Edward Scissorhands: A New Chance

Telling the Truth

— Claire? — disse Kim com a voz trêmula. Claire ficou completamente muda do outro lado, e agora Kim precisaria prosseguir. — Claire, precisamos conversar.

Nada se ouvia na ligação e Kim começava a repensar se essa teria sido a escolha certa. Enquanto isso, do outro lado da linha, a loira tentava se convencer de que aquilo era real. Kim estava lhe ligando? Depois de tudo? Depois de tanto pedir uma nova chance, seu pedido teria sido atendido?

— Acho que devo ter discado o número errado, descul... — tentou concluir Kim.

— Kim! Minha nossa, eu mal posso acreditar! — iniciou com pressa. — Digo, eu não esperava que fosse ligar.

Kim manteve-se em silêncio, mas seu coração estava batendo tão forte que mal conseguia respirar. Finalmente estava fazendo isso.

— Bom, eu... Eu estive pensando, e... — tentava dizer. A menina não conseguia concluir suas palavras, era como se um nó tivesse se formado em sua garganta. Nem em um milhão de anos poderia imaginar que estaria em uma situação tão complicada com aquela que considerava sua melhor amiga no passado. Mesmo depois de muito tempo, era difícil voltar ao que lhe machucou.

— Claire, eu estive pensando e quero... Quero que tenhamos aquela conversa. Claro, se estiver de acordo. — disse soltando as palavras rapidamente, logo depois cerrando seus olhos envergonhada.

Claire sentiu seu coração querer pular para fora. Era ótimo ouvir aquilo. Entendia o lado de Kim e a forma como havia sido desprezada todo esse tempo, e com isso também estava disposta a entender caso a menina não quisesse mais sua amizade. Mas pelo menos, gostaria de resolver isso.

— Kim, eu não posso acreditar... Isso é mesmo sério? — perguntava perplexa. Kim revirou os olhos.

— Estou falando sério. — disse Kim já um pouco sem paciência, pois queria ter essa conversa o quanto antes. — Mas eu entenderei se não quiser, do mesmo jeito que respeitou a minha decisão.

Claire respirou fundo.

— Como você pode achar que não quero? Esqueceu do quanto lhe pedi para que isso acontecesse? Quero resolver isso de uma vez por todas. — respondeu a menina.

Kim suspirou pesado, estava nervosa.

— Certo. Bom, precisamos nos encontrar então, essa conversa precisa ser pessoalmente. O que você acha de vir aqui em minha casa? Eu me sentiria melhor. — sugeriu.

— Eu concordo. Posso ir em alguns minutos. — disse simplesmente.

— Está bem, estarei esperando. Até mais. — respondeu Kim.

— Até mais, Kim. — finalizou Claire.

As duas desligaram seus telefones, da mesma forma que ambas sentiram o nervosismo a flor da pele. Não sabiam distinguir o que sentiam, se era felicidade, medo, ansiedade... Só sabiam que estavam prestes a resolver um grande dilema  e agradeciam por isso.
Kim andou então até o sofá, sentando-se no mesmo em seguida. Respirou fundo tentando buscar a calma, mas a verdade é que nenhum método de respiração no momento poderia acalma-la. Suas pernas estavam inquietas assim como os dedos de suas mãos, que insistiam em bater uns aos outros num movimento sem sentido. Vez ou outra, a menina levantava e passava a andar de um lado para o outro na sala. Não sabia mais onde guardar tanta ansiedade, mal podia acreditar que aquilo finalmente iria acontecer. Era inevitável também que a mesma sentisse uma vontade absurda de sair correndo, desistir da conversa e nunca mais tocar no assunto. Mas sabia que seria covardia, e também queria poder resolver todo esse assunto.
Alguns minutos já haviam passado desde a ligação, mas era como se houvesse passado uma eternidade. Por fim, não demorou muito mais para que a campainha tocasse, e Kim já sabia muito bem quem iria encontrar através da porta.
A menina levantou novamente do sofá, dessa vez com propósito. Andou relutante até a porta, sentindo todos os nervos de seu corpo se contraírem de ansiedade. Assim que chegou até a porta, girou a maçaneta com calma e logo depois revelou a menina de cabelos claros do outro lado. A mesma carregava junto de si um pequeno e tímido sorriso, afinal, por dentro estava feliz por aquilo estar acontecendo. Kim não conseguiu retribuir o sorriso, e ao invés disso, desviou o olhar para a soleira da porta.

