A Assistente e o Cavaleiro

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— Capítulo 1 – Ártemis —

          Olhos com raio laser, telecinese e braços robóticos: você pode até não acreditar, mas meu maravilhoso patrãozinho tinha um poder muito mais assustador do que todos esses combinados.

          O de se meter em magníficas enrascadas.

          — Ártemis — gritou ele, tapando os ouvidos com tamanha barulheira —, o que é que a gente vai fazer agora?

          — Eu disse que era uma má ideia aceitar esse trabalho, chefe! — berrei de volta.

          Era madrugada e não havia clientes no banco, ainda mais numa situação como essa. Estávamos recostados no balcão da recepção, enquanto os tiros estouravam em nossas costas como milho em frigideira. Eu sempre ficava me perguntando como é que ladrõezinhos de banco eram sempre abatidos tão facilmente nos filmes de super-heróis. Quero dizer, eles só chegavam e batiam neles, como se não fossem nada...

          Esse, com certeza, não era o nosso caso, ainda mais com meu querido chefe me acompanhando. Imagine a seguinte cena: eu, dormindo, com meus chanéis despenteados sobre o travesseiro, roncando feito uma lontra em minha aconchegante e amada caminha, acordo com um estrondo na porta. Tem um maluco mascarado, de capa azul e sobretudo branco, entrando como um tornado. Ele se aproxima, chega até mim, começa a cutucar meu ombro e me solta essa...

          — Ártemis, surgiu um trabalho irrecusável. Uma quadrilha de quinze bandidos explodindo caixas eletrônicos no Banco de Portoleste. O que acha?

          Eu fitei aqueles cintilantes olhos azuis atrás da máscara e retruquei:

          — Eu vou te dizer o que eu acho, chefinho. Acho que são duas da manhã e, nesses horários, menores de idade, como eu, devem ficar na cama, deixando situações perigosas para a polícia resolver. Sem falar no fato de que assaltos a bancos estão extremamente ultrapassados no nosso ramo. E, só pra constar, você acha mesmo que podemos derrotar mais de quinze pessoas perigosas e armadas, sozinhos?

          Não preciso nem dizer o que ele me respondeu, né?

          — Ora, mas isso é óbvio. Vai ser como tirar doce de criança. Você não concorda?

          O que na verdade soava como um tremendo e sonoro: "pegue seu sobretudo branco e me siga, sua assistentezinha nanica de uma figa!".

          E cá estávamos nós, porque ele era esse tipo de pessoa, e eu era daquelas que reclamavam, mas sempre cediam.

          O Cavaleiro Mascarado e sua assistente, a Garota Elétrica — embora eu preferisse "A Rainha Elétrica e seu Cavaleiro Paspalho" —, estarão sempre prontos para o que der e vier, aguardando, nas sombras, pelo pedido de socorro dos cidadãos de bem. O preparo dessa dupla é incrível, e eles ainda não conhecem o conceito de dificuldade na luta contra o crime.

          Ah, quem dera se tudo fosse tão bonito desse jeito.

          Eu olhava para meu amável (e irritante) parceiro em meio àquela confusão toda e me perguntava: espelho, espelho meu, existe um Cavaleiro mais enrolado do que o meu?

          — Tudo bem, Ártemis, nós dois vamos atacar separados, um atrás do outro, rápidos e fatais, como assassinos profissionais.

          Cinco segundos depois, ele voltava atrás...

          — Não, espere! Acho que podemos ir juntos. Afinal, super-heróis, como nós, não podem temer homens como esses.

          — Isso eu já entendi, chefe — gritei, agarrando-o pela gola. — Agora, será que dá pra você decidir de uma vez o que vamos fazer, antes que eu mesma acabe com você?

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