Octavia
Raven fingiu que estava brava devido as minhas cantadas, mas deu pra ver que havia gostado, e bastante. Suspirei ainda agarrada nela, enquanto ela dirigia em direção à cidade.
A culpa foi todinha dela ao deixar claro que não poderíamos continuar brincando de flertar, até parece que nasceu ontem e não sabia que eu provocaria ainda mais só pela diversão de ver ela tentando não revidar. Era óbvio para mim que não passava de uma brincadeira, apesar dela ser apenas dois anos mais velha, ela era maior de idade e com certeza, devia ter pessoas mais interessantes do que eu para ela levar a sério, né? Mas, mesmo assim, eu nunca fui contida, tão pouco sei esconder o que sinto, por isso, não estava pensando duas vezes antes de me aproximar de Raven. Apertava a sua cintura mais forte a cada curva que ela fazia na estrada, eu não estava com medo de cair porque ela dirigia muito bem, só era uma ótima oportunidade de, literalmente, estar mais próxima dela.
Estávamos quase chegando na cidade, já dava para avistar os prédios aparecendo na paisagem enquanto o sol se punha. Então, Raven seguiu para a última curva, e desviou bruscamente para fora da estrada quando viu que um carro vinha na contra mão em nossa direção. Ela parou a moto antes que chegasse a bater numa árvore, mas bateu seu próprio braço para evitar que eu caísse. Neste momento, ela deixou de segurar a moto e se virou completamente em minha direção, enquanto eu encarava apavorada o braço dela, que me segurava, todo machucado.
Raven: Octavia, você está bem?
Octavia: Você tá sangrando, e seu braço... ele está torto.
Raven: O! - Me desviei do braço e olhei para os olhos dela. - Você está bem?
Ela agora estava descendo da moto e apalpando os bolsos da jaqueta enquanto não tirava os olhos de mim, aguardando que eu respondesse.
Octavia: Eu não me machuquei. Não cai pois você me segurou, e acho que quebrou um braço fazendo isso.
Desci da moto e ajudei ela a abrir o botão do bolso da jaqueta, onde estava o seu celular, e disquei para a emergência, mas foi ela quem falou.
Antes que o resgate chegasse ela me fez chamar um uber e prometer não contar nada à diretora antes que ela estivesse em condições de contar pessoalmente. Mas, claro que eu não a deixaria contar, porque sabia que prejudicaria o trabalho dela a diretora saber que nos envolvemos em um acidente.No dia seguinte Raven não apareceu na escola, não me preocupei pois já imaginava que ela faltaria no período da manhã para levar a moto no conserto. Mas, quando ela não apareceu nem para as atividades da tarde, me preocupei. Porém, eu não havia pedido o telefone dela, não sabia o sobrenome para procurar nas redes sociais, tão pouco sabia se ela tinha amigos lá. Também não podia perguntar à diretora, porque, tecnicamente ela não poderia saber do meu envolvimento no acidente. Eu estava muito nervosa e ansiosa por notícias dela.
Quando cheguei em casa a impaciência aumentou, não conseguir ficar parada, tão pouco me alimentar. Fiz uma mochila com moletom, algumas bolachas, e saí. Não tinha um plano, mas queria passar em alguns hospitais e perguntar por ela. A cidade não era tão grande, e ela devia morar perto da escola, portanto devia também frequentar os hospitais da região. Logo no primeiro e único que fui, descobri que só em filmes para os atendentes se comoverem e contarem sobre os pacientes. Eu não queria voltar para casa, então comecei a andar sem rumo pela região, desejando de alguma forma conseguir saber se a Raven estava bem.
Não sei a partir de que momento comecei a chorar, mas parei de andar quando cheguei em uma pracinha e me encostei em uma mureta.
Ela foi a única pessoa que não teve medo de se aproximar de mim, me tratou como alguém normal e não uma coitadinha. Me fez rir e em pouco tempo já me livrou de problemas e me ajudou indicando a luta. Apesar de ser o trabalho dela, senti que ela fez tudo isso com gosto e não só obrigação. E eu estraguei tudo. Pra variar. Agora se ela resolver se afastar da escola, arrumar um outro emprego ou desistir de ser minha tutora...
Raven: Octavia? - Raven largou sua mochila no chão e correu me abraçar, com somente um dos braços, mas foi o melhor abraço que eu poderia ter recebido. Entre soluços eu tentei dizer que estava tudo bem, mas quando ela insistiu confessei que estava preocupada.
Raven: Quando te vi chorando sozinha aqui, achei que alguém tinha te machucado. - Ela me abraçou de novo.
Octavia: Uau, eu não conhecia esse seu lado carinhoso.
Raven: Uma queda afeta as pessoas.
Octavia: Hmmmmmm. - Brinquei com a ambiguidade da palavra, piscando para ela.
Raven: Pronto, voltou ao normal, já posso voltar para a casa.
O sorriso que eu estava sumiu do meu rosto imediatamente, se ela fosse embora naquele momento, eu poderia não vê-la novamente, nem tinha conseguido perguntar ainda se ela desistiria do trabalho ou se afastaria de mim. No impulso, segurei seu pulso.
Octavia: Não! Espera. - Ela me olhava calma e com atenção. - Você vai voltar para a escola?
Raven: Uhum. É só essa a sua dúvida? - Respirei fundo. Pela primeira vez, estava pensando duas vezes antes de falar, porque eu não queria que ela se afastasse de mim, mas se eu deixasse escapar muito interesse, aí sim ela teria motivos para abandonar a tutoria.
Octavia: É que eu estive pensando, talvez você não devesse contar à diretora sobre o acidente. Sabe, pode prejudicar o seu trabalho, ela pode querer te afastar da tutoria e não tá fácil arrumar emprego atualmente. - Disse num fôlego só, numa tentativa de não deixar que meu coração falasse mais alto e escapasse "Garota estou encantada por você e não vou suportar que você se afaste." ou algo mais constrangedor.
Raven: Hmm... é... bom... como eu posso te dizer isso...? Eu já conversei com a Indra. Ela está na minha lista de emergência como o contato mais próximo, então o hospital comunicou ela do acidente e nos vimos ontem.
Octavia: Ah... - Já estava escurecendo, me virei de costas para ela e enxuguei meu rosto.Raven: A Indra achou melhor que eu trabalhe só na biblioteca durante o período de recuperação do meu braço... sabe, para não prejudicar ou algo do tipo.
Não consegui dizer nada. Eu estava estranhamente muito nervosa e nem olhar para ela eu consegui.
Raven: O? Octavia? - Me virei de frente para Raven.
Octavia: Hum? - Não sei se é prepotência da minha parte, ou se ela também está nervosa e tentando me dizer algo. Neste momento Raven sorriu e chegou mais perto de mim.
Raven: Obrigada por se preocupar comigo, mas agora pode ficar tranquila que eu estou bem. Felizmente quebrei só um braço, e do jeito que sou, até se fosse a perna já estaria de pé. - Nossa! O sorriso dela de tão perto ficava ainda mais lindo. - O que aconteceu ontem foi realmente muito grave, se algo acontecesse com você eu provavelmente seria impedida até de respirar o mesmo ar que você.
Soltamos uma risada triste com a possibilidade e assenti com a cabeça. A dupla Bellamy e Clarke fariam isso mesmo.
Raven: Então, antes de dizer o que estive pensando, preciso que você me diga se estou desculpada pelo o que aconteceu.
Octavia: Tá louca? Foi um A-CI-DEN-TE. Se tem alguém culpado nessa história, esse alguém é o outro motorista que fugiu. Ontem foi o melhor dia que eu tive desde que saí da clínica, na verdade, desde até antes de ter entrado na clínica. - Eu tentei respirar fundo, mas minha cabeça estava girando tanto que cambaleei. Qual foi minha última refeição?
Raven me segurou pela cintura antes que eu caísse e me levou para sentar em um banco próximo.
Raven: Depois do acidente você procurou algum médico? Tá sentindo alguma dor? Octavia, me responde!
Octavia: Aí. Calma. Isso é falta de comida, não tem nada a ver com o acidente.
Raven: MANO. - Até brava ela fica linda, incrível. Okay, foi too much até para mim essa.
Octavia: Então... Que horas mesmo que vamos nos encontrar na biblioteca amanhã?
Raven: Vai ser a primeira vez na sua vida que vai pisar em uma biblioteca, né?
Octavia: Olha o que eu não faço por voc... Ow, vamos comer alguma coisa?
Raven: Que sutil. - Ela então se levantou rindo e saímos da praça.
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E se?
FanfictionAU onde Octavia Blake, recém saída de uma clínica de reabilitação, retorna à rotina de colegial e tem que lidar com a super proteção de seu irmão mais velho, Bellamy.