Depois que a construção foi concluída, muitos órfãos foram levados até o majestoso ICS, a superinstituição de caridade idealizada pelo Cavaleiro.
Nem ele, nem Ártemis, nem Rose sabiam, mas, num desses orfanatos, havia uma grande fã da equipe do Cavaleiro, diferente dentre muitas maneiras de todos os seus outros fãs.
Num dos quartinhos charmosos do Orfanato Aya, que ficava numa cidade há quilômetros do centro de Portoleste, lá estava ela, sentada em sua cadeira de rodas com os olhos fixos na televisão, esperando que lhe servissem o almoço. Embora tivesse dezoito anos completos, não parecia e nem agia como tal.
— Biaaaaa, já começou seu programa favorito? — disse a jovem cuidadora, se aproximando com um prato de sopa. Embora estivesse sorrindo quando passou pela porta, por ser uma novata, ela sempre carregava uma expressão carrancuda pouco antes de saber que precisava cuidar da problemática do quarto 507. Talvez aquele orfanato não tivesse condições de abrigar alguém como Bia e pagar um salário decente para seus funcionários ao mesmo tempo, mas alguém tinha que tomar conta da órfã, e aquele era o único orfanato da região com uma ala para "crianças e adolescentes especiais".
Sempre que o time de Natto aparecia nas notícias da televisão, Bia começava a bater palmas, movendo-se na cadeira de rodas de um lado para o outro. Sua pele era muito pálida, os cabelos longos, e o nariz proeminente e pontudo. Seus bonitos olhos castanhos, miúdos e inclinados para baixo, se abriam como largas fendas quando viam as notícias relacionadas ao Cavaleiro, ou a qualquer outro programa do qual gostava. A boca, às vezes, ficava entreaberta para o lado e, por isso, de vez em quando, ela babava no moletom roxo favorito que a Tia Lara, a Dona do orfanato, lhe dera de presente de aniversário. Ela não costumava ganhar muitos presentes depois que se mudara para lá, por isso ficara muito feliz em ganhar um daquela vez.
Bia começou a mexer a cabeça lentamente para os lados quando a cuidadora se aproximou. Seus movimentos não eram tão estapafúrdios, mas suas falas eram um tanto fanhas quando ela fazia sons, pois era uma garota quase não verbal. Apesar disso, era possível entendê-la através de um software auxiliar de falar, ou com muito treino, como no caso dos cuidadores. Claro, as palavras que saíam da boca dela eram apenas formadas na mente de quem escutava, pois, na realidade, os sons não faziam sentido algum.
— Bia... n-não queeer, não quer comeer... Quer ficar assistindo o loirinho e a baixinha.
— Eu sei disso muito bem, mas já acabou o jornal, Bia. Não tem mais nada na televisão sobre o Cavaleiro. Além disso, já, já você vai conhecê-lo. Se comer toda sua comida, você irá conhecê-lo. Quer conhecer o loirinho, não quer, Bia?
Apesar de estar sempre movendo o corpo para os lados e balançando a cabeça como se fizesse que sim, Bia de fato entendera. O Orfanato Aya estava prestes a ser convocado no ICS, e Bia era um dos órfãos a quem Natto prometeu trazer alegria. A cerimônia de abertura do ICS reuniria pessoas de todos os lugares do mundo e teria atrações como o primeiro empunhamento de Rose, a Garota Flamejante, como Arma de Cavaleiro.
A razão de Bia gostar tanto do Cavaleiro era obviamente seu jeito com as palavras e o humor desastrado que ele espalhava em público, assim como seus ideais apaixonantes sobre os quais discursava com louvor. Claro que alguém solitária, pois não havia muitos jovens ali em condições iguais a dela, amaria alguém assim. Não que tudo fosse terrível, pois as crianças, vez ou outra, brincavam com ela a pedido das cuidadoras, ainda que levassem uma vida muito diferente da adolescente; iam à escola e podiam brincar normalmente, enquanto Bia, sem poder se mover da cintura para baixo, precisava se contentar com jogos de tabuleiro e a aprender coisas novas com a ajuda de uma tutora especial.
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Knight's Selection
AventuraKNIGHT'S SELECTION História por Haru Kiyatake Ilustrações por Rafael de Souza Revisão por Kyn Distribuição: My Light Novel - www.mylightnovel.com.br SINOPSE: O jovem Cavaleiro, Natto, super-herói da cidade de Portoleste, tem um utópico objetivo em...