Confused

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O restante da noite de Kim e Edward foi resumida em um verdadeiro caos. O jovem que agora estava mais uma vez sozinho na enorme e obscura mansão, carregava junto de si um embrulho em suas mãos. Já haviam se passado algumas horas, mas sua mente rodava infinitamente em apenas uma questão: o que havia feito de errado?
Planejava há dias um encontro perfeito, cheio de carinho e todo o tempo do mundo para que pudessem desfrutar da presença um do outro. Pretendia entregar à Kim seu presente que havia preparado com todo o amor, demonstrando ainda mais o quanto a amava. Mas agora, seu coração sentia-se como se houvesse recebido milhões de marteladas, estando enfim completamente quebrado.
No fundo não entendia a atitude de Kim. Sabia das desavenças que havia entre ela e Claire, mas sua intenção era pura e só gostaria de poder ajudá-la.
Era uma pena que Kim não pudesse ver isso.

Edward então guardou novamente o embrulho em um canto do armário que havia em seu quarto, o protegendo do pó que havia pelo cômodo. O garoto andou então até a enorme janela de seu quarto, observando as estrelas com calma. Fechou seus olhos e desejou com o todo o coração que Kim recuperasse sua sanidade, em seguida o percebendo acelerar com seus sentimentos. Infelizmente, sabia que nada poderia ser feito. Apenas esperar que Kim mudasse de opinião.

Enquanto isso, Kim ao chegar em casa tratou de fazer o menor barulho possível. Não queria acordar ninguém pois não sabia que satisfação poderia dar.
Antes que fosse para seu quarto, a garota preferiu passar pela cozinha. Estava com sede, havia corrido em uma alta velocidade para chegar em casa. Seu peito subia e descia com rapidez e seus seus sentimentos era uma mistura de raiva com tristeza.
Gostaria de poder voltar atrás e pedir desculpas à Edward, mas ao mesmo tempo isso era o que menos queria.
Kim levou então um copo de água até sua boca, bebendo o líquido rapidamente. Quanto antes terminasse, melhor.

— Kim, está acordada? —perguntou quem ela conhecia muito bem. A menina afogou-se com a água, imediatamente tossindo sem parar devido ao susto. Notou então as luzes se acenderem e sua mãe vir até sua direção, segurando seus braços na tentativa de ajudá-la a se recompor.

— Me desculpe, querida. Não queria lhe assustar. — desculpou-se Peg.

Kim apenas assentiu e continuou a tossir, em seguida dando outro gole da água.

— O que faz acordada, mãe? — perguntou Kim assustada. A menina torcia com todas as forças que a mãe não soubesse de sua fuga, mas era difícil de ter esperança.

— Ora, apenas vim beber um pouco de água. — disse a mulher indo encher seu copo com água.

Kim suspirou fundo aliviada, fechando os olhos em seguida. Sentiu então as mãos da mãe sobre seus braços novamente, estranhando aquilo.

— Querida, você está gelada. Esteve na rua? — perguntou.

Kim travou totalmente ao ouvir as palavras da mãe, não sabia o que responder e apenas agradecia por estar de costas para Peg, assim a mesma não poderia ver seu rosto pálido de susto.

— Bom, eu... Estive... No pátio. — disse gaguejando torcendo para que Peg acreditasse.

A mulher manteve-se em silêncio por torturantes segundos, que significaram um século para Kim.

— Hum, certo. — disse Peg dando de ombros.
Kim não sabia ao certo se Peg havia acreditado, mas torcia que sim. Imediatamente, a menina fingiu um falso bocejo e alegou estar com sono, para que assim pudesse se retirar dali.

— Er... Mãe, acho que vou voltar a dormir. — disse bocejando.

Peg apenas assentiu e depositou um beijo na bochecha da filha.
Kim sorriu e então andou em direção ao seu quarto, entrando no mesmo logo em seguida. Fechou a porta atrás de si e andou até sua  cama, acendendo as luzes do abajur que ficava ao lado de sua cama. Não demorou muito para que deitasse com urgência sobre a mesma, pois apenas queria dormir e esquecer que aquela noite existiu.
A partir daquele momento, seu coração começava então a sentir falta de Edward. Enquanto seu consciente lhe gritava tentando a convencer o quanto o jovem havia sido invasivo, seu coração pedia incontrolavelmente por sua presença.
A menina não sabia mais em quem acreditar, só notou suas lágrimas descerem com rapidez por sua pele pálida. Mesmo que não soubesse qual ouvir, sabia que amava Edward e não queria que tivessem chegado a esse ponto. Mas agora era tarde, certo? Não poderia voltar lá depois de tudo e simplesmente pedir desculpas. Afinal, não estava pronta para isso.
A menina apenas virou-se para o lado do abajur, cobrindo-se com os cobertores e esticando sua mão até o interruptor para desligar as luzes.
Após alguns minutos de muitos pensamentos dolorosos, dormiu com o som de seu nariz fungando e com o toque de suas lágrimas caindo sobre seu rosto.
...
— Você está louca?! — gritou Sidney olhando abismada para Kim. A menina gritou tão alto que foi o suficiente para que a sala inteira voltasse sua atenção para a dupla.
As duas haviam chegado à escola fazia pouco tempo. Após a noite complicada de Kim, foi difícil para que a garota acordasse para mais um dia de curso, o que lhe gerou um breve atraso.

— Senhoritas, posso ajudá-las? — perguntou a professora chamando a atenção da dupla.

Sidney e Kim se entreolharam e então Sidney tomou iniciativa.

— Desculpe, Sra. Green. Não irá se repetir. — desculpou-se Sidney pelo grito.

A professora assentiu e então voltou a cuidar de seus documentos. Sidney então voltou sua atenção para Kim, ficando completamente boquiaberta e esperando uma explicação da amiga.

— Me desculpe, eu não sei o que deu em mim. — pediu, com um olhar confuso.

Sidney suspirou fundo.

— Como assim, Kim? Você nos inscreveu para o time de vôlei! — dizia Sidney tentando segurar o tom da voz. — Não vejo problema em fazer isso, mas poderia ter me consultado antes, certo?

Kim continuava sem entender como havia tomado aquela atitude sem perceber. Poucos minutos antes de entrarem na sala, Sidney e Kim haviam recebido um formulário com questões sobre o time de vôlei e se desejariam participar.

— Me desculpe, Sid. Eu não prestei atenção, pensei que se tratasse de um trabalho qualquer. — tentou explicar.

— Kim, quando alguém recebe um documento em que precisa sua assinatura, esse alguém LÊ O DOCUMENTO. Como você pode ter assinado algo ser ler?! — Sidney perguntava sem entender.

— Sidney, calma. Não é o fim do mundo, e podemos desfazer isso. É só tirarmos nossos nomes do mural e... — disse até ser interrompida.

— Não se trata disso, Kim! Sei que podemos desfazer isso, mas a questão é que você está assinando documentos sem saber do que se trata. Além disso, está envolvendo outras pessoas nisso. Eu sou sua amiga, estou aqui tentando lhe mostrar o quanto isso pode ser grave, mas e fosse um desconhecido? Sabe o que isso poderia lhe causar?! — perguntava Sidney olhando fundo nos olhos de Kim.

A essa altura a garota já se encontrava com as mãos sobre a cabeça e os cotovelos apoiados sobre a mesa. Sabia bem o que estava lhe tirando a atenção, mas agora isso estava indo longe demais. Todos os problemas com Claire e agora Edward só estavam lhe acarretando distrações. Havia assinado um documento sem perceber, pelo fato de estar pensando demais sobre a briga da noite passada. E pior que isso, havia envolvido Sidney nisso.  Sabia também que se tratava apenas de um time de vôlei, mas era grave o fato de ter feito isso sem perceber.

— Eu já não sei o que dizer. Apenas não pensei na hora, estou com a cabeça cheia, me desculpe. — dizia entre as mãos.

Sidney suspirou fundo novamente, agora começando a buscar a calma.

— Tivemos sorte de não ser algo sério. Por favor, preste mais atenção na próxima vez. — pediu a amiga, que em seguida tratou de levantar-se indo em direção à porta. Kim ficou sem entender e então voltou a olhar para a amiga.

— Onde você vai? — perguntou Kim.

— Vou concertar isso. — disse a menina e saiu andando.

Kim suspirou frustrada e jogou-se com força sobre a cadeira. Estava se sentindo culpada por ter chegado à aquele ponto, por conta de seus pensamentos. Eram tantos problemas que a menina já não sabia mais distinguir o motivo certo deles e muito menos como resolvê-los. Apenas pedia que isso passasse logo e tudo voltasse ao normal, mas também sabia que isso não aconteceria.
O incidente do documento só provava que sua distração estava fora do controle, e se isso não mudasse precisaria procurar ajuda.
"E se fosse algo mais sério?! Como pude ter feito isso?!" pensava. Sentia como se já não conseguisse mais controlar sua concentração, pois a mesma estava totalmente inexistente. Precisava imediatamente resolver seus problemas e tira-los da cabeça, antes que algo mais sério acontecesse.

Depois de alguns minutos pensando, Kim notou Sidney voltar para a sala. Não carregava nada sob suas mãos e parecia estar mais calma. A mesma sentou-se novamente ao seu lado.

— E então? — perguntou preocupada.

— Falei com o treinador, ele disse que vai ver o que pode ser feito. — disse simplesmente.

As duas ficaram em silêncio por alguns minutos, até que Kim finalmente quebrasse isso.

— Ainda continuo sem saber o que dizer, me desculpe. Não queria que isso tivesse acontecido. — pediu.

Sidney olhou nos olhos da amiga.

— Já estou mais calma, é só um time de vôlei. Mas ainda estou preocupada com você, não consigo entender o que lhe levou à isso! — disse Sidney virando de frente para a amiga.

Kim suspirou preocupada.

— Não estou muito bem, são só alguns problemas. — falou.

— Quer falar sobre isso? — perguntou Sidney.

Kim pensou por alguns segundos. Era nítido que queria e precisava desabafar com alguém, mas sentia receio por isso. Precisava antes se entender consigo mesma para que pudesse então resolver seus problemas.

— Acho que, preciso pensar sobre tudo primeiro. — explicou.

Sidney assentiu e soltou um sorriso confortante para a amiga. A professora então começou a escrever algo, em seguida explicando sobre o conteúdo também.
As primeiras aulas felizmente passaram com uma rapidez extraordinária, pois era simplesmente impossível Kim se concentrar em algo.

— Atenção, alunos... Tenho um recado. Por motivos de ajustes do cronograma, as aulas serão suspensas por hoje. Nos vemos amanhã, estão liberados. — disse a professora. Em seguida todos começaram a juntar suas coisas e ao mesmo tempo debaterem o quanto aquilo havia sido repentino.
Kim e Sidney trataram de juntar suas coisas também. Não se passavam das onze horas de manhã e todos os alunos deixaram a sala.

— Você quer uma carona? — perguntou Sidney.

Kim pensou por alguns segundos sobre a proposta enquanto andavam pelo corredor.

— Não me leve a mal mas, acho que quero ficar um pouco sozinha. — pediu Kim.

Sidney assentiu.

— Olha Kim, me desculpe se fui muito grossa com você... Eu apenas fiquei preocupada com tudo isso, em relação a tudo. Me desculpe, acho que peguei pesado. — dizia Sidney olhando para a amiga.

— Não foi culpa sua, você só estava me alertando. Não estou brava com você, apenas preciso de um tempo sozinha. — falou Kim.

— Mas... — tentou dizer Sidney.

— Me desculpe, mais uma vez. Nos vemos amanhã, Sid. — disse Kim virando-se e indo rapidamente em direção à saída. A menina saiu com pressa, tentando evitar qualquer tipo de contato com alguém. Queria se afastar o mais rápido possível dali, para que pudesse seguir seu trajeto com calma até sua casa.
A garota passou a andar com mais calma após ter certeza que estava longe do local do curso. Ao entrar em seu bairro, começou a dar passos leves pelas calçadas. Não estava com tanta pressa para chegar em casa, só queria sentir o vento batendo em seus cabelos enquanto dava pequenos passos. Puxava a respiração vagarosamente sentindo o aroma das árvores e de todas as plantas que ali estavam. Ouvia o som dos pássaros cantando e de suas asas batendo, enquanto percebia que nenhum carro passava pelas ruas. Isso lhe acalmava, o fato de poder ouvir a natureza.
Lamentava por tanta coisa naquele momento, era como se tivesse deixado tudo sair do controle. Sentia que não conseguia resolver nada, era como se uma enorme tempestade pairasse sobre sua cabeça e um grande peso sobre seu coração. Gostaria que tudo se resolvesse em um estalar de dedos, mas seria mágico demais. Até mesmo para sua realidade.

Depois de alguns minutos andando pelas calçadas, a menina chegou em casa. Parou pouco antes de entrar na residência, olhando para o final da rua. A mansão dali parecia tão longe, mas ao mesmo tempo sentia seu amor tão perto. Era difícil de entender, mas no momento só esperava que ele estivesse bem. Enquanto isso, lhe acalmava o cheiro que entrava em suas narinas, o que deduzia ser o almoço que Peg preparava. Kim entrou então em sua casa, fechando a porta logo depois e indo em direção à cozinha.

— Olá, mãe. — disse simplesmente. Peg imediatamente levou um susto, mas se recuperou em seguida.

— Olá querida, o que faz em casa? — perguntou em relação ao horário.

— Suspenderam as aulas por questões de cronograma. — disse dando de ombros.

— Oh, tudo bem. Venha querida, o almoço está pronto. — pediu Peg.

— Certo, irei guardar minha mochila. — falou Kim. A menina andou então em direção ao seu quarto, largando por lá sua mochila. Aproveitou também para trocar sua roupa, pondo um vestido confortável.
Decidiu então voltar para a cozinha, onde sentou-se sobre uma cadeira e começaram a almoçar. As duas conversaram coisas sobre o dia a dia, entre elas a constante pergunta: "Michael ligou?" que era respondida por um "Não, lamento".
Ainda era mais um dos problemas de Kim, que sentia que precisava resolver isso imediatamente. Só não entendia o porque do menino estar lhe ignorando.

— Como estava o curso? — perguntou Peg.

— Complicado. — disse simplesmente.

Peg então notou que havia um curativo sobre o cotovelo de Kim, algo que até então não tinha percebido. Provavelmente por Kim ter usado roupas compridas.

— Querida, o que aconteceu com seu braço? — perguntou Peg largando os talheres.

— Ah, não se preocupe mãe. Foi só um incidente no corredor. — disse dando de ombros e voltando a comer. Peg notou que a filha não queria falar sobre isso e então preferiu deixar quieto.
Mais tarde, assim que terminaram de comer, Kim fez questão de cuidar da louça. Enquanto Peg, cuidava de outras tarefas.
Durante a tarde, Kim preferiu permanecer em seu quarto. Não tinha muita vontade de interagir com ninguém e também queria ficar sozinha por um tempo. Porém, por mais que procurasse respostas, continuava apenas vendo sua mente rodar infinitamente em questões sem solução.

Era como se agora seu cérebro fosse uma grande bola de linhas enroladas entre si, mostrando uma enorme confusão.

Edward Scissorhands: A New ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora