Agora que vocês já sabem um pouco da minha infância, dá pra ter uma noção do que aquilo fez, os traumas que deixaram, eu não sabia o que poderia fazer para mudar aquilo, até que um virginiano apareceu na minha vida.
Ricardo não era muito de falar, não era carinhoso e tampouco afável, mas era ótimo quando se tratava de conselhos, ele era bom em olhar ao seu redor e ver uma saída para o problema, ele me chamou pra sair, disse que seria bom, resolvemos ir ao cinema.
Tomei um banho, lavei meus cabelos, deixei a água escorrer um pouco pelo meu corpo, me enrolei na toalha e fui para o quarto, separei umas roupas e estava em dúvida ente uma blusa de alcinha cinza, um short jeans de lavagem escura e allstar preto de cano médio ou um vestidinho rosa com uma sandália de dedinho, optei pelo vestido, escovei os dentes, penteei os cabelos e mandei uma mensagem para ele:Bianca: já está arrumado?
Ele viu no mesmo instante e me respondeu.
Ricardo: já sim, estou saindo, e você?
Eu estava pronta mas sentia que faltava alguma coisa. Um batom. Era isso. Passei um batom vermelho sangue. Agora estava pronta
Bianca: estou sim, te encontro em 20 minutos.
Como éramos amigos, optamos por ver uma comédia que estava em cartaz, quem a viu disse ser uma obra prima, resolvemos arriscar. Eu cheguei primeiro e fui comprar os ingressos, fundo da sala, última fileira, no canto, é onde tem menos gente atrapalhando a visão do filme. Eu estava na fila da pipoca quando ele chegou, estava usando uma blusa preta de manga comprida, calça jeans de lavagem clara e tênis preto, seu cabelo estava bagunçado como o de costume, ele sorriu ao me ver.
- Oi, desculpa a demora, tinha esquecido a panela no fogo. - ele me abraçou e deu um beijinho em cada bochecha, ele cheirava a opção pós barba resfrescante e pasta de dente, eu gostei daquilo. - Uau, você tá linda, devia usar vestido mais vezes, fica extremamente sexy.
Por que garotos têm que ser tão idiotas? Fiz uma cara de deboche e dei um soco no ombro dele, que riu do rubor do meu rosto.
- Vai querer qual refri? - Ele perguntou.
- Guaraná, não gosto de coca cola.
Ele revirou os olhos e falou com o atendente, pegou a pipoca e os dois refrigerantes. Nossa sessão começava em 5 min, resolvemos ir direto pra sala, sentamos na poltrona e eu fiquei no canto, encostada na parede, a pipoca ficou no meu colo, os trailers começaram a passar, e já estávamos atacando a pipoca amanteigada, olhei para ele, o cinema estava escuro, mas dava pra ver o rosto anguloso dele, os olhos escuros, a boca desenhada e avermelhada se curvando num sorriso ao perceber que eu o encarava.
- Se fosse pra me assistir eu teria te chamado pra ir lá em casa. - disse ele com escárnio
Virei pra frente e o ignorei, o filme havia começado e eu não paguei ingresso pra ficar vendo aquele cretino rir da minha cara.
A trama do filme era legal, antigos amigos do colegial se reencontravam e viviam novas aventuras, desta vez com suas respectivas esposas e filhos, era um filme bom, todos riam e eu não era exceção, estava tudo perfeito até que senti uma mão na minha coxa esquerda, Ricardo inconscientemente ou não, havia se distraído com o filme e errou ao tentar pegar a pipoca.
- Desculpa, não foi a intenção. - acho que realmente foi um acidente, ele estava constrangido
- A pipoca acabou, quer mais?- respondi ignorando o fato da mão dele ainda estar na minha coxa, bom, pelo menos não estava gelada, e o toque dele era suave.
Ele percebe a mão e a tira, ainda mais constrangido.
- Pode deixar que eu pego.
Ele saiu da sala e foi buscar a pipoca, quando voltou, estava com a ponta do cabelo molhado, ele lavara o rosto.
- Peguei sem manteiga, a atendente estava dando em cima de mim e era tão gostosa que me distraí. - ele disse com um sorriso torto
Dei de ombros e comi a pipoca sem manteiga.
O filme acabou, saímos do cinema e fomos comer algo.
- Você está calada, Bia, se não te conhecesse diria que está com ciúme.
- Você se dá tanta importância, é tão egocêntrico que vê coisa onde não existe. - rebati
- Então você não estava olhando minha boca durante o filme? - ele arqueou as sobrancelhas
É. Eu estava.
- Claro que não.
- Então você não quer beijá-la?
- De fato não. - o olhei bem nos olhos, ele me estudava, de cima a baixo.
- Eu acho que quer.
Me empurrando contra a parede da escada do shopping, ele me beijou, um beijo voraz, sua boca era macia, quente, tinha gosto de cereja refrescante, seu cheiro me deixou entorpecida e não tive escolha a não ser beijá-lo também. Sua mão deslizou meu vestido para cima e apertou minha coxa, seu corpo pressionava o meu contra a parede, ele começou a distrubuir beijos pelo pescoço, o que me deixou arrepiada, ele parou, olhou bem nos meus olhos, deu um sorriso e disse:
- Pra quem não queria me beijar, foi um beijo com vontade.
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O Atirador
RomantiekO quão bem conhecemos as pessoas? A ponto de compreender a mente delas, saber exatamente o que vão fazer. Somos capazes de mudá-las? Isso leva tempo? O amor realmente tem peso quando se coloca entre seu sucesso e o seu fracasso? No seu caso não tev...