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- 21 de Junho, 2018. Tempo atual.

Jungkook não voltou para casa daquela vez, como fazia todas as vezes desde o acidente. Foi a diretoria da escola. Sentado, enquanto aguardava, sua mente enchia-se de tormentos.

Ouvia uma voz acusadora todos os dias desde o fatídico acidente. Por vezes, enxergava um garoto da sua altura, parecido consigo, dono da voz. Não houvera um dia em que ela não lhe surgisse, atormentado-o, repreendendo-o.

Não entendia que havia criado um alter ego. Uma versão sua que lhe acusaria das verdades da qual estava fugindo. Sentia o peso das palavras, o medo, a tristeza, toda vez que recordava todo o acontecido.

Já não aguentava mais.

A diretora adentrou o local naquele momento, sorrindo pequeno para si quando sentou-se em sua frente, sendo separados pela mesa de madeira.

- Em que posso ajudá-lo? - ela perguntou, forçando simpatia.

- Eu quero saber onde Taehyung está hospitalizado. Gostaria... de visitá-lo - Jungkook tentou manter a voz calma, mesmo que não estivesse. Suas mãos suavam, estava nervoso.

- Ah, o nosso pobre menino - a diretora disse, buscando um documento entre diversas pastas na mesa. Provavelmente os pais haviam justificado o sumiço do filho. - Aqui. - ofereceu o documento a Jungkook. Ele leu o nome do hospital, repetindo mentalmente antes de devolver. - Espero que ele fique bem logo.

Jungkook levantou, olhando para a diretora. Sorriu pequeno.

"Eu também", pensou, saindo da sala em seguida.

Deveria ir vê-lo naquele dia? Deveria... confrontrá-lo? Talvez ele nem mesmo lembrasse do seu rosto. Suspirou, voltando até a sala e pegando a mochila. Justificou uma saída qualquer na secretaria, saindo em seguida.

- É a coisa certa a se fazer - ouviu a voz próxima novamente. Até mesmo tentou aceitar de forma mais calma. Era apenas sua imaginação. Apenas isso. O rapaz que via pela manhã quando chegava atrasado na escola. A voz que escutava mesmo sem ninguém ao seu lado. Só estava nervoso demais. Sim, era a conclusão mais correta.

O hospital não era longe, então limitou-se a ir de pé. Nunca mais pegaria em um carro sem uma habilitação. Nunca mais aceitaria um convite de alguém que não confiasse. Nunca mais se embebedaria.

Ao chegar lá, precisou passar por toda uma burocracia. Afirmou com todas as forças ser um amigo bem próximo de Taehyung. Mas a confirmação não veio. Taehyung deixou claro que não tinha amigos, não desejava visitas além dos pais.

Seu coração apertou. Era sua culpa, tudo aquilo. Colocou a vida do outro naquele precipício por um erro seu.

- Por favor, se ele me ver, vai me deixar entrar - porque estava dizendo aquilo? - Só... me leve até ele? Por favor... - o pedido saiu tão necessitado que até mesmo a enfermeira do local ficou ressentida. O garoto parecia sofrer demais.

- Tudo bem, mas se ele negar, peço que saia imediatamente - disse rígida, caminhando em direção ao quarto de repouso em que Taehyung estaria.

Jungkook sentia o corpo todo implorar para que fosse embora dali. Não tinha como fugir agora, tão perto. Devia aquilo a ele. Um pedido de perdão. Nunca deveria ter aceito aquele convite. Nunca deveria...

- Está tudo bem, explique isso a ele.

O rapaz estava ao seu lado novamente. Seu coração acelerou. Olhou para a enfermeira, vendo-a caminhar normalmente, como se não tivesse ouvido nada. Era claro que isso era coisa da sua cabeça.

- Ele provavelmente deve estar bem magoado.

- Eu sei disso - disse baixo, sentindo o olhar da mulher pesar em si, esperando uma resposta. - Eu estou falando sozinho, me desculpe.

SORTILÉGIO | taekookOnde histórias criam vida. Descubra agora