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Toda aquela encenação tava me deixando um tanto quanto preocupada, algo estava errado. Um pouco muito ansiosa o encorajei a continuar com um carinho em sua mão.

Eu sentia um afeto e uma carinho muito grande por aquela rapaz, afinal ele era irmão gêmeo da minha melhor amiga que havia falecido a cinco anos. Ela se chamava Alicia, era minha amiga desde seus sete anos, faleceu quando ela tinha onze anos, era apenas alguns meses mais velha que Chloe, ela tinha lupus e descobriu no seu aniversário de onze  anos, teve uma convulsão enquanto estava no pula pula com a amiga e o irmão. Só de lembrar ela chorava, a menina estava já em estágio avançado da doença, então teve que fazer quimioterapia, Chloe estava sempre presente, todo final de semana levava algumas tulipas amarelas e hortênsias que tinha no jardim da praça perto de sua casa, Chloe ia até lá todo final de semana antes de ver sua amiga, ela ia pra la chorar porque não queria chorar na frente de Lici, queria parecer forte para confortar a amiga, deu certo até o dia em que Lici teve uma arritmia e teve que ir ficar no hospital, ela já se encontrava em estado terminal, só teve mais três meses com a amiga até descobrir que ela estava com anemia hemoditica e miocardite. A menina não aguentou mais, ela estava sempre sorrindo e agradecendo a Deus, Chloe não entendi o porque, sua amiga estava morrendo. Dois dias antes de morrer ela ligou pra Chloe do celular da enfermeira de madrugada.

-Alo? - a menina falou sonolenta

-Clho ...- disse bem baixo e Chloe se assustou quando percebeu quem era.

-Lici, de quem é esse número? ... -ela me interrompeu

-Não me pergunta nada agora, troca de roupa e vem me ver, Pit está passando aí em dez minutos.

-Mas...

-Mas nada, para de ser teimosa, já perdeu dois minutos, anda!

Ouvi o toque do celular, ela tinha desligado. Meio atônita, troquei de roupa e escovei os dentes, sai pela janela, mesmo sabendo que meus pais e meu irmão estavam dormindo e de certo não acordariam. Assim que cheguei a frente de casa vi Peter em seu long, estava com os olhos muito inchados, fiquei muito preocupada, não com ele estar chorando, mas com o motivo pelo qual ele estava naquele estado. O abracei, uma abraço demorado, não que nunca o tivesse abraçado, mas aquele abraço foi diferente, ele enterrou seu rosto molhado em meus cabelos e eu o sentia fungar bem perto do meu ouvido, me separei dele e segurei seu rosto com as duas mãos de modo que ficássemos cara a cara.

-O que ela te falou? - perguntei com medo da resposta.

-Nada.

Sem falar nada ele subiu no long deixando um espaço na frente para eu sentar como de costume, chegamos no hospital que estava vazio, vi uma enfermeira e de cara reconheci, ela também nos reconheceu e veio em nossa direção.

-Olá crianças, vou direto ao assunto, Chloe não esta nada bem, ela teve outra arritmia agora a noite, assim que ela acordou lhe atualizei sobre seu quadro médico e ela me pediu um favor - a mulher que aparentava ter seus trinta e tantos anos parou com um olhar de receio, a olhamos com mais curiosidade e ela continuou - ela disse que eu não poderia recusar um pedido de uma jovem paciente em seus últimos suspiros - ao ouvir isso senti Peter passar o braço no meu ombro, mas não como um abraço, parecia mais como um apoio pra ele - ela me pediu o celular emprestado e ligou para vocês, não está em horário de visitas e eu estarei muito encrencada caso virem vocês dois na UTI, então vamos logo.

Ela disse e saiu andando em passos largos sem nem ao menos esperar nossa reação. Passamos por alguns corredores silenciosos, algumas portas estavam abertas e podíamos ver os pés dos pacientes em suas macas.

Passamos por uma porta estreita que eu supus ser a porta da UTI, entramos e ela fechou a cortina do quarto, já que a sala tinha um vidro pro corredor.

-Estarei ali fora, me chamem se precisar.

Ela saiu e fechou a porta. Não dava pra acreditar no que via, ela estava muito pálida, mas com uma cor estranha, parecia que se ficasse mais clara ficaria transparente, segurei a mão de Peter e fomos nos aproximando da maca. Ele a tocou no braço e ela se mecheu abrindo os olhos.

-Quente né maninho? To com febre - ela disse se virando pra nós dois e olhando para nossas mãos juntas - fico feliz que tenham vindo, eu queria muito ver vocês.

-Lici, como você está?

-Ah meu irmão, já passamos por isso várias vezes, eu to morrendo, todos morrem, é normal, mas você ainda tem o privilégio de se preparar pra minha partida.

-Privilégio? - perguntou sem animo enquanto eu assistia a cena - não sei se posso intitular isso como privilégio.

-Pode e deve, é um presente de Deus tudo isso aqui, não me pergunte por que, mas eu sei que é, seria bem pior se eu simplesmente morresse do nada.

Todos concordamos, se estabeleceu um silêncio até que eu decidi falar algo.

-Lic...- antes que pudesse terminar já estava chorando.

-Mas é mesmo uma sentimental, vem cá vem - ela disse dando espaço parque me deitar ao lado dela, meio reciosa eu me deitei mesmo assim, ela me abraço e com a mesma mao que estava em volta do meu corpo segurou a mão do irmão, seu outro braço estava em baixo das cobertas.

-Clone? - disse Lici nos tirando do silêncio- tira uma foto nossa, a câmera ta ali dentro daquele armário.

Peter pegou a câmera e antes que pudesse bater a foto eu disse.

-Me da aqui, vou programa-la para sairmos os três na foto.

Sai da maca e peguei a câmera, coloquei o timer, deixei ela em cima de uma mesa e apertei o botão, corri para chegar a tempo perto deles, ficamos eu e Peter, cada um de um lado da maca e Lici no meio. Foi sua última foto.

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