Parte VI - A Verdade

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Arredores de Londres, 21 de junho de 2073, 13h45

Eu segurava a cintura de Kathe enquanto ela pilotava velozmente pela estrada estreita de terra, minha perna completamente recuperada depois de poucas horas no hospital. Logo vimos o antigo galpão de uma fazenda surgir no horizonte.

- Essa fazenda faz parte de uma empresa chamada S.E.Robots. Ela está no nome de Sarah Even Stuart, mas os registros mostram que Stuart é o sobrenome de casada. Antes disso, ela se chamava Robberts. – Kathe contou.

- Filha de Letícia Robberts, presumo?

- Sim.

Paramos perto do galpão. Com um pequeno laser, queimamos o cadeado antigo que segurava as portas fechadas e entramos. As horas gastas pesquisando os registros públicos valeram a pena quando vimos as carcaças de robôs penduradas do teto e o antigo Ford estacionado entre elas.

- Estávamos certos! – Falei. E então senti o cano fino da arma na minha cabeça e, pelo canto do olho, vi Kathe segurá-la. – O q-quê?

- Saia ou eu atiro! – Ela gritou para o galpão. – Sei que você precisa dele!

- Kathe, o que é isso? – Sussurrei, assustado.

- Fique quieto. – Resmungou e apertou a arma contra minha cabeça. – EU NÃO ESTOU BRINCANDO! SAIA AGORA!

Um barulho foi ouvido e então vi uma jovem sair de seu esconderijo, as mãos para cima e o rosto focado em mim.

- Por favor, não o destrua. Ele é o último que restou. – Ela sussurrou.

- O que é isso? – Falei, tremendo da cabeça aos pés e absolutamente aterrorizado. – Kathe?

- Sarah Even Robberts, você continuou os estudos da sua mãe e conseguiu desenvolver a tecnologia para transferir a consciência de um ser humano para um robô. Para isso, teve os investimentos e a ajuda de Lillie Dash, que até mesmo se dispôs a ser a primeira a testar a tecnologia. A transferência só pode acontecer nos últimos momentos de vida de uma pessoa, então você hackeou a London Bridge e convenceu Lillie a saltar. Porém, quando a transferência foi completada, ela odiou estar presa em um corpo robótico e tentou se entregar para a Polícia. Então, para se salvar, você a abateu. Ainda, fez isso com uma arma contrabandeada para persuadir os investigadores de que o crime fora feito por alguém da Polícia. – A voz de Kathe estava rouca, a arma ainda apontada para mim. – E depois eu comecei a descobrir seus segredos e você pensou em uma forma de me parar: por meio do meu melhor amigo.

- Eu? – Sussurrei, desesperado para que ela me dissesse o que estava acontecendo.

- Com Lillie morta, todo o dinheiro que você tinha foi bloqueado. – Kathe continuou e pude ouvir quando começou a chorar também. – Sem dinheiro, sem robôs. Então você usou sua última oportunidade: matou Rayner para me fazer parar a investigação.

- O quê? – Mesmo com arma, virei-me. O cano frio ficou contra minha testa. – Eu estou vivo!

- Não, não está. – As lágrimas corriam pelo rosto de Kathe. – Você morreu com aquele tiro, que atingiu a artéria e te fez sangrar sem parar. Quando e-estava quase morrendo, ela voltou com o carro, transferiu sua consciência e levou seu c-corpo embora. Está tudo gravado pelas câmeras de segurança, Rayner. Perdão, n-não consegui chegar a tempo. Você é o último robô dela... Como última prova de que as pesquisas de Letícia Robberts estavam corretas, Sarah Even precisa que fique inteiro.

- Eles disseram que minha mãe era louca. – Sarah falou, chorando e ainda com as mãos para cima, rendendo-se. – Ela se matou por causa disso.

Chocado, deixei-me cair no chão, rasguei a calça e desfiz a atadura. Sob o tecido branco, a pele estava perfeita, sem qualquer traço de que eu havia recebido um tiro naquela manhã. As lágrimas me atingiram ao mesmo tempo em que os veículos da Polícia paravam do lado de fora do galpão. Uma dupla de policiais algemou Sarah Even e ela foi levada para fora.

- Estou morto? – Solucei para Kathe.

Trêmula, ela se abaixou na minha frente e me puxou para si. Em seus braços, chorei, desesperado e perdido. Talvez Lillie tivesse se sentido assim, com o mesmo pensamento: "eu estou morta".

Fim?

Sangue e carbonoOnde histórias criam vida. Descubra agora