2. 𝒑𝒓𝒐𝒃𝒍𝒆𝒎𝒂𝒔 𝒏𝒐 𝒑𝒂𝒓𝒂𝒊𝒔𝒐

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Por James King

Midtown Manhattan estava agitada naquela sexta-feira. O mesmo inferninho de sempre, não mudava – na verdade, ficava cada vez melhor. Como sempre, naquele horário, o fluxo de carros era grande. Como um bom europeu, eu havia frequentado os melhores eventos noturnos de Mônaco, Cingapura, Espanha, Inglaterra, dentre todos. Mas confessava internamente que não havia lugar mais detestavelmente delicioso do que Manhattan, o lugar onde dinheiro e status compram tudo. Um mundo de prazeres vazios que elevava a sincope emocional de seus playboys e patricinhas, mas um verdadeiro oásis para quem só estava de passagem.

E, acredite, quando você tem 20% dos bens de Manhattan em sua posse, fica muito mais fácil ser o rei da ilha. Claro que, indiretamente, nada daquilo ainda era totalmente meu, mas do meu pai. Mas como seu único filho homem, desperdiçava meus rios de euros dentro das melhores boates de luxo para me saciar de um mundo inteiramente pueril. Se você está no topo do mundo, você aceita com menos dor a lama que te espera.

Mas tanto dinheiro não havia sido conquistado por acaso. Embora meu pai, Giani "King" Salvatore, tivesse um histórico de luta ferrenha nos mares do mediterrâneo, sendo um administrador de navios pesqueiros, a verdadeira oportunidade surgiu quando recebeu uma proposta da máfia italiana e nos mudamos para Veneza. Era do interesse dominar as rotas de suas embarcações pelo mediterrâneo e meu pai já estava cansado de morar em Mykonos. O que faz de mim um grego legítimo com o fogo italiano nas veias. Você consegue imaginar o estrago? As pobres garotas de Veneza sabem muito bem.

Fazer o serviço sujo da máfia por anos, com terras no interior da Itália explorando o contrabando de armamento e as expedições marítimas ilegais para transportá-las, tudo isso fez com que nos tornássemos uma das famílias mais importantes e endinheiradas do mundo, fazendo meu pai ter o dedo dele em todos os continentes. E, embora a nossa lista de inimigos fosse extensa, a pessoa teria que ter muito culhão para mexer com nossa influência. Não era para qualquer um se meter com um King.

Meu Bentley Flying Spur mahogany estacionou na frente da Melucci, uma das boates da rede de negócios da minha família na América. Elliot deu a volta no carro, abrindo a porta para eu e Andrea sairmos. Não era permitido estacionar na avenida e os meros mortais precisavam descer no começo do quarteirão. Mas quando você é o chefe, você pode tudo.

- Sr. King. – Elliot me cumprimentou com seu olhar cordial.

- Pode voltar para o hotel Jacquot, quando a gente precisar, te liga. – Assenti com a cabeça, dando espaço pra Andrea sair do veículo.

O hotel Jacquot pertencia à família de Andrea e sua suíte presidencial era nosso esconderijo favorito em nossas arruaças em Manhattan.

- Desculpe, senhor, são ordens do seu pai que eu entre com o senhor essa noite. – Elliot disse, contraproducente demais para meu gosto, porém meu pai não dava ponto sem nó.

Não protestei, Elliot sabia ser tão invisível quanto um abajur. A fila de mulheres em vestidos curtos estava grande já na entrada. Passamos por elas, arrancando olhares, com nossos ternos de vinte mil. Os seguranças assentiram com a cabeça em um cumprimento respeitoso quando afundamos para dentro do ambiente fechado e de luz baixa. Apesar de ser uma boate, não havia pista de dança. Em seu lugar, haviam dois sofás de costas um pro outro, tão extensos que ocupavam todo o centro, com seu requinte em couro terracota. Os lustres pesados sustentavam a luz amarelada que havia no ambiente amplo.

Guardas em cada canto do ambiente, um bar gigantesco com bebidas do teto ao chão à esquerda e cinco poltronas com mesas de cristal espaçadas em lugares estratégicos com almofadas de couro creme ao redor como se fosse o lugar de súditos ao redor de um gangsta. No fundo, a música baixa não falhava, um hip hop clássico vindo direto da raiz do gueto.

O Eleito - Guerra De CoraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora