A Convenção dos Gatos - Parte 2

331 84 55
                                    


O leite fervia no fogão, Cauê conversava animado com Lucas, os dois felizes por tomarem café da manhã juntos. Roberto voltou com os pães e frios. Ana ainda no celular nem olhou pra mesa, os meninos atacaram e tia Erica pediu que tivessem mais educação, Maiara só riu enquanto Roberto resmungava tentando limpar as gotas de café que caíram em sua camisa. O sol entrava pela janela e pela porta da cozinha, assim como a brisa fria de inverno.

— Vem Ana. — Chamou Erica olhando pra filha. — Toma logo café pra não se atrasar, e mais uma vez obrigado Roberto por levar eles pra escola.

— Que isso, não é nada, já ia levar os meus mesmo. Amor acho que vou ter que trocar de camisa.

— Come com essa, se sujar mais não tem problema.

— O papai é babão.

— Você que é.

Enquanto as pessoas riam e brincavam Erica cutucou a filha e com apenas um olhar fez a menina guardar o celular. Ana se preparou para sentar quando olhou a família reunida.

— E Aiyra?

Todos se olharam como se percebessem apenas agora a falta da garota.

— Tá fazendo corpo mole. — Provocou Cauê com a boca cheia de pão.

— Eu vou ver. — Respondeu Maiara se levantando e Ana disse que iria junto.

Saíram da cozinha quando Roberto repreendia o filho por falar de boca cheia, Lucas riu da bronca que o primo levou e a mãe mandou que se calasse. Os sons ficaram mais baixo enquanto atravessavam o corredor. Ana andava perto de Maiara quando sua tia parou, olhou pra sobrinha e a garota conseguiu perceber a preocupação da mulher.

— As coisas na escola ainda não melhoraram? Aiyra não fala muito sobre isso e...

— É complicado, mas ela anda meio sozinha.

— Mas ela tinha feito bons amigos. O que aconteceu?

— Acho que os mal-entendidos e... Ela acabou excluída, mas... A senhora sabe tia, Aiyra ela... Tem dificuldades em fazer amizades. Ainda mais com toda essa história da ficha medica.

Maiara recomeçou a andar.

— É, eu sei.

Abriram a porta do quarto enquanto Aiyra escovava os cabelos, longos e lisos, de costas assim, assobiando, parecia uma sereia, faltando apenas a cauda, uma rocha pra sentar, e o rio sereno. Os reflexos da mãe e de Ana surgiram no espelho da penteadeira, um móvel antigo herança de sua vó, Aiyra deu um sorriso murcho para as mulheres sem nem se virar, continuou a pentear-se. O vento entrava pela janela assim como alguma claridade, a cama estava feita, o quarto impecável e na janela, Penélope talvez dormisse, ou apenas fazia coisas que só aranhas fizessem.

— Não vai tomar café? — Perguntou Maiara. — Todo mundo já tá na mesa.

— Já vou.

Maiara olhou para Ana que sorriu e piscou pra tia, a mulher se despediu da filha e deixou que as duas prima se entendessem. Ana tocou a mão de Aiyra e pegou a escova, a menina no começo disse não precisar mas Ana não recuou, escovando os cabelos de Aiyra ela ia conversando, falando sobre o dia, sobre a escola e a festa do dia da independência, já estava bem perto, ia ter desfile na cidade e tudo, fogos fornecido pelos comerciantes, um espetáculo daqueles. Enquanto Ana falava sobre as coisas escutou um som baixo, a cabeça de Aiyra pendeu pra baixo e através do espelho conseguiu ver a prima chorar. Ana abraçou a amiga e disse que tudo daria certo.

— Não quero voltar pra aquele lugar. — Murmurou Aiyra.

— Eu sei, mas...

— Nem ele aparece. — Comentou Aiyra segurando o choro e se virando para olhar Ana.

Sangue AntigoOnde histórias criam vida. Descubra agora