Capítulo 3 /Parte 1 -Barulho..

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Jane

Depois de ter passado na enfermaria junto com Darwin, nós seguimos para a sala de aula. Eu ralei o joelho, o pescoço, o braço e fiz um pequeno galo na cabeça. Conhecendo Darwin, nem precisava olhar pra ele pra que soubesse que tinha os mesmos  machucados que eu, só que bem piores.

Nós dois sorrimos um para o outro antes de bater na porta. Quando ela foi aberta descubri que apesar do acidente de hoje, ia ter um bom começo de aulas. O professor que nos esperava sorrindo era Sergio, professor de literatura. Alto e moreno, com seus olhos de cor verde acinzentados. Já era velho e sua barba bem grande. Meu professor favorito.

-Bom, vejo que estão vivos. -As rugas de sua testa afundaram ainda mais.- Isso já é um bom sinal para o primeiro dia de aula. Vocês estão bem?

Sorri para ele.

-Eu estou. Mas Darwin não vai se recuperar tão cedo.

O professor olhou de mim para o Darwin e ficou um pouco espantado, suas sobrancelhas se arquearam.

-Bom, entrem. A aula já começou, e Chris está preocupado com vocês dois. -O rosto de Darwin se inundou em vermelho, e seus olhos castanhos fitaram o chão, fazendo com que seus cabelos (também castanhos) caíssem  sobre seus olhos. Mesmo os dois assumindo o namoro antes das férias, eu sabia que era difícil para eles mostrarem qualquer tipo de afeto em público. Peguei Darwin pela mão e o levei para as fileiras da frente, no canto, onde Chris estava sentado bem na frente da carteira do professor.

Darwin sentou atrás de Chris e os dois começam a conversar, depois Chris olhou dele pra mim, com seu olhar meigo. Seus olhos azuis claros, seus cabelos loiros e sua expressão carinhosa eram, simplesmente, gritantes contra seus piercings no rosto e muitas de suas tattos nos braços.

-Vocês dois são malucos. Jay, do jeito que você é violenta, ia acabar quebrando Darwin. -Ele mirou o olhar para Darwin.- E você também, seu idiota inconsequente, logo agora quer se matar? Tem algum problema em serem um pouco mais cuidadosos?

Chris continuava brigando com Darwin e eu os observei calada. Mesmo com tantas diferenças os dois sempre se deram muito bem, e eu não conseguia mentir pra mim mesma, sentia um pouco de inveja do relacionamento maravilhoso que eles tinham.

Enquanto Chris sempre teve o jeito paizão e carinhoso, Darwin era encrenqueiro e tímido, totalmente opostos.
Olhei para frente e encarei a lousa.
Os dois faziam com que eu lembrasse dos meus pais.
Por que todas as situações simples e cotidianas tem que me lembrar das pessoas que perdi?
Eu só queria espernear e chorar como uma criança, quando lembrava dos dois, de tudo o que perdi.

Do que eu fui um dia.

Mas não ia chorar aqui.
Não aqui.
Não aqui.
Não aqui.
NÃO AQUI, meu cérebro gritava.

-Queridos alunos, eu tenho um comunicado pra vocês. -A sala ficou  em silêncio.- Como todos sabem, quando essa escola foi criada, apenas quem pagava podia estudar aqui. Isso mudou com o tempo. Depois foi aceito que bolsistas pudessem frequentar esse colégio. Eu fico muito feliz com isso, principalmente por ter participado dessa transição. Agora mais uma coisa mudou. -Sérgio sorriu.- Antigamente usávamos o sistema de grupos, mas agora vimos que isso não fez com que vocês melhorassem o rendimento. Então pensamos em usar o sistema de duplas.

A sala começou a fazer barulho e eu fiz uma careta. Sempre detestei barulho desnecessário. Por que as pessoas têm que ser tão barulhentas todo o tempo?

-Turma! -Interrompeu o professor.- Não serão vocês que vão escolher a dupla. A professora Marcela que montou a lista de acordo com o rendimento e a falta de rendimento de vocês em certas matérias.

A Outra Metade De MimOnde histórias criam vida. Descubra agora