Coreia do Sul, 5 de agosto de 1972.
Donghyuck chegou em casa sentindo-se esgotado. Mais uma vez o professor de educação física pegou pesado, mas isso não impediu o garoto de chegar em casa com um sorriso radiante no rosto.
- Cheguei! – anunciou, e foi recebido pela vó com uma breve reverência e um abraço apertado.
A senhorinha lhe disse para deixar as coisas no quarto e voltar para a cozinha, pois ela precisaria dele, e o garoto não protestou.
Entrou em seu quarto, um cômodo simples, e seus olhos bateram no rádio antigo que tinha encontrado no meio das coisas do falecido avô. Meses depois de o senhor Lee ter passado dessa para melhor, foi feita uma limpa em todos os seus objetos. Foi então que Donghyuck o encontrou; em uma caixa, empoeirado e criando teias de aranha. O rádio antigo.
Ele funcionava perfeitamente bem, mas em dois anos, o garoto nunca encontrou uma estação que tivesse alguém com quem pudesse se comunicar. E ninguém mais possuía um rádio como aquele. Com isso, Hyuck – um apelido carinhosamente dado por sua vó – desistiu de tentar encontrar estações e o objeto se tornou mera decoração.
Ou não. De vez em quando, ele tentava mais uma vez, começava escolhendo uma estação aleatória, então:
Olá, meu nome é Lee Donghyuck, eu sou de Seoul, Coréia do Sul.
A partir daí, ele discorria sobre o clima, falava sobre seu dia e sobre seu grande sonho de vida, ser um astro da música. E para provar que era bom no que fazia, ele cantava.
Era sempre assim.
Mas naquele dia em especifico, Donghyuck não se aproximou do rádio para conversar sozinho. Ele deixou a mochila gasta em cima da cama e retornou para a cozinha, para ajudar a vó com o jantar.
- Como foi a escola hoje? – perguntou ela, enquanto descascava os legumes para a sopa.
- Foi interessante, vovó – respondeu, dando mais atenção à louça na pia. – Aprendemos mais uma fórmula matemática.
- E o que mais?
- Só. Também tive aula de educação física.
- Yah! Você deveria se esforçar mais nos esportes! – ela gargalhou, sabia que o neto não era o melhor atleta da cidade.
Donghyuck riu e terminou a louça. Ajudou com outras coisas e dentro de alguns minutos, o jantar estava pronto. Ensopado de legumes e carne de porco, seu favorito. Eles comeram e conversaram sobre as coisas do dia-a-dia. Depois, a vó foi notificada de que deveria descansar.
- A senhora já fez o jantar, é mais do que justo. – Ele disse. – Eu cuido das coisas agora.
E cuidou. Donghyuck só foi para o quarto quando a louça estava tinindo. Se certificou de que a vó estava bem, então se retirou para seu cômodo favorito e deitou-se na cama. Os olhos pousaram mais uma vez sob o rádio, que estava ligado, mas ele estava exausto para levantar e desligar, tão exausto que simplesmente adormeceu.
Foi acordar somente no dia seguinte, ouvindo chiados esquisitos.
- Hmmm – soou sonolento. Os chiados continuaram.
Não. Não eram chiados. Era alguém.
Quase que num pulo, ele se levantou. Os olhos arregalados, o coração batendo a mil. Se aproximou de onde o rádio se encontrava, prestando bem atenção nas palavras chiadas.
Oi, câmbio, aqui quem fala é Mark. Mark Lee, falando de Nova York.
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ʙᴏʏs ᴏɴ sᴛᴇʀᴇᴏ | ᴍᴀʀᴋʜʏᴜᴄᴋ
Romans2 de agosto de 1972; Mark Lee, que mora em Nova York, ganha de presente um rádio antigo dos anos 40 e tenta, todas as noites, encontrar alguma estação. E um belo dia Lee Donghyuck, que mora em Seoul, acorda ouvindo alguém falando em inglês no rád...