Altos. Capítulo 3; Versículo 1 ao 4.

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Dia 1.

A alguns dias eu tenho dormido muito pouco, afinal de contas esse meu novo emprego exige isso. Não me leve a mal, entenda que não é muito fácil trabalhar em um jornal. Contudo, tem algo na madrugada que me faz sentir seguro, entre cigarros e xícaras de café, o som dos cachorros latindo, dos gatos pulando em telhados e seus miados, tudo isso me faz sentir uma paz inexplicável.
O caso que eu estou trabalhando é algo muito doentio, um homem de 32 anos sequestrou, estuprou e esquartejou uma garota de 14 anos, ele dividiu o corpo dela em cinco partes depois disso, ele foi até uma escola e raptou um garoto de 7 anos, depois de abusá-lo diversas vezes ele abriu a barriga do garoto com uma faca e retirou as vísceras do menino e as enrolou em seu pescoço, também retirou o fígado da criança para comer, porém a polícia foi mais rápida e chegou antes dele saborear sua refeição, afinal, ele mesmo ligou para a polícia momentos antes. Além das fotos me chocarem eu também estive no local, só em pensar no cheiro do fígado totalmente queimado, das vísceras expostas, das partes do corpo da garota espalhadas pela casa completamente pintada com sangue e as embalagens de camisinhas e potes de vaselina pelo chão... me deixam enjoado. Segundo o assassino ele foi obrigado a fazer isso, segundo ele, uma força demoníaca o ordenou. Particularmente eu não acredito nessa história. Olhei para o meu relógio e vi que eram 02:00h da manhã, achei que seria bom eu descansar, afinal eu teria oito dias para entregar a matéria completa, enquanto eu descia as escadas para ir até a cozinha ouvi um barulho estranho vindo do sótão, parecia um arranhão ou algo do tipo. Ao chegar na porta da cozinha, me deparei com dois olhos brilhantes me encarando na escuridão, meu coração bateu tão forte que quase podia senti-lo saindo do meu peito, ao ligar a luz percebi que era apenas um gato, não sei como ele entrou ali, para a sorte dele eu adoro gatos. Peguei uma tigela e coloquei pouco de leite para ele, peguei um copo com água, subi as escadas e fui para o meu quarto dormir um pouco.

Dia 2.

No dia seguinte acordei com uma dor na nuca, acho que devo ter dormido de mal jeito, para a minha surpresa o gato não estava em local algum da casa, e eu com certeza não teria tempo para procurá-lo. Entrei no chuveiro e a água estava quente o suficiente para mim, mais uma vez escutei barulhos vindos do sótão, os arranhões continuavam, certamente era o gato explorando a casa. Depois do banho não deu tempo para comer, pois eu percebi que estava atrasado, ao abrir a porta eis que me deparo com o gato, achei ele um pouco estranho, ele ficou me encarando por uns 10 segundos depois disso ele entrou na casa.
Ao chegar no trabalho eu soube que eu deveria estar em uma reunião naquele exato momento, sai correndo e entrei na sala de forma abrupta e foi inevitável os olhares para mim. Meu chefe me olhou e pediu para eu me sentar, a reunião durou por mais 35 minutos, quando ela acabou meu chefe me chamou para acompanhá-lo até a sala dele, chegando lá, ele me perguntou como estava a matéria e se eu a entregaria dentro do prazo, também me disse que marcou uma exclusiva com o assassino, e eu estava muito empolgado, depois disso ele disse que eu precisava fazer uma ligação para polícia para que eu assista as fitas que foram encontradas com aquele psicopata maluco. Já o meu chefe, bom, seus cabelos quase totalmente grisalhos chegava a brilhar no sol, estava com suas roupas padrão, uma camisa social branca e uma calça cinza.
Pelo resto da manhã e da tarde eu fiquei no trabalho fazendo algumas ligações e escrevendo, quando voltei para casa eu cai no sofá, ainda conseguia ouvir os arranhões no sótão mas não liguei, afinal é apenas o gato, antes de fechar totalmente os olhos e cair em sono profundo, senti algo lambendo meus dedos e ouvi um miado.

Dia 3.

Hoje era o grande dia, eu iria entrevistar o assassino, nada poderia dar errado hoje, quando acordei minha nuca estava coçando, quase pulei de susto quando abri a porta do quarto e vi o gato me olhando, ele era bem grande para um gato de rua, seus pelos totalmente negros eram de arrepiar a espinha. Enquanto eu descia as escadas os barulhos que vinham do sótão começaram a ficar mais altos, agora não era apenas arranhões, também eram batidas. Ao chegar na sala e olhar para o sofá, vi uma série de arranhões nele, também tive a sensação de ter dormido ali, devo ter dormido de fato, as vezes eu sonâmbulava por aí. Eu tinha que me arrumar rápido então fui tomar banho, enquanto a água quente caia sobre a minha nuca eu lembrei de um sonho estranho.
No sonho eu estava andando pela casa e todas as luzes estavam apagadas, a única coisa que eu via eram dois olhos vermelhos na escuridão, algo me fazia crer que aquilo era real. Não demorei muito para me arrumar quando sai do banho, antes de sair de casa percebi que o gato não estava ali, entrei no primeiro táxi que vi e disse para me deixar no manicômio.
Chegando lá me deparei com o Dr. Green que me explicou a situação, ele disse que eu teria 15 minutos com o "paciente", eu pedi para que se fosse possível eu ir até a sala dele para que me explicasse a situação do "paciente" de um ponto de vista mais profissional, ele concordou com isso. Antes de ir tive que passar por uma revista policial, o homem que se encarregou disso tinha algumas tatuagens pelos braços. Depois de passar por um corredor com inúmeras celas com malucos e psicopatas ao estilo O Silêncio dos Inocentes, me deparo com uma cadeira de frente para uma cela, o homem que estava nela, Jacob Weels, estava com a bíblia nas mãos e um crucifixo em seu peito, ao me sentar perguntei o porquê ele tinha feito aquilo, mas a resposta dele era a mesma, dizia que o demônio o obrigou, o cara era mesmo louco, antes de sair ele me disse que eu tinha sido marcado pelo demônio e que eu seria o próximo, também me disse para me livrar "dele", seja lá o que fosse. Depois disso fui até o escritório do Dr. Green, conversamos por 1 hora, logo depois de me despedir encontrei o mesmo policial que me revistou na porta de entrada do manicômio, ele disse que minha tatuagem na nuca era muito legal. Passei o resto do dia na delegacia vendo as fitas que aquele doente gravou.
Ao chegar em casa, depois de um banho fui até o espelho verificar a suposta tatuagem que eu tinha, para minha surpresa, tinha algo ali, uma espécie de triângulo com uma linha no final que era atravessado por um sinal de igualdade, ao ver aquilo olhei para o teto e a luz do banheiro começou a piscar, quando me virei para o espelho novamente vi um ser indescritível de olhos vermelhos, estava do outro lado do corredor me encarando, tranquei a porta do banheiro em um pulo e fiquei paralisado olhando para ela, meu coração estava tão acelerado que era a única coisa que eu conseguia ouvir, minhas mãos tremendo e eu mal conseguia respirar, comecei a ouvir passos, arranhões e batidas vindas do sótão, depois de muito tempo eu apaguei ali mesmo no banheiro.

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