1. Desvanecer sem estrelas

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O sol na beirada do mundo despontava sua luz dourada por toda a extensão do horizonte, refletindo nas lentes dos óculos da garota desavisada. Perdida em seus devaneios, só percebeu que haviam chegado quando sua mãe a despertou com um singelo tapinha nas costas. Anne puxou lentamente os fones de ouvido e então abriu os olhos para o mundo novamente. Os olhos absorveram toda a proporção da enorme casa que jazia a sua frente e pelo reflexo da janela viu-se um pequeno sorriso no canto da boca. A garota abriu a porta do carro, se esticou, arrumou a franja em seu rosto, bocejou e então finamente falou:

- Tô com fome. - Mas sua mãe pareceu não ter ouvido e muito menos seu pai. 

Eles estavam demasiadamente fascinados pela arquitetura francesa e seus métodos clássicos de construírem suas casas. Enquanto Anne estava maravilhada com a ideia de cravar seus dentes num pedaço gorduroso de pizza.

- Vão ficar olhando a casa até quando? Parece que estão olhando para uma vitrine de shopping. Essa casa é de vocês, podem tocar se quiserem. - Complementou com uma risadinha.

- Você tem sempre que ser estraga-prazeres desse jeito? - indagou sua mãe enquanto balançava o chaveiro da casa. 

- Tome. Seu pai e eu vamos dar uma olhada no jardim antes. - sem cerimônias, jogou as chaves para Anne que as agarrou ainda no ar.

Enquanto seus pais se dirigiam até o jardim, Anne foi até a porta, abriu e entrou com o pé direito; como havia ensaiado. Estava crente de que uma vida nova estava começando, um novo recomeço e queria fazer tudo direito dessa vez. "A casa era tão bonita por fora quanto por dentro, iluminado, arejado, clássico"- como dizia seus pais. 

Já estava toda mobiliada, com exceção de suas roupas e principalmente de sua coleção de livros. A casa consistia em uma cozinha grande, dois banheiros, três quartos, uma sala de estar e uma sala de jantar, e um grande jardim. Os olhos cor do mar vagavam por cada detalhe; o piso de madeira aquecido, as paredes brancas, até a escada de madeira escura que levava até o andar de cima onde os quartos se encontravam.

 A garota estava ansiosa para ver seu quarto, por isso subiu correndo, dobrando o corredor, eufórica para ver o melhor cômodo da casa. E lá estava ele. Como nas fotos; um quartinho compacto, com uma cama de casal grande, um abajur psicodélico roxo, uma escrivaninha, closet e uma sacada que disponibilizava uma vista maravilhosa para a floresta do outro lado da rua.

"Eu poderia fazer piqueniques lá. Quem sabe acampar?" - pensou ela. Os olhos pesaram nas copas das árvores por alguns instantes, e uma onda de pensamentos atingiram a mente, recordações, lembranças de uma antiga vida, um passado. 

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⏰ Last updated: Jan 05, 2020 ⏰

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A alma da luaWhere stories live. Discover now