Como os fortes nascem

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A forma que as coisas acontecem é fascinante. Uns chamam de acaso e outros de destino, outros creem que é o karma ou só a sorte, nada mais intrigante que o começo de uma história. Não uma história qualquer, mas de uma amizade, um laço de cumplicidade, amor, dever, orgulho e vingança.

Quando duas pessoas se conhecem é fato que elas vão se gostar ou se odiar. Quando conheci o Ricardo vi que ele era um cretino, ele não faz nada o meu tipo. Ele é branco, alto, olhos castanhos, cabelos lisos e rebeldes que teimam em ficar desajeitados, é um típico virginiano que adora julgar e se achar superior. É  arrogante, presunçoso e um tanto quanto rude, como eu disse, ele era um babaca.

Na primeira vez que ele me chamou fez um elogio a uma foto que postei, que segundo ele, eu tinha uma boca "muito gostosa" e óbvio que não dei abertura e o afastei.
Passaram alguns dias até que Ricardo me chamasse novamente, ele pegou a referência de uma alusão que fiz, começamos a conversar e ele se mostrou muitíssimo inteligente, foi ali que as coisas começaram a mudar, eu ainda o achava um cretino, mas passei a admirá-lo.

Ricardo via em mim algo que nunca vi, via potencial, beleza, charme, inteligência, enxergava a ele mesmo em mim e eu não poderia ser mais grata.

Certo dia, eu cheguei da escola destruída, fui direto para o banheiro, liguei o chuveiro. A água escorria quente pelo meu corpo e queimava, não nego, mas também tirava um peso enorme dos meu ombros e levava parte da tristeza que eu punha para fora através dos olhos, a água se misturava às lágrimas e por uma fração de segundo eu esquecia o que me deixava tão infeliz.

A sensação durava pouco, eu desligava o chuveiro e limpava o espelho embaçado, não gostava do que via, sentia nojo, vergonha, não suportava olhar por muito tempo, eu estava fraca, me achava fraca, estava à beira de um precipício pronta para saltar e eu sabia que ia cair, que não conseguiria voar, eu queria aquilo, eu pulei e para a minha surpresa ele estava lá, impedindo minha fragmentação ao tocar o solo, desacelerando meu ritmo, não me julgou, não me condenou, apenas me ouviu, me acalentou em seus braços e me protegeu contra os males da minha mente.

Ricardo me ouviu atentamente, não me cortou, não disse que era frescura ou drama, ele apenas ouviu cada palavra, ponderou bem as dele e me deu minha primeira lição: "Ninguém vale sua vida".

Após ouvir tudo o que ele tinha pra dizer, não senti mais vontade de morrer, ele havia me dado um motivo para viver, me fez pensar sobre qual era a raiz do problema e o que eu poderia fazer para mudá-la.

Naquele dia ele não só salvou a minha vida como me deu um novo sentido e algo que posteriormente eu soube retribuir. Naquele dia, nos ligamos para sempre.

O AtiradorOnde histórias criam vida. Descubra agora