c h a p t e r 5

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ALGUNS DIAS ANTES...

*POV Lia*

Ok, aquilo não podia estar acontecendo.

De todas as pessoas que eu não tenho contato, a última que eu queria que viesse a tona na minha vida era meu pai.

Mas parece que eu não tenho escolha.

Estendi minha canga ao lado da de Jane na grama do Island Park, ficando de frente para o River Lake. Já tinha ido tantas vezes àquele lugar que sentia como se fosse meu refúgio.

–E aí, como foi lá? - Jane disse me oferecendo um pacote de chips que tinha em sua mão.

–Péssimo. Eu acho que vou ter que morar com ele. Você tem ideia de quanto eu ODEIO Chicago?

–Espera, rebobina. Você vai MORAR com ele?! Sem chances! Vai me deixar sozinha no último ano da escola?

Jane era minha melhor amiga desde que eu me entendo por gente. Nossas mães eram melhores amigas, e fizeram questão de que fôssemos também. Não que tenha sido um sacrifício; por mais que sejamos pessoas completamente diferentes uma da outra, nós não conseguíamos ficar muito tempo sem contato.

Mas, desde que sua mãe faleceu aos nossos 15 anos, muita coisa mudou. Ela morava com o irmão mais velho, Parker, que na época já tinha 18 anos, mas quando ele saiu para a faculdade no ano anterior quem ficou sob sua custódia tinha sido sua tia, que não era da pessoas mais fácil de lidar. Agora que estávamos no último ano da escola, não podíamos sair direito. "Seu futuro depende do Ensino Médio", ela diz para Jane quase sempre.

–Espero que não por longa data. Sério, o que seria de mim, uma formiguinha, naquela cidade enorme e cheia de gente?

–Não tem como isso acontecer. Nós vamos dar um jeito de você ficar aqui. - Jane era dona dos pensamentos mais mirabolantes do mundo, então não tinha dúvidas disso. Só não sei se daria certo.

Eu não consigo olhar na cara do meu pai e não lembrar das coisas que ele fez com minha mãe. Ele não era uma pessoa ruim, penso eu, mas já fez muita merda na vida. Principalmente, falhou na missão de pai e marido.

Nós morávamos juntos ali em Geneva, uma cidade pequena de Illinois, numa casa bem pequenininha. Ainda lembro de alguns poucos momentos que tivemos em família. Lembro também de ele sempre saindo durante os dias de semana para estudar, já que estava numa faculdade e trabalhava ao mesmo tempo. Meus pais me tiveram bem cedo, então foi um caminho meio complicado a se seguir. Enquanto meu pai estudava, minha mãe cuidava de mim - tinha sido mãe aos 17 anos, não terminou o Ensino Médio para cuidar de mim e era sustentada pelo meu pai.

Até que, aos meus 7 anos, meu pai jogou tudo que construiu em casa fora. Além de não voltar para casa aos fins de semana e passar dias sem entrar em contato com minha mãe, ele começou a sair de nossas vidas aos poucos. Quando ia para casa, colocava cada vez mais coisas numa bolsa para levar ao seu apartamento perto da universidade. E, um dia, ele voltou. Dizendo que cansou de viver ao lado da mamãe e que já tinha encontrado uma família de verdade para ele em outro lugar. Eu estava na escada, escutando tudo, e de repente ele saiu. Sem se despedir de mim.

Foi um choque. Ao ver minha mãe se debulhando em lágrimas, não aguentei e fui chorar com ela. De repente, uma pessoa que eu amava e admirava tanto saiu sem mais nem menos da minha vida.

A partir dali, nossa relação mãe e filha (que já era incrível) fortaleceu ainda mais: Ela começou a trabalhar em uma loja enquanto eu estudava, e quando precisava eu ficava na casa de Jane. Todo o fim de semana nós planejávamos algo entre nós duas, nem que fosse um piquenique no quintal. Agora, ela trabalha vendendo desenhos e pinturas; ela sempre amou a arte. E a nossa vida tocou assim, sem nenhum homem por perto. E acho que não poderia ter sido melhor.

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⏰ Última atualização: Feb 22, 2021 ⏰

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