, tão intensamente que logo tiveram a certeza que aquele amor duraria pela eternidade. Bem, exagero e precipitação da parte deles ou não, os dois estão casados há vinte e dois anos. A história deles influência muito as metas que as minhas duas irmãs tem em comum, elas sonham em encontrar alguém que possa amá-las e respeitá-las desde o primeiro momento em que seus olhos se encontrarem, e que juntos possam construir uma família feliz.

Diferente delas, eu não acredito que esse conto de fadas acontecerá novamente, pelo menos não comigo. Afinal, dois raios não caem no mesmo lugar, certo? E atingir três pessoas? Acho pouco provável que a sorte procure a família Grant novamente. Por isso, idealizo a minha vida amorosa como a da vovó Aimee, que só encontrou sua alma gêmea no quarto casamento. Depois de colecionar várias aventuras.

- Eu ainda não estou acreditando que você fez isso. É como se você fosse a Margo, de Cidades de Papel só que viajando com motivo diferente. - Minha irmã mais nova, Charmaine, comenta incrédula. - Como está sendo por aí?

Estamos conversando via Skype enquanto eu ando de um lado para o outro tentando ficar pronta o mais rápido possível, calço as botas de cano curto depois de vestir a meia calça e passo as mãos pela saia amarela, erguendo o olhar para a adolescente de olhos verde-escuro, pele negra e cachos selvagens do outro lado da tela do notebook. A cada dia que se passa Charmaine se transforma em uma versão mais nova de mim, papai vive dizendo que somos a copia da mamãe, assim como Cherlin, nossa irmã mais velha.

- Hum... - Sento na cama escorregando minha bunda pelo colchão até minha costa esbarrar na parede, enquanto ajusto o notebook no meu colo e tento resumir tudo mentalmente antes de responder.

Já faz três dias que estou na Irlanda e durante este tempo obtive muitas experiências, contar tudo o que senti em cada visita que fiz nos mínimos detalhes, a deixaria impaciente. Ela não é como Cherlin, que gosta de saber até das coisas menos importantes. Charmaine é objetiva, está sempre indo direto ao ponto.

- Está sendo incrível. Sinto que foi a melhor decisão que já tomei na minha vida, reconheço que há certo perigo em viajar sozinha para um país que você nunca foi antes, mas a cultura, a culinária, o clima, as pessoas... - Fico sem palavras para descrever perfeitamente o que estou sentindo - Faz tudo valer a pena, é como vovó Aimee diz, quando você sai da sua zona de conforto e expande seu horizonte, a sua vida muda totalmente. Tudo passa a ter um significado maior e você se transforma. Amadurece.

- Falando assim está começando a me convencer de sair viajando sem rumo por aí. - Minha irmã sorri gentilmente quando apoia seus cotovelos na mesa de centro e a cabeça nas mãos.

Aproveito o brilho em seus olhos para incentivá-la.

- E por que você não experimenta? - Prendo um cacho atrás da orelha sentindo meu coração se encher de esperança - Você poderia tentar no verão. Não precisa ser para outro país, poderia começar indo em uma cidade próxima a Westwood e passar uns três dias ou uma semana, o que acha?

- Acho que o papai e a mamãe são capazes de se internar se mais uma filha deles sair por aí sozinha - Ela ri, jogando minha esperança no ralo. - Não me sinto confortável em tomar uma atitude tão drástica assim, Cher. Prefiro me divertir pelo seu ponto de vista, está ótimo assim.

Dois Raios Não Caem No Mesmo LugarOnde histórias criam vida. Descubra agora