O Pequeno Polegar (parte 3)

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Quando chegaram à casa paroquial, Polegar insinuou-se pelas grades e entrou no quarto; uma vez dentro, pôs-se a gritar com todas as forças de seus pulmões:

- Quereis tudo o que há aqui?

Os ladrões alarmaram-se e disseram:

- Fala baixo, não acordes ninguém!

Mas Polegar fingiu não ter compreendido e gritou outra vez:

- Que quereis? Quereis tudo o que há aqui?

A cozinheira, que dormia no quarto ao lado, ouviu, sentou-se na cama e ficou escutando. Assustadíssimos, os ladrões fugiram; tendo corrido até bastante longe criaram coragem e pensaram: "Aquele tiquinho nos está arreliando!" Então voltaram e sussurraram-lhe através da grade:

- Deixa de brincadeira e passa-nos qualquer coisa.

Polegar então gritou mais alto ainda:

- Dar-vos-ei tudo, mas estendei as mãos aqui para dentro.

A empregada, que estava a escutar, ouviu-o distintamente; então pulou da cama e, tropeçando, foi até ao quarto. Os ladrões fugiram precipitadamente, correndo como se tivessem o diabo aos calcanhares. A mulher, não vendo nada, foi acender uma vela; quando voltou, Polegar, sem ser visto, escapuliu para o paiol de feno. Após ter vasculhado inutilmente todos os cantos, a empregada voltou novamente para a cama, julgando ter sonhado de olhos abertos.
Polegar, trepando pelas hastes de feno, encontrara um excelente lugar para dormir. Tencionava descansar até dia feito e depois regressar à casa dos pais. Mas aguardavam-no outras experiências! Sim, o mundo está cheio de sofrimentos e atribulações!
De madrugada, a criada levantou-se para dar comida aos animais.

Dirigiu-se em primeiro lugar ao paiol, apanhou uma grande braçada de feno, justamente aquele onde se encontrava Polegar dormindo. Este dormia tão profundamente que não percebeu nada e foi acordar somente na boca da vaca, que o pegara junto com o feno.

- Deus meu! - exclamou ele, - como fui cair dentro do pilão!

Logo, porém, deu-se conta do lugar em que estava. E quanta atenção lhe foi necessária para desviar-se dos dentes a fim de não ser triturado! Mas sempre acabou escorregando para dentro do estômago da vaca.

- Esqueceram de colocar janelas neste quartinho, - disse, - e não penetra sequer um raio de sol; além disso ninguém trás um lume!
O apartamento não lhe agradava absolutamente; mas o pior era que, pela porta, continuava a entrar sempre mais feno, e o espaço restringia-se cada vez mais. Por fim, amedrontado, gritou com toda a força de que dispunha:

- Não me tragam mais feno! Não me tragam mais feno!

A criada estava justamente mungindo a vaca; ouviu a voz falar e não viu ninguém; reconheceu a mesma voz que ouvira durante a noite e assustou-se tanto que escorregou do banquinho e entornou todo o leite. Correu para casa gritando ao patrão:

- Meu Deus, reverendo, a vaca falou!
- Quê? Enlouqueceste? - disse o vigário.

Contudo, foi pessoalmente ao estábulo ver o que se passava. Mal havia posto o pé dentro, Polegar tornou a gritar:

- Não me tragam mais feno! Não me tragam mais feno!

Os Contos dos irmãos GrimmOnde histórias criam vida. Descubra agora