The Truth

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— Mãe?! — disse incrédula.

Kim olhava assustada para sua mãe, não entendia o porque dela estar ali e também não entendia o porque estava tão assustada.

— O que está fazendo aqui?  Vocês não iriam voltar amanhã pela manhã? — perguntou a menina.

— Decidimos voltar mais cedo porque Albert não passou muito bem hoje pela manhã, com certeza foi o marshmallow em excesso. Mas também voltamos mais cedo porque minha cabeça insistia que você faria alguma besteira estando sozinha, e pelo que posso ver, eu estava certa. — respondeu Peg.

— Mãe, eu... — iniciou Kim.

— Onde você acha que estava indo, Kim? Por favor, não diga que é o que eu estava pensando, porque não é possível que você ainda pretenda voltar lá depois de toda a desgraça que aconteceu. — disse Peg.

— Mãe, eu só estava pegando um ar, poxa. Agora vai me proibir de andar pela vizinhança? — disse Kim.

— Você odeia andar pela vizinhança, Kim. Ainda mais depois de tudo que aconteceu e de todas as desavenças. Agora por favor, entre para casa que iremos conversar. — exigiu Peg.

— Não temos nada para conversar! — dizia Kim andando rapidamente para casa.

— Kim, não fale assim comigo! Você me deve uma explicação, porque estava indo naquela direção? — disse Peg irritada, segurando a menina pelo braço.

— E eu já disse que não temos nada pra conversar. Agora me solte, por favor. — pediu a menina. Peg soltou o braço de Kim e a mesma correu para dentro de casa.

Peg soltou o ar irritada, sabia que a menina escondia um grande segredo e parte dele ela já suspeitava.

— Querida, está tudo bem? — perguntou Bill, carregando as últimas mochilas de dentro do carro.

— Eu estava certa, Bill. Que bom que voltamos mais cedo. — respondeu.

— Você vai falar com ela? — perguntou novamente. — Ainda não entendi o que ela estava fazendo agora, indo em direção à... Você sabe.

— Isso é o que estou tentando descobrir, mas ela não se abre e não quer falar comigo. Acha que foi um gesto totalmente injusto eu tê-la exigido uma explicação. Mas eu vou continuar tentando, ela precisa me contar de uma vez por todas o que está acontecendo. — concluiu Peg. — Mas enfim, Kevin foi até a casa de Albert?
— Sim, eles saíram enquanto você estava discutindo com a Kim. Não se preocupe, já mandei recomendações para a mãe de Albert sobre os marshmallows. — disse Bill depositando um beijo na bochecha de Peg.
— Obrigada, querido. — falou Peg com um sorriso. Bill retribuiu o sorriso e entrou na casa, logo Peg fez o mesmo.
Depois de alguns minutos quando terminaram de arrumar as coisas que usaram no acampamento, a família tratou de almoçar. Kevin acabou almoçando na casa de Albert e passaria a tarde por lá. Peg preparou macarrão, a comida favorita de Kim, mas a menina nem sequer saiu do quarto. Permanecia evitando ao máximo qualquer contato com a família.
Kim estava sentada sobre sua cama, com os joelhos dobrados abraçando os mesmos e aproveitando o aconchego o colchão de água. Porém, sua mente estava um turbilhão de pensamentos.

— Onde eu estava com a cabeça? Ir até lá em plena luz do dia? Não, isso não pode se repetir, se eu quiser ir precisa ser pela noite. Mas quando? — falava sozinha.

Kim permaneceu pensando por mais algum tempo, até que ouviu batidas leves na porta.

— Querida, posso entrar? — perguntou a mãe.

— O que você quer? — disse Kim revirando os olhos. Ainda estava com raiva pelo ato de Peg mais cedo.

— Quero apenas conversar. — respondeu Peg.

— Quantas vezes preciso dizer que não temos nada pra conversar?  — disse rudemente.

— Por favor Kim, abra a porta. Estou pedindo. — disse Peg.

A menina mais uma vez revirou os olhos e bufou revoltada. Levantou-se da cama e andou até a porta, logo abrindo-a em seguida.

— Entra. — disse simplesmente.

Peg soltou um sorriso leve e entrou no quarto,  carregava junto de si um prato de macarrão com um copo de suco.

— Trouxe isso para você, precisa comer. — ofereceu Peg. — É sua comida favorita.

— Deixa aí, não estou com fome. — disse e andou de volta para a cama. Peg largou o prato e o copo sobre a penteadeira, fechando a porta atrás de si.

— Olha, me desculpe meu amor. Acho que eu fui muito impaciente com você. Pode me xingar o quanto quiser, mas não fique sem comer. — pediu Peg sentando-se sobre a cama e segurando a mão da menina.

— Não entendo o porque de tanta raiva, mãe. Eu só estava andando um pouco. — disse a menina.

— E nós duas sabemos que isso não é verdade. — disse Peg com olhar sério. — Mas tudo bem, concordo que foi demais. Porém Kim, eu sei exatamente o que você estava fazendo e sinceramente eu já sabia que isso aconteceria de uma forma ou outra. Sei também que eu lhe disse que você poderia sempre se abrir comigo, quando se sentisse pronta para isso. Mas isso está se tornando torturante, minhas suspeitas me fazem perder o sono durante a noite imaginando se você está na cama ou saiu fugida de casa para ir atrás dele!

— Dele? Ele quem?! — fingiu Kim.

Peg bufou impaciente com o fingimento da filha.

— Ora Kim, você não precisa mentir para mim e nem fingir. Nunca fui rígida demais com você e sempre te dei liberdade para que me falasse qualquer coisa. Você sabe muito bem de quem estou falando, estou falando de Edward. — disse Peg.

— Edward está morto, mãe. — mentiu Kim.

— Será mesmo? — falou Peg com ironia.

Kim revirou os olhos. Não aguentava mais esconder a verdade de todo mundo, muito menos de sua mãe, com quem sempre pôde dividir seus segredos mais sérios. O coração da menina implorava por libertação, para que aquele assunto pudesse ser posto para fora e ela tivesse pelo menos um pouco de alívio.

— Tudo bem, mãe. Eu vou lhe contar, mas preciso que me prometa que isso ficará somente entre nós, ok? — pediu.

Peg pensou por um momento, mas logo cedeu.

— Prometo, Kim. — disse.
— Bom... — iniciou Kim.  — Aquela noite em que tudo aconteceu, depois que Edward fugiu da polícia eu fui encontrá-lo na mansão, eu não me conformava que as coisas acabassem daquela maneira. Quando cheguei por lá encontrei Edward no alto na mansão, sentado em um dos cantos do grande quarto. Tentei conversar com ele mas fomos interrompidos pelo Jim, que de primeira mandou o Edward se afastar de mim ameaçando-o com uma arma. Em seguida ele atirou, mas não acertou em nenhum de nós. Então, depois disso iniciamos uma guerra entre os três, Edward e eu lutando contra Jim, e Jim lutando contra Edward. Tentei protegê-lo o máximo que pude, mas a insistência de Jim em me afastar de Edward a força, fez com que Edward perdesse a paciência e lhe acertasse um golpe de tesoura no abdômen, para me defender. Aquilo foi o suficiente para que houvesse um impulso e então Jim caiu do segundo andar, e o que aconteceu com ele já sabemos. Depois disso, eu não sabia o que fazer. Eu não podia fingir que nada daquilo aconteceu, porque mesmo que eu tentasse eu não poderia negar que Edward matou Jim, e ele jamais poderia viver em paz novamente depois disso. Pelo menos não aqui. Então eu fiz uma coisa que até hoje meu coração dói ao lembrar, eu me despedi dele e forjei sua morte. Convenci todos de que eles haviam se matado lutando, mas a verdade é que Edward está vivo. Agora você já sabe de tudo, mãe. E sim, você estava certa, eu estava indo até ele hoje mais cedo. — terminou Kim.

Peg ouvia tudo atentamente, estava incrédula mas ao mesmo tempo aliviada por Kim ter contado. Agora ela entendia todas as vezes que olhava nos olhos da filha e via algo inacabado, algo que a sufocava e ela nunca conseguia colocar pra fora. Mas agora ela via um pouco de alívio. Um pouco apenas, porque ela sabia muito bem o que faltava mas também sabia que isso não era bom.
— Certo, Kim. Isso foi... Inesperado. Confesso que eu já suspeitava, esse seu olhar não me engana meu amor. Mas, o que você pretendia hoje quando estava indo até lá? — perguntou Peg.

