— Alô?
— Srt.Murta? — Uma voz meio que familiar responde na linha.
— Pois, não?
— Sou eu, a Juliana, assistente do seu pai.
— O que você quer Juliana? Não foi muito esperta ao me acordar nesse horário, deveria amar a vida! E não querer acabar com ela logo de manha — Respondo mais que depressa — Mas você poderia ir direto ao ponto?
— Com certeza Carolina, o seu pai está internado e em coma — Ela diz sem rodeios — Foi hoje de manha, por voltas das 08h, um carro desgovernado bateu contra o seu.
— Você não tem coração Juliana? Dá uma notícia dessas assim? Mas como?
— Se acalme essa notícia pegou todos de surpresa, tudo está sendo investigado, porém, você precisa assinar alguns papeis no hospital da cidade.
— Está bem e obrigada Juliana — Fungo e retomo o fôlego.
@LigaçãoOFF
Desliguei a ligação, minha cabeça rodava, meus olhos estavam encharcados. Apanhei minha bolsa e um casaco em cima da mesinha de centro da sala, estava de pijama, não iria gastar meu tempo me preparando pra ver meu pai inerte em uma maca de hospital. Cheguei ao hospital 20 minutos depois, passei pela secretaria que logo me mediu da cabeça aos pés.
— Bom Dia, em que posso ajuda-la?
— Até que enfim Carol — Olhei na direção da voz, era o advogado do meu pai, o Dr. Lopes — Já estava preocupado.
— Onde está o meu pai Francisco? Corri em sua direção e o abracei, Francisco sempre foi um grande amigo do meu pai e de longa data; sempre quando meu paizinho estava ausente eu podia contar com ele, que mesmo passando por um divórcio turbulento e duas filhas bem mimadas ele continuava um amor de pessoa.
— Calma Cacau, tudo vai ficar bem... — Obrigada — Funguei ainda no seu ombro, chorando como uma garotinha de seis anos — Ele pode receber visitas?
— Shiu, shiu... Se acalme, venha comigo.
Ele me puxou pelo braço e me guiou em um corredor largo e comprido cheio de portas azuis, eu caminhava, mas não sentia minhas pernas, eu observava o local, não ousei em pensar, só caminhar para onde quer que ele me leve, a possibilidade de perder meu pai me deixava com um vazio enorme.
*****
Hoje estava fazendo um mês que ele se foi, meu amado pai não estava mais comigo, infelizmente não aguentou a cirurgia e as suas complicações, sou filha única, a minha mãe já havia partido no meu parto, não cheguei a conhecê-la, apenas pelo olhar do meu pai quando falava sobre ela, eu sabia que era uma pessoa de luz... Por ora era eu e a Fallon, a minha maravilhosa gatinha.
As investigações a cerca do acidente que envolveu o meu pai, só revelou que foi um ato imprudente de um adolescente, que estaria agora recebendo auxilio em um abrigo para menores.
Eu já não dormia mais, seriados (quais nunca fui fã) virou rotina, minhas olheiras estavam se destacando no meu rosto moreno, ultima vez que sai de casa foi quando precisava jogar o lixo, se não o apartamento ficaria impossível de respirar, meu estoque de macarrão instantâneo já estava acabando, infelizmente teria que ver a sociedade lá em baixo, estava agora em Minas Gerais, não conseguia ficar no meu apartamento ou mesmo na cidade onde meu pai morava. O ar das ruas tinha o cheiro dele, não que o meu pai cheirava a poluição, mas o cheiro dele que se impregnou na cidade toda, sei que isso e psicológico, mas fazer o que não é mesmo?
Minha campainha toca. Ninguém sabe onde eu estou. Puxo um roupão no criado ao lado da cama, me arrastando vou até à porta, com um pouco de receio, olho no olho mágico, uma parte de mim, sabia que era ele, a campainha tocava insistentemente, abri a porta numa lentidão de dar sono, encostei-me ao batente e fiquei encarando os grandes olhos acinzentados do Dr. Lopes. Naquela pequena troca de olhares, vi o semblante de Francisco mudar diversas vezes, primeiro foi alivio; depois uma espécie de nojo, susto, e finalmente raiva, isso mesmo, e se eu vivi ate hoje era apenas para ver ele com raiva, sempre calmo e tranquilo, tinha uma boa lábia, me assustei, dei dois passos pra trás, sabia o que viria. Convenhamos que uma mulher de 22 anos sumir durante um mês foi uma atitude meio que imatura.
— Carolina? — Dei de ombros e entrei, queria mostrar indiferença, mas na verdade, estava com medo, senti seus passos atrás de mim — E por Deus, que cheiro horrível é esse?
— Acalme - se Francisco Lopes eu estou bem, não estou? — Ele me avaliou da cabeça aos pés — Não responda! — Rosnei.
— Porque não atende meus telefonemas? Ligo e só cai na caixa postal.
— O meu celular ficou em São Paulo — Minto, na verdade e que desliguei e enfiei-o no meio daquela bagunça — Me desculpe, mas estava precisando descansar, como me achou aqui?
— Isso não importa, só digo que da próxima pense em comprar coisas em dinheiro vivo e não no cartão da empresa — Bom, isso explica muito as coisas, ele se sentou no pequeno sofá e eu ocupei o outro. — Estamos a semanas tentando conversar com você, te mandamos e-mail, entramos em contato com suas amigas e nada de você Cacau, não sabemos mais o que fazer, você tem uma empresa a governar... Ou melhor, tinha.
— Como assim? — Reparei nesse momento no olhar de Francisco, sempre tão sereno, um rosto sempre calmo e agora um semblante cansado.
— Passaram a perna em você, seu pai passou. —Agora nem o sofá servia de base, deite-me sobre ele, com uma mão na cabeça e outra na boca, só posso estar sonhando.
— E eu como advogado não tenho como fazer nada, é assinatura de seu pai que consta nos documentos, tudo está na lei.
— O que você esta falando?
— CAROLINA, você perdeu a empresa.
— Mas como? Eu não fiz nada!
— Exatamente, esse seu fazer nada é que deixou seu pai furioso, no testamento que ele fez você só assume a empresa quando um dos acionistas quiser. E adivinhe, não quer!
Comecei a rir, seu Francisco acreditava que me fazia medo, olhei pra ele e seu olhar era de preocupação, nada de humor, vi que era sério. Depois do que me pareceram horas, comecei a falar ainda deitada.— O que eu vou fazer?
— Trabalhar, simples.
— Eu trabalhar? Por favor, né Francisco.
— De qualquer forma, você terá que voltar a São Paulo, tenho uns amigos que podem te ajudar, trate de fazer seu currículo e distribua nas empresas, seu sobrenome pesa bastante.
— Eu não vou voltar, não agora — Me levantei e Francisco também se colocou de pé.
— Você Carolina ira voltar sim, por mais que isso tudo te magoe e doa muito, você tem que continuar sua vida, o Carlos jamais queria te ver nessa situação, deixe de ser mimada, arrume um emprego, esteja pronta amanha às 8h em ponto que venho te buscar — Ele me disse isso, e eu me senti como se eu fosse atingida por um balde gelado.
E ele simplesmente saiu, me deixando plantada na sala.
A perda do meu pai começou a me fazer questionar e a aprender o valor do tempo. O que não fizemos juntos, as visitas e os gestos adiados, as palavras que não foram ditas, a compreensão não exercida, e entre tantas outras coisas.
E eu sei de verdade, que ele nunca iria querer me ver assim. Tenho que acordar para a vida e voltar a vive — la.
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O Meu Quase Tutor
RomanceCarol se vê perdida quando o seu pai morre em um acidente de trânsito, com pouca experiência, pouca sanidade e uma gata para cuidar a sua solução é a ajuda de um grande amigo de seu pai, que apresenta riscos e mistérios.... *** - Era para eu te ajud...