Vamos, Margarida, - ordenou à menina - traz água depressa; gordo ou magro não importa, matarei assim mesmo Joãozinho e amanhã o comerei.
Como chorou a pobre irmãzinha ao ter de trazer a água! Como lhe corriam abundantes as lágrimas pelas faces!- Ah, Deus bondoso, ajuda-nos! - implorava ela. - Antes nos tivessem devorado as feras no meio da floresta! Pelo menos teríamos morrido juntas!
- Deixa de lamentações, - gritou-lhe a velha - elas de nada adiantam.Pela manhã, bem cedinho, Margarida teve de ir buscar água, encher o caldeirão e acender o fogo.
- Primeiro vamos assar o pão, já preparei a massa, - disse a bruxa - e já acendi o forno.
Empurrou a pobre Margarida para perto do forno do qual saíram grandes labaredas.
- Entra lá dentro, - disse a velha - e vê se já está bem quente para poder assar o pão.
Assim, pensava a bruxa, quando Margarida estivesse lá dentro, fecharia a bôca do forno, e a deixaria assar para comê-la também. A menina, porém, adivinhando sua intenção, disse:
- Eu não sei como se faz! Como é que se entra?
- Tonta, estúpida, - disse a velha - a abertura é bastante grande, olha, até eu poderia entrar!
Assim dizendo, abeirou-se da bôca do forno, aproximando a cabeça. Margarida, então, com um forte empurrão fê-la entrar dentro e fechou ràpidamente a porta de ferro com o cadeado. Uh! Que berros horríveis soltava a bruxa! Margarida, porém, saiu correndo e a velha acabou morrendo, miseràvelmente queimada.
Chegando ao chiqueirinho, a menina abriu a portinhola, dizendo ao irmão:
- Joãozinho, corre, estamos livres; a velha bruxa morreu.
Joãozinho então saiu pulando, alegre como um passarinho ao lhe abrirem a gaiola. Com que felicidade se abraçaram e beijaram, rindo e dançando? Como nada mais tinham a temer, percorreram a casinha da bruxa
e viram espalhadas pelos cantos grandes arcas cheias de pérolas e pedrarias preciosas.- Estas são bem melhores do que os seixozinhos!
- disse Joãozinho, enquanto ia enchendo os bolsos até não poder mais.
- Também eu, - disse Margarida - quero levar um pouco disso para casa.
- E foi enchendo o avental.
- Agora vamo-nos embora daqui, - disse Joãozinho - temos que sair da floresta da bruxa.
Após terem andado durante algumas horas, chegaram à margem de um rio muito largo.
- Não é possível atravessá-lo, - disse Joãozinho
- pois não vejo ponte alguma.
- Nem mesmo um barquinho, - disse Margarida,- mas olha, aí vem vindo uma pata branca; se lhe pedirmos, ela certamente nos ajudará a atravessar. Pôs-se a chamá-la:
- Patinha, patinha.
Cá estão João e Guidinha.
Não podemos passar,
Queres nos levar?A pata acercou-se da margem e Joãozinho sentou- se-lhe nas costas, dizendo à irmãozinha que também sentasse, bem juntinho dêle. Mas Margarida respondeu:
- Não, ficaria muito pesado para a boa patinha, é melhor que ela nos transporte um de cada vez.
Assim féz a boa patinha; e quando, felizmente, chegaram ao outro lado, depois de caminhar um bom percurso, o bosque foi-se tornando sempre mais familiar até que por fim viram a casa paterna. Deitaram a correr sua direção, e lá chegando, precipitaram-se para dentro, onde se lançaram ao pescoço do pai, cobrindo-o de beijos.
O pobre homem nunca mais tivera uma hora feliz desde que abandonara as crianças no meio da floresta. A mulher (para felicidade de todos) havia morrido. Então Margarida sacudiu o avental, deixando rolar pelo chão as pérolas e as pedras preciosas; Joãozinho acrescentou todo o conteúdo de seus bolsos.
Acabaram-se todos os sofrimentos e preocupações e, desde êsse dia, viveram os três contentes e felizes pelo resto da vida.
"Minha história acabou, um rato passou, quem o pegar, poderá sua pele aproveitar."
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Os Contos dos irmãos Grimm
FantasíaOs contos de fadas nem sempre foram para crianças dormirem, quando foram inventadas serviam como uma forma de dar medo nas crianças para que elas não fizesse algo considerado errado vamos ver os verdadeiros contos de fadas....