— Pode entrar. — disse Kim em seguida, dando passagem para que a menina passasse.
Dentro de alguns segundos as duas se encontravam sentadas no sofá, uma do lado da outra com uma certa distância. Nenhuma delas sabia por onde começar a conversa, mesmo que soubessem que algo deveria ser feito. Então, Kim acabou tomando a iniciativa.

— Bom, acho melhor resolvermos isso logo. — disse olhando para o chão, sendo incapaz de olhar para a menina.

Claire bufou.

— Eu não sei como isso pode ser resolvido se você ao menos consegue olhar em meu rosto. Tem certeza de que realmente está pronta para isso? — perguntou olhando para Kim. A menina finalmente olhou no rosto de Claire, vendo o quão angustiado parecia o mesmo. Não podia ver mas, o seu mostrava a mesma expressão.

— Você tinha me pedido uma chance para explicar sobre o que aconteceu. Vamos, estou lhe dando essa chance. Diga o que tem para dizer. — soltou as palavras rapidamente.

Claire respirou fundo dessa vez, sabia que a única coisa que precisava fazer era ser sincera. Mesmo assim, não era fácil botar para fora.

— Não sei exatamente por onde começar, mas... Acho que posso começar com mais um pedido de desculpas. — deu uma pausa. — Sei que já pedi isso milhares de vezes, e entendo que não queira aceitar. Acredite, vendo no seu ponto de vista eu também ficaria contra mim.

Kim olhava friamente para a menina.

— E qual seria o seu ponto de vista? Já que na sua opinião, o meu está errado. — perguntou Kim com uma expressão séria.

Claire manteve a calma.

— Sinto muito por tudo que aconteceu, quero que saiba disso. Mas, também quero que saiba que não agi por mal, apenas me senti na obrigação de te ajudar. — disse Claire.
Kim franziu o cenho ficando completamente confusa.

— Me ajudar?! Como uma maldade contra uma pessoa inocente poderia me ajudar? Claire, eu definitivamente não entendo, eu... — começou Kim.

— Na época eu não pensava da maneira que eu penso agora, agora vejo que foi algo horrível e que Edward não merecia passar por isso. Mas durante aqueles dias, eu tive algo que me impulsionava a ver tudo de outra forma. Uma forma que para mim, passou então a ser muito concreta. — continuou Claire.

Kim continuava confusa.

— Eu não estou entendo nenhuma palavra que você está dizendo. — disse Kim.

Claire respirou com calma, fechando seus olhos com o ato.

— Eu irei explicar. — falou.

Flashback ON.

— Bill, sabe o que o Edward me contou? Que almoçou com a Jackie hoje. — disse Peg entusiasmada.

— É mesmo? — respondeu Bill.

— Ela redecorou a cozinha toda! — continuou Peg.

— Minha nossa! — disse Bill novamente.

Estavam Peg, Bill, Edward, Kevin, Kim, Claire e Jim reunidos em um jantar na casa da família Boggs. Edward cortava alguns pedaços da carne que estava sob a mesa para os convidados, mesmo recebendo olhares contraditórios, inclusive de  Claire. O jovem corta mais um pedaço da carne, oferecendo para a menina.

— Eu... Eu não posso comer isso, ele pegou com as mãos, eu acho que é anti higiênico. — disse Claire negando o pedaço de carne. Edward então passa adiante e oferece à Kim, que aceita. Porém, o pedaço de carne acaba caindo sob o colo da menina.

— Me desculpe! — pede Edward.

Jim ri pelo nariz.

— Querida, você quer que eu ajude a limpar? — oferece Peg.

Kim retira o pedaço de carne do colo, pondo sob o prato.

— Não, tudo bem mamãe. Eu não vou demorar. — diz levantando-se, enquanto Peg consola Edward.

Ambos continuaram a jantar logo depois que Kim retornou à mesa, mesmo que Edward ainda se sentisse mal pelo ocorrido. O clima não era muito bom, com todos aqueles olhares sobre ele.
Depois de mais algumas horas conversando na sala, Jim e Claire decidiram que era hora de ir embora, pois precisavam todos acordar cedo no dia seguinte. Se despediram de todos e então rumaram para fora da casa acompanhados de Kim.

— Obrigada por terem vindo, pessoal. — disse Kim se despedindo.

Jim a puxou para si, arrancando risos da mesma.

— Eu não ganho mais que isso?! — perguntou.

— Vai pra casa, Jim! — repreendeu Kim, soltando-se dos braços do namorado.

O mesmo soltou a menina logo depois gargalhando.

— Irei deixar Claire em casa, tudo bem? — disse.

Kim assentiu e logo depois depositou um abraço na amiga. Não demorou muito para que os dois se retirassem e Kim voltasse para dentro de casa.
Durante o trajeto até a casa de Claire, Jim comentava diversas coisas com a amiga. Entre elas, o jantar.

— Ora, aquele cara é uma aberração! — disse Jim com maldade.

Claire revirou os olhos.

— Não diga isso. — pediu.

Jim fitou a amiga.

— Porque o defende? Não o conhece. — retrucou Jim.

— Apenas acho que isso não é algo legal para se dizer sobre alguém. — falou por fim.

— Ora, vamos, não me diga que não se sentiu desconfortável com ele em algum momento. — incentivou Jim.

Claire virou o rosto para o amigo.

— Como assim? — perguntou.

Jim riu pelo nariz novamente.

— Não se sente desconfortável com todas aquelas esculturas estranhas ou o modo como ele usa as tesouras para cortar uma carne? —perguntou Jim.

Claire bufou.

— Um pouco, talvez. Me incomodo com algumas coisas, mas isso não é motivo para que eu o considere essas coisas horríveis que você diz. Não o conheço para saber sobre ele. — respondeu Claire.

Jim manteve-se em silêncio por um tempo, até que tornou a falar.

— Eu sim, e posso lhe garantir que não é um bom sujeito. — disse Jim, com um sorriso de canto nos lábios.

Claire voltou a fitar o jovem.

— Do que está falando? — perguntou Claire.
Jim olhava fixamente para a estrada.

— O vi cometer atrocidades, Claire. Ele não presta. Não é uma boa pessoa. — mentiu tentando persuadir a menina.

Claire arregalou os olhos. Ainda tinha uma mente inocente o suficiente para acreditar nas maldades que o amigo dizia.

— Não posso imaginar o que está querendo dizer. — disse, olhando para o nada.

Jim sorriu.

— Acredite... Precisamos agir logo, tira-lo de perto de Kim. — soltou logo. — Quero que me ajude.

Claire olhou para o amigo, completamente convencida pelas mentiras de Jim.
A partir daquele dia, passaram então a planejar algo que pudesse afastar Edward da família Boggs. Claire, mesmo agindo por manipulação de Jim, sentia que algo não se encaixava na forma como o amigo falava de Edward. Ao mesmo tempo que pensava que não seria capaz de cometer algo contra Kim, temia que o jovem pudesse. Assim, acabava acreditando nas diversas mentiras que Jim lhe contava.
Dentro de alguns dias, o plano estava concluído. A prisão de Edward estava feita.
Porém, para Claire algo ainda não se encaixava, e agora sentia que tinha perdido a amizade de Kim para sempre.

— Escute Jim, quero que me diga de uma vez por todas se estava me enganando para conseguir o que queria! — exigiu Claire assim que ficaram sozinhos.

Jim ria com maldade, como se tivesse conquistado a coisa que mais almejava no mundo inteiro.

— É claro que estava, sua boba. — diz.

Claire fica incrédula com a tamanha maldade daquele que costumava chamar de amigo.

— Você está louco?! O que tem na cabeça, incriminar uma pessoa inocente?! Porque fez isso Jim? — perguntou aos gritos.

Jim revirou os olhos.

— Ora, não venha com isso. Você estava lá! — respondeu Jim.

— Porque fui enganada, seu cretino! Não acredito que me enganou em algo tão sério, algo que envolveu a prisão de uma pessoa INOCENTE! — gritou Claire.

Jim olhou para a jovem com os olhos cheios de ira.

— Ele não irá mais atravessar meu caminho. Quero ele longe dela! — dizia com maldade.

Claire estava com seus olhos arregalados, não conseguia acreditar naquilo.

— Não posso deixá-lo na prisão! — disse Claire.

— Você não irá se meter nisso! Não é da sua conta, eu não irei permitir que aquele esquisito entre de novo em minha vida e atrapalhe meu namoro com Kim. Agora, a atenção dela se voltará inteiramente para mim, como nunca deveria ter deixado de ser. — dizia com raiva.

Conforme os dias passaram, Claire tentava buscar contato com a amiga para tentar explicar o que Jim pretendia. Porém, a menina já havia decidido que não queria mais a amizade de nenhum deles.

Flashback OFF.

O rosto de Kim encontrava-se completamente imerso em lágrimas. Não conseguia acreditar no tamanho da maldade de Jim, nas coisas que foi capaz de fazer apenas para manter Edward longe dela. E ainda, como havia sido capaz de persuadir tão bem sua melhor amiga da época, a pondo também contra o amor de sua vida.