Irmandade

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Quando o táxi deixou Camila em frente ao Screamer’s, a cena do crime fervilhava de atividade. Flashes azuis e brancos partiam dos carros de patrulha que bloqueavam o acesso ao beco. O veículo blindado do esquadrão antibombas havia chegado. O lugar estava repleto de agentes da lei, tanto uniformizados quanto à paisana. E a habitual multidão de curiosos embriagados já se instalara ao redor da cena, fumando e conversando.

Sua experiência como repórter lhe ensinara que um homicídio era um acontecimento social em Caldwell. Isto é, para todos, menos para o homem ou mulher que havia morrido. Para a vítima, imaginava, a morte era um acontecimento bastante solitário, ainda que na hora tivesse diante de si o rosto de seu assassino. Algumas pontes temos de atravessar sozinhos, não importa quem nos empurre até ali.

Camila cobriu a boca com a manga da blusa. O cheiro de metal queimado misturado com um penetrante produto químico invadiu seu nariz.

– Ei, Camila! – um dos policiais acenou chamando-a. – Se quiser olhar de perto, entre no Screamer’s e saia pelos fundos. Há um corredor…

– Na verdade, estou aqui para ver o Jose. Ele está por aqui? – O policial esticou o pescoço, procurando entre a multidão.

– Estava aqui há um minuto. Talvez tenha voltado para a delegacia. Ricky! Você viu o Jose?

Brendon O’Neal parou diante dela, silenciando o outro policial com um olhar duro.

– Ora, se não é uma surpresa…

Camila deu um passo para trás. Brendon era um homem e tanto. Alto, forte, voz grave, cheio de atitude. Supunha que muitas mulheres se sentiriam atraídas por ele, porque não podia negar que, embora rude, tinha um grande charme, mas com Camila isso não funcionava.

Não que os homens não a interessassem, mas ela tinha uma queda maior por mulheres.

– Então, Cabello, o que a traz por aqui? – levou um pedaço de chiclete à boca e amassou o papel formando uma bolinha. Sua mandíbula trabalhava como se estivesse frustrado: não mastigava, parecia apenas pulsar.

– Estou aqui procurando Jose. Não pelo crime.

– Claro que sim – encarou-a com os olhos semicerrados. Com suas sobrancelhas grossas e olhos profundos, parecia sempre um pouco zangado, mas, subitamente, sua expressão se intensificou. – Poderia vir comigo um segundo?

– Eu realmente preciso falar com o Jose… – Segurou-lhe pelo braço com firmeza.

– É só um instante – Brendon a levou para um canto isolado do beco, longe da comoção. – Que diabos aconteceu com seu rosto? – Camila ergueu a mão e cobriu o lábio ferido. Ainda devia estar em choque, porque havia se esquecido. – Repetirei a pergunta – disse. – Que diabos aconteceu com você?

– Eu, ah… – a garganta travou –, estava… – Não ia chorar. Não diante dele. – Preciso ver Jose.

– Não está aqui, então, não poderá contar com ele. Agora fale.

Brendon a segurou pelos dois braços, sem fazer força, pressentindo que ela poderia sair correndo a qualquer momento, porem era bons centímetros mais alto do que ela e definitamente tinha pelo menos uns 20 quilos de músculos a mais.

O medo congelou seu peito como se fosse arrebentá-lo, mas já estava farta de ser constrangida fisicamente aquela noite.

– Solte-me, O’Neal – colocou a palma da mão no peito do homem e o empurrou. Ele se afastou um pouco mais.

– Camila, diga-me…

– Se não me soltar… – encarou-o –, publicarei um artigo sobre suas técnicas de interrogatório. Sabe? As que requerem radiografias e gesso depois que as emprega…

Dark Love [Camren] Onde histórias criam vida. Descubra agora