Estrela Momentânea

c h a p t e r 1

Aumentei o volume do rádio enquanto a brisa entrava pelas janelas do carro e fazia meus cabelos voarem. Olhava para a cidade enquanto dirigia, mas sem perder a atenção no trânsito. Por não ser fim de semana, o caminho para o Píer estava tranquilo. As ruas estavam consideravelmente vazias; apenas algumas famílias tomavam conta da praça principal da cidade. Era bom demais a sensação de poder andar a mais de  50 km/h pelas ruas de Chicago. Estávamos no final da primavera, mas ainda tinham lindas folhagens coloridas por onde passava. Não muitas, já que a cidade era constituída quase inteiramente por prédios, mas ainda assim me davam um conforto.

Eu tinha acabado de voltar da faculdade, onde estava fazendo o curso de economia. A escolha do curso não foi exatamente a que eu queria; muito menos a própria universidade (Northwestern University). Mas quando se tem pais como os meus, não tem muito a fazer a respeito disso. Independente do que eu fizesse, nada conseguiu tirar essa ideia da cabeça deles, e não é agora que vai sair.

E, com o clima da casa do jeito que estava, o melhor que conseguia fazer era sair. E era exatamente o que estava fazendo.

Estava a caminho do Navy Pier para reencontrar meus melhores amigos do ensino médio. Era um ponto turístico que atraía gente de todos os lugares do mundo, mas não muitos nessa temporada do ano. Era um dos lugares mais bonitos da cidade, principalmente a noite. Então nada melhor que relembrar os velhos tempos de escola por lá.

Estacionei meu carro numa rua vizinha e procurei por meus amigos. Depois de andar um pouco, os encontrei perto da entrada do parque, que presenciava um lindo por de sol de verão fora de época. Lá estavam: Liam aos amassos com Robin (para variar), Matt e Oliver conversando com algumas meninas do parque e Rachel tirando algumas fotos de Chloe. Nada diferente da época do Ensino Médio.

Ver Chloe depois de tudo que aconteceu no final do ensino médio foi diferente. Era estranho olhar para ela e não ter vontade de pegar sua cintura e beijá-la em qualquer lugar, como fazíamos. Nós tínhamos um relacionamento um tanto quanto complicado; mas que dava certo. Pelo menos por um tempo.

Eu era afim dela desde o primeiro ano, e jurei para mim mesmo e para meus amigos que ia conseguir alguma coisa com ela. E quando se andava com os meninos que faziam todas as festas e já ficaram com quase todas as garotas da escola, era fácil de conseguir alguma coisa com meninas, então não seria diferente com a menina mais bonita e desejada por todos. E realmente não foi.

Acabamos formando novos casais e novas amizades: Eu e Chloe ficamos juntos, Rachel ficou com Oliver e Robin, com Liam. As duas eram (e ainda são) melhores amigas da minha ex, o que facilitou o contato. Os únicos que ainda ficaram juntos depois de tudo foram o último casal; o que pensamos que iria durar menos. Por Liam ser uma pessoa super sem-noção e Robin o contrário disso, o provável seria que ela não aguentasse nem uma semana perto dele. Mas o que aconteceu foi que a menina o completou e fez com que ele tomasse jeito e aprendesse como deve tratar uma mulher de verdade. Uma história linda de amor, algo que eu ainda procurava.

Eu era uma pessoa romântica; sempre fui. Mas não com Chloe. Ela não era aquela pessoa que ficava feliz com uma cartinha fofa ou que gostava de encontrar a pessoa apenas para vê-la, sem segundas intenções. Definitivamente não. Acho que usávamos a desculpa de estarmos namorando apenas para que ela tivesse alguém pra dizer que era "dela".  Se chamássemos aquilo de namoro ou não, seria a mesma coisa. Afinal, ela ficava com outros meninos além de mim, e me dava a mesma liberdade. Mas eu nunca fui de ficar com várias ao mesmo tempo, mesmo que pudesse.

Chloe foi minha primeira e única namorada. E também primeira e única vez. Mas apenas ela mesma sabia dessas informações, já que ela me prometeu que não compartilharia meu segredo sem minha própria autorização. Ela podia ser uma sem noção de querer dividir seu corpo com tanta gente diferente; mas uma coisa que ela sempre foi era o fato de ser uma boa ouvinte. E foi bom para nós dois quando finalmente deixamos aquilo apenas como uma amizade, e não um falso relacionamento.

—Ethan! — Chloe foi a primeira a me ver. Correu de onde estava e pulou no meu pescoço, fazendo eu me desequilibrar e quase cair. A apertei de volta enfiando minha cabeça em seus cabelos loiros.

—Olha quem voltou! — Rachel falou e os outros se aproximaram. Depois de cumprimentar a todos, começaram as perguntas.

—Como está a faculdade? É de economia né? — Liam perguntou primeiro.

—Conheceu muita gente? — Foi a vez de Oliver falar.

—Aproveitou sua vida de solteiro?

—Tinha que ser você, Matt. — Rachel se apoiou em seu ombro. Todos nós rimos um pouco.

—Tá, já entendemos que temos muito papo para colocar em dia, mas será que dá pra vocês conversarem no caminho da lanchonete? — Robin disse nos empurrando para o McDonald's.

—Agh, eu comi lanche o ano inteiro, pra mim já chega! Depois vou no Ben Jerry's comprar um sorvete e tá ótimo. — Chloe disse. Não era possível que ela tinha comido tanto lanche e continuava com seu corpo perfeito. Aposto que ela deve ter comido umas quatro vezes e já tinha enjoado.

Comemos e conversamos sobre nossas vidas. Foi bem divertido reencontrar todos eles, e eu me senti em casa de novo.

Eu ainda não tinha tido uma conversa séria com Chloe desde o ocorrido na formatura. Ainda me lembro de algumas coisas, mas não sabia se podia afirmar se eram memórias ou apenas delírios. O que podia assegurar era que a taxa de álcool no meu sangue não se manteve no limite e tinha me feito dizer e agir de forma ridícula, a ponto de fazer a menina me levar à força para sua casa (até porque, se ela me levasse para minha casa, a situação seria bem pior). E o que aconteceu após isso foi como a situação acabou.

E ali estávamos nós de novo, depois de um término dramático digno de novela.

Quando Chloe se levantou da mesa para ir à sorveteria, me ofereci para ir junto e ela aceitou com um leve receio. Sei que ela se sente mal por ter me dado um pé na bunda enquanto estava em estado "frágil", mas a culpa era minha e eu reconhecia. Só queria pedir desculpas e tentar viver sem pensar na culpa sempre.

—Como estão as coisas na sua casa? — Ela disse quebrando o silêncio entre nós.

—Não cheguei a encontrar meus pais quando cheguei. Liguei para eles antes de vir, mas tudo que recebi foi um "voltamos amanhã de NY". — Chloe era a única que sabia de todos os detalhes da minha vida, incluindo a situação com meus pais.

Mais uma vez, silêncio. Nós dois tentamos quebrá-lo dessa vez, o que nos deixou levemente confusos. Eu a deixei que falasse primeiro.

—Ethan, eu realmente gosto da amizade que sempre tivemos, independente do nosso "namoro". Se é que posso chamar assim...

—Chloe, desculpa de verdade. Também amo essa nossa amizade, e entendo que fui um babaca com você e com todos naquele dia.

—Eu sei, mas a culpa não era toda sua. Agora eu entendo o quanto eu estraguei suas primeiras oportunidades, e desvalorizei alguém tão incrível como você. Eu deveria ter percebido antes que isso não estava funcionando como um relacionamento, mas fiz nós dois empurrarmos o namoro com a barriga.

Naquele ponto da conversa, já estávamos na fila para fazer o pedido. Chegamos no balcão e ela pediu o sorvete de morango com leite condensado de sempre, enquanto eu escolhi o clássico pistache.

—Você ainda toma isso? Como você consegue?

—É bom, fazer o quê?! — Eu disse e nós rimos enquanto andávamos até a fila para retirarmos as casquinhas. — Mas agora, falando sério, eu entendo. Acho que nós dois temos parte da culpa de como acabou, mas as coisas podem ser como deveriam ser agora.

—Até porque nossa amizade funciona bem melhor sem rótulos, né?! — Chloe disse, e logo depois nossos sorvetes chegaram. — Então... Só amigos?

Ao invés de apertar sua mão que acabara de estender, peguei um pouco do meu sorvete e passei na ponta de seu nariz. Nós rimos novamente e conversamos no caminho de volta ao grupo.

Finalmente me sentia aliviado e com menos peso no coração. A amizade de Chloe era algo que eu realmente não queria ter perdido, e agora não precisava mais me preocupar com aquilo tudo.