Parte III - Corpo

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Draco arregalou os olhos sem entender como em uma hora estava provocando Potter e na outra estava tropeçando enquanto o corpo era empurrado para a cama e a boca devorada pelo grifinório.

E havia mesmo sido súbita a aproximação. Harry não tinha pensado (como sempre acontecia quando tinha algo a tratar com Malfoy), ele apenas queria encerrar as provocações, diminuir aquela distância, matar a vontade que o consumia de experimentar o gosto do sonserino e saber se ele seria tão bom quanto imaginava.

Suas mãos tremiam, amaldiçoou-se por isso, sentia o tremor enquanto deslizava da gola da camisa de Draco até a nuca dele. Beijava-o desesperadamente, num pedido mudo para que ele o entendesse, para que sentisse seu desejo. E Draco sentiu tudo isso e um pouco além. Caído na cama e apoiando-se nos cotovelos enquanto Harry se sentava sobre o seu colo, ele entendeu que aquele beijo era a forma como lhe era afoitamente pedido trégua.

Trégua... Queria, sim. Correspondeu ao beijo e suspirou, perdido nas próprias vontades que despertavam com força. Se analisasse bem, o que tinha contra Potter além de uma implicância cultivada por uma amizade rejeitada e pelo que esperavam dele como reação? O que tinha contra ele ainda mais agora depois da guerra que o impedisse de aproveitar a noite com alguém que obviamente o desejava e buscava pelo mesmo prazer que ele queria?

Nada, nada além do orgulho, e isso já estava tão quebrado... Depois da guerra, tudo o que queria era mandar o foda-se, era gritar ao mundo que já tinha se cansado daquele mundo de aparências, que eles não sabiam dar valor ao que realmente importava, que ele não ligava para mais nada porque ele quase havia morrido! Quase tinha visto as pessoas que amava sendo mortas! Porque ele havia passado por um inferno tão grande naqueles últimos anos que, por Mérlin, que todos se fudessem com suas opiniões mesquinhas e rasas! Ele era Draco Malfoy, dono da própria vida, do próprio corpo, ele tinha vontade e opiniões próprias e nunca mais iriam tirar isso dele. Nunca!

Harry sentiu a mudança de postura do outro, o beijo passou a ser correspondido com mais urgência conforme as mãos de Draco subiam por suas coxas e paravam em seu quadril, puxando-o para que enfim se sentasse por completo sobre o colo dele. Os dentes puxaram seu lábio inferior, e só assim se deu conta de como as respirações estavam alteradas, afoitas ao mesmo tempo em que não ligavam para isso e insistiam em voltar aos beijos.

— Tranque a porta e silencie o quarto, Potter — Draco falou ao arrastar a boca até seu ouvido.

Harry o encarou, os olhos acinzentados refletiam os seus, eram dois espelhos quebrados cujos cacos estavam querendo recolher ou fingir que não existiam ao se entregarem daquela forma um ao outro. Alcançou a varinha e sussurrou os feitiços antes de jogá-la na cama para caso precisassem em algum momento.

— Já esteve com um homem antes, Potter? — Draco perguntou quando Harry suspirou gemendo baixo e apoiou a testa em seu ombro ao ter as nádegas apertadas com vontade.

Harry queria dizer que sim porque no fundo sentia que Malfoy continuava a provocá-lo, queria concordar porque tudo o que menos queria era engatar uma conversa que resultasse em uma análise sobre o quanto sua vida tinha sido desperdiçada. Mas nunca havia ido além de beijos e toques um pouco mais ousados. Sentia a necessidade, mas, mesmo nos meses após a guerra, mesmo tendo tido a oportunidade, seu corpo simplesmente não reagia, não se sentia minimamente conectado às pessoas com quem ficava para que desejasse seguir adiante, para que seu corpo lhe permitisse isso.

— Entendi — Draco sussurrou ao subir a mão pelas costas de Harry até o cabelo da nuca dele e se fechar ali.

— Pare de ler minha mente — Harry pediu, num tom que misturava frustração e alívio por não ter que verbalizar nada daquilo.

Por partesOnde histórias criam vida. Descubra agora