— Eu não sei muito bem, foi algo muito involuntário. Meu último pesadelo que tive sobre esse assunto, aparecia Edward me rejeitando. Dizendo que eu tinha demorado demais, me pedindo desculpas e indo embora. Acho que eu senti angústia e quis voltar atrás. — disse com calma.

— Tudo bem. Mas você sabe que não pode, não é? — disse Peg.

Kim ficou sem expressão por um momento, logo assumindo uma expressão confusa e angustiada.

— Como assim, mãe? — perguntou a menina.

— Kim... Edward cometeu um crime. O que adiantaria você ir até lá? Eu sei que vocês estão apaixonados e sentem falta um do outro, mas,  você não acha que ir até lá seria inútil? — falou Peg.

— Eu ainda estou confusa. Pode explicar melhor o que está querendo dizer? — perguntou Kim.

Peg respirou fundo e começou a falar novamente.

— Meu bem, Edward não pode viver entre nós. Ocorreram muitas desgraças enquanto ele esteve por aqui, não por causa dele, mas por causa da maldade de pessoas como Jim e como as vizinhas daqui. Então, você não acha que seria estressante demais para ele? Eu não sei qual sua real intenção em ir lá, mas se for para trazê-lo, desista Kim. Pode ter sido doloroso, mas acredite, você fez o melhor para ele, para o bem dele. Foi uma péssima ideia eu ter tirado ele de lá aquela época, isso tudo é culpa minha. Sei que seu coração deve doer ao ouvir isso, mas Kim... — deu uma pausa. — Como você mesma disse, ele jamais poderia viver em paz aqui. As pessoas iriam querer tirar satisfações, iriam te colocar contra a parede por você ter mentido sobre a morte dele, ele teria que ser julgado pelo crime que cometeu, entre muitas outras coisas que ele teria que enfrentar. Imagino o quanto você deve amá-lo, mas você fez o melhor. E é melhor que as coisas continuem assim meu amor, pelo próprio bem de vocês dois. — dizia Peg acariciando a mão da filha. Kim por sua vez não conseguiu segurar algumas lágrimas que insistiam em cair. Peg a aconchegou em um abraço, afinal era muito doloroso isso tudo para Kim, porque Peg estava mais do que certa.
Kim sentia seu coração apertado, queria poder voltar no tempo e ter impedido que Jim chegasse até aquele ponto e Edward precisasse ter feito o que fez. Tudo seria melhor, certo? Ela poderia viver com Edward, talvez até em um lugar melhor. Mas agora era impossível voltar no tempo, impossível desfazer o que aconteceu.

— Sabe mãe,  Edward foi uma das melhores coisas que já me aconteceu. As vezes eu me sinto uma idiota por ter me apaixonado assim tão rápido, mas eu sei que aconteceu o mesmo com ele. O olhar dele era tão puro, a mente dele era tão ingênua e sem maldades. Qual a chance de encontrar um ser humano assim?  Edward é único. Isso é uma das coisas que me impedem de esquecê-lo, além do fato de que sou completamente apaixonada por ele. — dizia Kim entre lágrimas.

— Eu sei meu amor,  mas você precisa tentar. Pro seu bem, e pro bem dele também. Quando quiser voltar atrás, lembre do que conversamos. Isso seria desgastante demais para ele e vocês jamais teriam paz. Me perdoe se fui severa demais e me desculpe por tudo. Se não fosse por minha causa, se eu não tivesse tirado ele daquela mansão nada disso estaria acontecendo agora. — disse Peg.

Kim levantou do abraço da mãe e a encarou nos olhos.

— Mãe, não me peça perdão. Isso não é culpa sua, você só tentou mostrar à ele sua vida, e não sabe o quanto te agradeço por isso. Mesmo que seja impossível eu viver com ele, pelo menos eu pude conhecê-lo. E isso, graças a você. — falou Kim logo depois depositando um beijo na testa de Peg.

— Amo você, querida. — disse Peg sorrindo.

— Também te amo, mãe! — falou Kim retribuindo o sorriso.

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