CAPÍTULO 1

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2031

- Ah mãe, o que tem a senhora contar? - Minha filha que já atingirá a pré-adolescência resmunga sentada em um dos bancos da mesa ilha na cozinha.

- Por que tanto interesse nessa história? - Pergunto colocando as luvas e abrindo o forno para retirar o bolo.

- Vai mãe, conta por favor. - Ela começa a suplicar. - Já sei! - Ela fala animada. - Se contar eu faço o recheio do bolo.

- Certo então. - Me encostei no balcão e comecei a contar. - Bom, tudo começou dessa forma...

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2015

- Oi papai, hoje eu trouxe rosas, sei que o senhor sempre preferia elas já que quando comprava pra mamãe nunca comprava uma outra espécie. - Sorri fracamente. - Hoje faz oito meses que o senhor se foi, e acredite, faz muita falta aqui. - Coloquei as rosas em cima do seu túmulo e me sentei ao lado no gramado encostando a minha cabeça na pequena parede do seu túmulo. - Mamãe não pôde vim hoje, para ela ainda é difícil, pra mim também, óbvio, mas é que o senhor aqui estava sofrendo tanto, que eu acredito fortemente que agora deve está em um bom lugar finalmente em paz.

Fiquei algum tempo em silêncio fazendo uma oração, agradecendo por tudo e pedindo muita paz pra meu pai.

- Falta pouco pra eu finalmente me formar! - Vibrei. - Estou tão ansiosa.

Um vento forte passou, balançando meus fios de cabelo soltos do rabo de cavalo e arrastando uma folha seca que estava no túmulo ao lado que voou e bateu em mim e caiu no chão, depois voltou a voar rolando ao chão subindo no ar e em seguida descendo ao chão, fazendo o mesmo procedimento até cessar aquela brisa forte.

Olhei para o túmulo e não havia flores, nem mesmo flores secas, nada. Um aperto me deu no coração.
Por que tão vazio? Será que quem estava ali tinha família?

- Olha papai, o senhor não se importa de eu pegar uma rosa desse seu buquê e colocar no seu vizinho né? Estou angustiada por ver que ele não tem ninguém. - Pego uma rosa e me levanto, dou pequenos passos e coloco uma rosa solitária em seu túmulo, olho para a lápide e estava escrito

Mário Augusto Souza
18/07/1984- 25/12/2014

Não havia dedicatória, somente o ano, 30 anos. Se foi tão novo, passei a ponta de meus dedos delicadamente no nome e ano e me afastei em seguida voltando a olhar pro túmulo de meu pai.

- Bom papai, já vou indo, está começando a escurecer e eu tenho que ir pra faculdade, te amo, até próxima semana.

Falo e ajeito o buquê colocando bem perto da lápide que tinha uma dedicatória, faço uma oração rápida do pai nosso e me retiro do cemitério.
Caminho até a faculdade que era próxima dali.

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Chego em casa tarde e cansada, minha mãe estava sentada na mesa com uma xícara de café.

- Boa noite. - Coloco minha bolsa no sofá e sigo sentando ao lado dela na cozinha. - Beber café a uma hora dessa vai te fazer mal. - Analisei seu rosto e seu nariz estava levemente rosado, suspirei passando meu braço por seus ombros e a abraçando de lado, ela repousou sua cabeça encostando em meu ombro e eu beijei sua testa e acariciei seu cabelo.

- Você foi lá hoje? - Sua voz estava arrastada e baixa e um pouco rouca.

- Sim, mãe. - Tentei criar coragem para falar, suspirei e falei. - Imagina se ele ainda está aqui, mas daquele jeito. - Ela fecha os olhos forte e uma lágrima escorre. - Ele estava entubado, sentindo tanta dor. Não acha que foi melhor? Agora ele está em um lugar melhor, sem sentir dor e em paz. - Ela balançou a cabeça e limpou suas lágrimas. - Sei como dói, doi em mim também. - Falo olhando agora em seus olhos. - Mas seria egoísmo querer ele aqui sabendo que estava sofrendo muito.

Vizinho de túmulo [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora