CAPÍTULO 3

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2016

Quase dois anos que ele se foi, eu já estava formada já exercia minha profissão e minha rotina de visitar meu pai permaneceu, bom, não levava mais tantas flores como antes, comecei a economizar para enfim poder me mudar e levar minha mãe junto. Ela finalmente conseguiu superar e entender como era o processo da vida, claro que ainda dói, claro que ainda faz muita falta, e ninguém imagina o quanto...

Hoje é quarta-feira, o dia em que eu o visitava, o alaranjado já tomava o espaço do azul bebê no céu, mostrando que iria começar a anoitecer, eu segurava três rosas. Ao chegar perto do seu túmulo depositei uma rosa no tumulo do Mario.

- Olá Mario, espero que você esteja em paz. - Falei olhando pro túmulo.

Depositei as outras duas rosas no túmulo de meu pai e então conversei com ele.

- Oi papai, já faz um mês que a mamãe voltou a trabalhar, ela está mais feliz depois que voltou a trabalhar, teve um dia que ela chegou até um pouco mais tarde em casa por que parou pra ir em uma sorveteria com as colegas do trabalho dela. - Sorri lembrando. - Ela me contando o motivo de ter se atrasado toda atrapalhada achando que eu não iria gostar da sua atitude. - Olhei para um casal que passava, a mulher segurava algumas flores e o homem depositava seu braço direito sobre o ombro dela. - Nossa pai, eu escutei sua voz em minha mente perguntando que dia eu iria finalmente arranjar um namorado. - Sorri lembrando. - Uma hora eu arranjo, prometo, o senhor sabe que do jeito que sou vou conhecê-lo da forma mais imprevisível.

Conversei mais um pouco com ele, fiz minha oração, limpei a folha seca que caiu em seu túmulo. Me despedi de meu pai e parei ao lado do túmulo de Mario e dei um simples "Tchau".

É confuso eu sei, eu continuar dando flores ao vizinho do túmulo de meu pai, eu sinto como se eu o conhecesse. De fato eu não o conheci.

####

Estacionei o carro e desci entrando na cafeteria, sentei numa mesa perto de duas mulheres que conversavam, puxei meu notebook depositei na mesa e apertei um botão para liga-lo. Coloquei meu cotovelo na mesa e apoiei meu queixo na mão.

- Eu sei, foi um erro. - Uma das mulheres em minha frente choraminga.

- Um terrível erro, mesmo você conversando com ele a distância você deveria ter procurado o conhecer. - Ela falou e isso tomou minha atenção para sua conversa.

- E você acha que eu não tentei conhecê-lo? Eu tentei, não tenho culpa se ele mentiu. - Ela responde logo rebatendo a acusação da amiga.

- Mas vai, foi cômico, você se apaixonou por um cara que usava o perfil de um homem que já morreu. - Após ela falar caiu na gargalhada e sua amiga ficou irritada.

- Para de graça, poxa, não tenho culpa se senti atração para um cara que morreu. - Ela fala e ri. - Isso soa tão pesado, eu me odeio por não ter procurado o conhecer antes.

E então eu congelo, um ano que eu levo flores para o Mario, um ano que não vejo nenhuma flor ou alguém o visitando, eu nunca nem procurei saber realmente quem ele é, nem nada. Eu estava levando flores pra um desconhecido.

Coloquei a senha no notebook e esperei carregar, abri uma página do navegador e digitei seu nome MARIO AUGUSTO SOUZA, a internet da cafetaria era muito lenta, uma garçonete chega a meu lado e eu a olho tirando a atenção da tela.

- Bom dia. - Ela sorri, segurando o bloquinho em sua mão ela pergunta. - Gostaria de fazer o pedido?

- Vou querer um café com leite e um croissant. - Sorri a respondendo, ela assentiu e se retirou.

Voltei meu olhar para a tela do notebook e fico abismada ao ler o que acompanhava seu nome nas pesquisas.

Vizinho de túmulo [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora