Maria Vitória
Sabe quando uma voz interior te alerta em relação a algo? Diz para não ser precipitada? Muito menos acreditar em contos de fadas? Pois bem, eu sei direitinho e aprendi da pior forma que não devemos ignorar os alertas do nosso subconsciente.
Decidi contar as minhas lembranças para vocês, com todo os detalhes, pois só assim compreenderão os fatos que me trouxeram para o exato momento em que estou e talvez, a partir do aprendizado que minha experiência vai te proporcionar, você aprenda a não acreditar em tudo ou em todos, mesmo que aparentemente bem-intencionados.
Em algum lugar no céu entre o Brasil e o Caribe, já voando perto do norte da Venezuela, perdi a conta de quantas vezes ouvi, vez após outra, a música Chandelier da cantora Sia, focando bem na parte que diz: "eu vou viver como se não houvesse amanhã.", sentindo que essa é a única realidade que eu tenho pela frente.
Seguindo rumo a um futuro caótico, ainda sinto dificuldade em explicar a exata proporção que tudo tomou. Só fico a me lembrar que há vinte dias atrás eu peguei a canetinha e escrevi meu nome naquele documento cheio de cláusulas. Cinco dias exatos após me formar em odontologia pela Universidade Federal da Bahia e pegar o meu CRO.
Focando na parte feliz, realizei o sonho da minha vida, sou uma dentista, algo que sempre almejei e essa sensação de realização é o meu céu. Mas deixa eu contar alguns detalhes para que você não pense como a maioria das pessoas que acham que todos profissionais da minha área são bem-sucedidos financeiramente. Confesso que eu ia amar me encaixar neste seleto grupo e juro que não estou aqui para gerar a discórdia, só que eu vou. Minha realidade é outra.
Ao contrário da maioria dos meus colegas, sempre estudei em colégios públicos, fiz o pré-vestibular do governo, passei na Universidade Federal na segunda tentativa e por sorte, fui presenteada pelo ex-patrão da minha mãe com todos os equipamentos necessários para o meu curso, tamanha não foi sua alegria ao saber que eu tinha passado no vestibular, já que nenhum dos filhos quis seguir a sua carreira.
O Dr. Gonçalo era um cirurgião dentista renomado e também professor lá da Federal. Nossa família tinha uma história de vida, minha avó foi sua babá quando ele ainda era criança e minha mãe trabalhou na sua casa até a sua aposentadoria, ele admirava bastante nossa família e eu o tinha como um tio.
Infelizmente, todo carinho e admiração ficou limitado a ele, pois seus filhos e esposa não me viam com bons olhos. Eu não ficava triste pela circunstância, mas tinha maturidade para compreender e conseguia viver com isso, afinal de contas, nem Deus agradou a todos.
A clínica do Dr. Gonzalo tinha duas vertentes, uma delas focada na burguesia baiana, que era onde eu trabalhava como sua assistente, observando cada passo de cada atendimento que ele fazia, passando os instrumentos, fazendo suas anotações, isso porque eu ainda não tinha o meu CRO, não podia realizar os tratamentos eu mesma fora do programa da universidade.
Sempre fui bastante atenta a cada ensinamento, aprendi a lidar com o medo das crianças, insegurança dos idosos por perceber a fraqueza dos seus dentes e a cada dia ficava mais apaixonada estava por minha escolha, eu realmente tinha nascido para ser uma dentista.
A outra vertente era a clínica escola afiliada a universidade, onde tínhamos os estágios e aulas práticas e aí sim eu podia atender os pacientes sendo monitorada.
Muitos dos meus colegas dedicavam-se somente à universidade, zombavam da minha posição de assistente, mas eu já tinha visto mais tratamentos complexos do que cada um deles tinha aprendido com os livros. Para mim, não havia valor que pudesse pagar o meu aprendizado. Além disso, meu salário de assistente que custeava o material didático do curso e até dava para arcar com o consórcio de um carro, com parcelas baixas e meses a se perderem de vista para pagamento, que milagrosamente fui contemplada no quarto mês.
Dr. Gonzalo, ou melhor, nos últimos anos, Prof. Gonzalo nunca facilitou minha vida na sala de aula, pelo contrário, cobrava muito mais de mim do que dos outros. Mas por outro lado, ele investia no meu conhecimento, até custeava minha participação em seminários. Por isso fui capaz de conviver com minha turma quase de igual para igual. Ele me dizia que não era gasto e sim investimento, acreditava que eu seria a melhor dentista de sua clínica.
A vida estava se ajustando, como em um cronograma divino. Cumpria cada passo e estava feliz com o que tinha conquistado aos vinte e três anos, porém, o mundo deu uma volta radical e tudo mudou sem prévio aviso.
............... Continua ❤
PS- tenho autorização da Liga das Romancistas para postar
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Na mira de Fabrício - DEGUSTAÇÃO
Romance"E se uma assinatura em um contrato virasse sua vida de pernas para o ar?" Vitória mal conseguiu o seu diploma e foi demitida, passando por uma situação difícil, ela se vê diante de uma proposta que pode salvá-la da dificuldade financeira pela qual...