- Prólogo - Cor.

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cor (ô) sf.

1. Sensação que a luz provoca no órgão de visão humana, e que depende, primordialmente, do comprimento de onda das radiações. [Contrapõe-se ao branco, e ao preto, que é a ausência de cor.]

2. Qualquer cor, exceto o branco, o preto, e o cinzento.

3. V. coloração.

4. Qualquer matéria corante.

5. O colorido da pele, especialmente das faces.

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27 de março.

Havia balões. Uma mesa de doces e um palhaço contratado para animar a festa. Os seus amigos também estavam ali, corriam e gritavam por todo o jardim.

Ela se sentia curiosa quanto aquela interação estranha na casa ao lado. Nunca havia tido uma em seu próprio jardim.

É de fato que ela sabia que naquele dia ela completava quinze anos de vida, mas também sabia que sua família não comemorava aniversários

Nunca havia recebido presentes, ou parabéns, e nem mesmo uma festa como a que acontecia na casa ao lado.

Sua mãe carregava o bebê nos braços, sua irmã mais nova, na qual Lalisa era proibida de ter contato. Os pais de Lisa diziam que ela era uma maldição, um castigo de Deus por seus pecados. A pequena tailandesa não entendia muito bem, ela não era muito diferente de seu irmão mais velho, Sunan.

Ambos tinham a mesma estatura, porém Lalisa aparentava ser menor por causa de seu peso relativamente baixo da média. Ela não comia muitas vezes ao dia, apenas um desjejum e uma janta, eram tudo que ela recebia para se manter.

Sunan era bonito, forte, com um cabelo bonito e olhos brilhantes. Lalisa era o oposto, de aparência tão fraca e quebradiça, cabelo escorrido e sujo, pois ela também não tinha banhos com muita frequência, e os seus olhos não tinham vida.

Os pais de Lalisa tinham boas condições, moravam em um bairro de classe média e transpareciam uma família cristã normal.

Tanto Sunan quanto Lisa frequentavam o colégio, Sunan apenas uma classe à frente de Lalisa.

Todos os domingos iam à igreja, se ajoelhavam e rezavam.

Lalisa não gostava da igreja.

Lalisa não gostava de rezar.

E principalmente.

Lalisa não gostava do padre e das tantas horas que ela era mantida em uma pequena sala com ele, para "pagar seus pecados".

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A mãe de Lalisa ainda carregava o bebê pela sala, cantava uma canção bonita, que Lisa particularmente havia apreciado.

A pequena tailandesa não via cores.

Ela enxergava os traços, como se tudo fosse um grande desenho em uma folha em branco.

Ela sabia diferenciar o preto do branco, porque eram apenas as duas coisas que ela tinha.

De fato, ela não era a única ser assim.

Uma boa parte dos seres humanos nasciam assim.

As cores só se mostravam para os puros de coração, para os que encontram sua razão. Seu amor verdadeiro. A metade da sua alma que estava com suas cores.

Lalisa estava sem suas cores, mas ela também carregava algo do seu amor consigo.

O pecado de Lisa era ter nascido com o nome do seu amor no lado esquerdo de seu peito. Uma marca de nascença.

Cores. | LSM + KJN ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora