4. Um clichê nem um pouco clichê

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Nessa tarde, eu fiz com Jeongguk o mesmo que minha mãe sempre fazia comigo quando eu era pequeno e havia um dia realmente ruim.

Nós lavamos seu rosto, limpamos seus machucados, e viemos comer fritas e hambúrguer.

Acho que estávamos sentados ali há mais de duas horas. Ele ainda estava muito assustado, e vez ou outra arregalava os olhos e começava a transpirar, tremer. Eu colocava minha mão sobre a sua e apenas assim ele parecia realmente voltar a realidade, se acalmando ao que me olhava nos olhos.

E depois de eu insistir, Jeongguk me contou o porquê de sua reação... Digamos, um tanto incomum e exagerada diante de uma briga.

E, bem, até que havia muito sentido.

Acontece que Jeongguk, desde criança, possui um histórico de sentir-se desconfortável ao visualizar, seja na vida real ou em filmes, cenas de sangue e de violência. À medida que ele foi crescendo, o problema começou a piorar. Ele já não sentia apenas um mal estar, mas um medo desproporcional e intenso. E foi o que aconteceu hoje.

Pelo que fiquei sabendo, os agressores eram do colégio vizinho e perseguiram Jeongguk por este ter zombado um pouco deles quando vencemos a última partida de vôlei que teve entre as duas escolas. O mais novo me contou que, quando um dos dois lhe acertou um tapa ardido no rosto, ele já não conseguia respirar direito. Ficou sem ar na hora.

Porque era violento.

Foi quando sentiu a dor, notou que estava em um beco e viu que seria espancado que Jeongguk... Apenas se jogou no chão, começou a chorar e proteger a cabeça com os braços, desesperado. Ele disse que mal viu quando cheguei e que também, não se lembrava totalmente da briga ou dos golpes.

— Era como se... Eu estivesse dormindo e acordando, constantemente. Eu só me lembro de sentir dor, apagar, ver tudo em um borrão e depois, deixar de sentir os golpes. Então vi você. Foi só depois que você apareceu que parei de ficar... Desmaiando.

Jeongguk me contava os detalhes, meio tímido e vez ou outra ficava amuado. Eu perguntei várias vezes se ele gostaria de ir para casa, pois o que vivenciou hoje, o que sofreu, era algo realmente árduo para si. Ainda mais por conta dos problemas que tinha. Ele precisava descansar.

— Eu posso te levar em casa. — eu disse, olhando em seus olhos e segurando sua destra com ambas as mãos, querendo aquecê-lo.

Ele balança a cabeça, negando.

— Minha casa... Está vazia agora. — murmurou, os ombros caídos e os olhos alagados. — Se eu ficar sozinho, certamente, terei um ataque de pânico.

— Jeonggukie...

— Apenas fique comigo mais um pouco.

Eu, obviamente, não neguei aquilo.

Ainda fiz mais perguntas a ele sobre aquele fato. Tipo, como ele lutava se não gostava de violência? Jeongguk disse que era totalmente diferente, e que dentro do nosso clube, as coisas eram leves e alunos se divertiam entre si e, por isso, Jeon não enxergava tal coisa como violência. Mas ele não conseguia ir em nenhum festival ou olimpíada, porque se sentia enjoado e amedrontado.

E ele não sabia o porquê de ser assim. Nunca soube.

Simplesmente não havia, sob a ótica psicanalítica, nenhuma relação entre os seus sintomas e experiências da sua infância que pudessem ter provocado um trauma que evoluísse à fobia. Ele só... Só era assim.

Parecia-me suspeito. Mas eu não queria questioná-lo muito.

Afinal, ele já passou por muita coisa hoje.

Um clichê nem um pouco clichê {kookmin}Onde histórias criam vida. Descubra agora