SORTILÉGIO | taekook

01

- 21 de Junho, 2018. Tempo atual.

Jungkook caminhava pelas ruas com pressa naquela manhã. As mãos insistiam em tentar segurar os livros entre os braços, estes que drenavam suas forças de todos os modos. Atravessou o portão da escola, permitindo-se correr até os armários antes que o que segurasse desabasse no chão. Equilibrou de forma desengonçada os materiais em uma mão, levando a outra para abrir o armário, colocando-os ali dentro.

- Atrasado - a voz familiar ressoou baixa, rouca. - Como sempre.

- E você veio até mim pra tirar a mesma conclusão de novo - Jeon defendeu-se, passando a caminhar com o garoto que ocupara o seu lado.

- Você sabe que precisa acordar cedo pra vir a escola. Ficar dormindo tarde enquanto assiste aquelas porcarias não vai te levar a nada - o rapaz dizia firme, repreendendo-o.

Por que ele precisa ser tão irritante? Jungkook grunhiu, reclamando mentalmente pela bronca que levava.

- Quer ficar calado? - exasperou-se, e se arrependeu logo em seguida. O olhar do outro parecia fogo que queimavam-o por dentro. A mão alheia antes abandonada ao lado do corpo, passou a apertar levemente seu ombro.

- Se não chegasse atrasado eu não precisaria te cobrar toda manhã - retirou a mão do ombro de Jungkook, se afastando quando a turma dele surgiu.

Jeon fechou os olhos com força, agradecendo por aquilo, não demorando para entrar na própria sala.

Os olhares percorreram por si. Normal. Suspirou, sentando-se na carteira comum no fundo da turma e se espreguiçando minimamente.

Havia dormido muito tarde na noite passada, era de se esperar que mal conseguisse manter os olhos abertos quando abaixou a cabeça sobre a mesa. Estava com muito sono, o corpo não respondia aos comandos, inundado de letargia, e nem se deu conta que já dormia na aula.

O livro de alguém da turma caindo no chão o fez despertar com pressa e assustado. Seu coração estava acelerado, agora desperto.

- Dormindo de novo na aula? Será que você nunca vai aprender?

Aquela voz de novo...

- Me deixa em paz! - gritou mais alto do que esperava, atraindo olhares julgadores. Os comentários maldosos sobre si tomaram seus ouvidos, e Jungkook engoliu em seco. Droga, havia esquecido novamente.

- Algum problema, senhor Jeon? - a voz do professor soou mais como uma repreensão. Não era necessário preocupação, afinal, aquilo acontecia todos os dias nas aulas. Só mudava o horário ou o professor.

- Pode continuar sua aula, professor. Está tudo bem - mentiu, dando um sorriso pequeno para acobertar ainda mais seu nervosismo.

Não estava nem um pouco bem. Sua cabeça parecia querer explodir. Procurou o livro da matéria dentro da mochila, ajeitando-se na carteira e agradecendo pelo sono ter se desviado pelo susto de outrora.

Quando sua aula terminou, foi impossível não sair da sala com pressa e procurar o local da qual acomodava-se naqueles últimos dias. O ginásio da escola. Não exatamente nele, mas debaixo das arquibancadas, no vão quente e vazio. Tomou cuidado enquanto entrava ali, encontrando algumas latas de refrigerante e cerveja. As pessoas não tinham um mínimo de educação. Entretanto, mal se importava. Sentou no chão sujo, sentindo o incômodo pelo calor agressivo. Não corria vento algum ali em baixo. Pouco iluminado e pequeno.

Suspirou, levando a mão até as madeixas e puxando-as com força. De novo. Aconteceu de novo.

- Você não pode entrar aqui - a mesma voz.

- Você não me diz o que fazer! - reclamou alto, encolhendo-se perante os próprios braços. Estava com medo e queria voltar para casa. Ou melhor, queria voltar no tempo e ter ficado em casa.

- Aqui não é o melhor lugar para se esconder. Vai acabar ficando doente com esse lugar abafado e sujo - a voz era calma, contrastando com o coração nervoso de Jungkook. Era quase como uma adaga sendo pressionada devagar contra seu peito. Firme, dolorida.

- Já disse que você não me diz o que fazer! Me deixe em paz! - Jungkook fez esforço para sair dali, correndo para longe do local, engolindo em seco quando as lágrimas tomaram de conta da sua face. O peso passava a deixar seu corpo e mente maleável.

Culpa. Sentia culpa.

Era impossível não voltar ao passado toda vez que ouvia aquela voz. Não sentir o coração apertar, em lamurios.

Era impossível não desejar mudar o passado.