SORTILÉGIO | taekook

04

- 15 de Junho, 2018. Um dia após o acidente.

Suas manhãs sempre foram em preto e branco. Não havia alegria em seus dias. Um loop eterno entre ir para casa e a escola. Sem amigos. Sem algo que o prendesse ao mundo real.

Acordou cedo e com uma dor de cabeça péssima. Seus olhos estavam inchados, seu corpo estava dolorido pela péssima posição em que acordou. Levantou e fez a limpeza matinal. Despediu-se dos pais e foi para a escola. A pé. Não queria ir, mas seria estranho caso faltasse.

Quando adentrou o local, as vozes pareciam mais altas. Caminhou depressa para a sala, sentando-se no fundo da turma. Sua mente pareceu entrar em colapso novamente.

- Parece que o Taehyung foi atropelado em frente a escola, mas o culpado apenas ligou pedindo ajuda e foi embora - ouviu a primeira voz feminina, procurando pela dona dela.

- Que covarde. - uma segunda voz. As duas garotas estavam apenas algumas cadeiras de distância. Pareciam ter detalhes do acidente que causara. Então o nome dele era Taehyung? Taehyung. Um nome bonito.

Inspirou fundo, indo até elas.

- Desculpa mas... o garoto do acidente... ele, ele está bem? - indagou baixo, vendo uma das garotas olhá-lo de cima a baixo antes de responder.

- Pelo que eu soube, o estado dele é grave, mas não corre risco de vida - disse, olhando para a amiga ao lado. Lhe ignorando. Jungkook assentiu, voltando para sua própria.

Era isso. O garoto se chamava Taehyung e não corria risco de vida. Ele ficaria bem. Sim, ficaria. Precisava se acalmar. Tudo estava entrando nos eixos novamente.

Precisava...

- Você é o culpado.

Ouviu a voz próxima e firme. Arregalou os olhos, olhando para os lados, nervoso. Não havia ninguém. Sentiu o coração bater depressa.

- Você é o culpado, Jungkook. Você o matou.

Olhou para os lados novamente, levantou da cadeira, observando que apenas as duas meninas estavam consigo na sala. Estava cedo. O professor ainda não havia chegado.

- Você o matou, Jungkook.

- Eu não fiz isso! Foi sem querer, eu- - calou-se. Estava falando sozinho. As garotas o olhavam estranho. Engoliu em seco, pegando a mochila e saindo da sala. Passou pelo portão de saída da escola as pressas, sentindo o corpo tremer em ansiedade.

- Está fugindo.

- Eu não estou - murmurou, aproximando-se da área do acidente. - Eu... - fungou, havia uma fita amarela cercando o perímetro. Podia ver as marcas de sangue, o derrapar do pneu do carro. - Eu não fiz por mal...

Tentando segurar o choro, Jungkook voltou para casa. Os pais passariam o dia todo fora. Não precisava se preocupar.

Não precisava... se culpar.