KATE 4: visão

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  Eu estava no quarto de hóspedes, não sabia as horas. Mas já devia ser mais de meia noite,pois estava tudo muito quieto.
  Eu não conseguia dormir. E também.         Não queria.
Aquilo que Ed me falara ficava martelando na minha cabeça.
"Eu posso ver o sonho das pessoas"
  Estava com medo de ele ver meu sonho mais uma vez. Era como alguem me vigiando. E saber disso era pior ainda. Mas mesmo assim estava magoada com ele,até isso ele tinha escondido de mim. Se podia ver meus sonhos ele podia me ajudar a não ficar tão apreensiva com eles. Mas parecia que ele não se importava.
  Fui ver se tinha algo para comer na minha bolsa. Meu celular tinha umas 40 ligações perdidas
  Merda, tinha esquecido da tia Alice.
  Estava lascada. Fodida. Frita. Tudo oque pode se imaginar e ainda pior. Também podíamos acrescentar a lista que eu estava com raiva do meu ex melhor amigo, estava perdida e em uma casa de estranhas,que apesar de serem muito gentis comigo sabe-se lá quais as suas reais intenções e não podia nem sequer tirar um cochilo pois não estava afim de ter mais um sonho maluco.
  Resolvi ligar pra tia Alice.
  Ai meu Deus, ela ia me matar.
_Alô?_ ela disse.
_Oi tia,sou...
_MEU DEUS DO CÉU KATERYNE! Onde você está!!? Eu já ia começar a ligar para a policia! Você esta bem!?
Como que eu ia explicar?
_Sim tia, esta tudo bem. Estou na casa de umas amigas e esqueci de te falar. Me desculpe.
  Ela permaneceu calada.
_Ka...voc...alô?...
_Alô? Tia?_A ligação parecia estar falhando. Não conseguia ouvi-la direito.
  Foi quando ouvi uma voz sombria, do outro lado da linha:
_Eu estou te vendo....
_Oque? Tia,é você?
_Eu estou te veendo...Não pode mais se esconder.
  Eu fiquei paralizada.
  Desliguei a chamada. Mas a voz continuou.
_Parece que achei a minha ultima florzinha.
  O telefone desligou.
  Eu o atirei para fora da janela.
  Oque era aquilo? Oque era aquela voz? Meu Deus. Será que eu estava sendo vigiada?
  Me sentei na cama. Estava com a respiração pesada.
  E se estivesse correndo perigo!?
  Me levantei para tomar um pouco de água quando ouvi alguem se aproximando do meu quarto.
  Tomei um susto quando Lorrany entrou pelo meu quarto, abrindo a porta de uma vez.
_Está tudo bem Kateryne? Eu ouvi um barulho auto.
_Merda Lorrany!_Eu disse com a mão sobre o peito._Você me assustou!
Ela acendeu a luz do quarto. Tive que piscar algumas vezes para que minha visão se adaptasse.
_Está tudo bem?_Ela disse se aproximando.
_Sim,eu só, preciso descansar um pouco..
_Tudo bem, ah, só um segundo.
Ela abriu uma gaveta da comoda ao lado da minha cama e pegou um copinho de criança. Sabia como eram essas coisas,quando tia Alice adotou minhas irmãs as coisas nunca ficavam no devido lugar.
_Desculpe,mas Camille não sabia onde tinha colocado esse copinho da Hanna. Eu tinha colocado ele na cozinha mas ela sempre pega as coisas e as guarda em alguma gaveta._Ela disse com um leve sorriso direcionado ao copinho.
Aquilo me lembrou outra coisa, queria conversar com alguém para tentar esquecer oque tinha acontecido. Se ficasse sozinha no escuro de novo eu concerteza entraria em pânico.
_Posso perguntar uma coisa?Mas talvez não seja da minha conta.
_Claro._Ela disse ao se sentar ao meu lado na cama.
_Quantos anos Camille tem?
_Dezessete. Porque?
_Não. Nada. E que...
_Ela é meio nova para ter uma filha?
  Nossa. Ela sabia mesmo oque eu iria perguntar.
_Sim,quero dizer. Não é tão comum ver uma mãe tão nova.
_Sim é verdade,ainda mais com uma filha com 5.
_5 anos? Então... Não faz sentido ela tinha 12?
_Kateryne. Camille foi estuprada.
Fiquei sem reação.
_Ela foi abusada pelo próprio pai, e ela acabou engravidando. Todos diziam para ela abortar, e eu fui a única que ficou realmente do lado dela._ela dizia olhando para o chão_ Não sabe como foi dificil para ela. Ela teve que parar os estudos e tentou fugir de casa, mas como era menor de idade, sempre acabava voltando. Ela sofria muito. Eu tenho um tio que é advogado e ajudou muito minha familia, e com muito esforço, conseguiu retirar a guarda do pai dela. Depois ele foi preso. E como ela não tinha lugar para ir, a acolhemos na minha casa. Eu a ajudava a cuidar de Hanna e ensinava oque aprendia na escola. Depois quando fizemos 16 ela resolveu que queria morar sozinha, mas ainda tinha uma filha pequena e precisava de ajuda. Eu comecei sempre visitando ela, mas depois acabamos morando juntas. Meus pais não concordaram muito com a ideia mas acabei os convencendo. Ela é como uma irmã pra mim.
  Fiquei constrangida. Aquilo era uma amizade verdadeira. As lagrimas começaram a ameaçar,mas eu tentava de todas as formas não começar a chorar de novo.
_Você...é uma boa amiga._Eu disse,com a voz um pouco embargada com o nó que se instalava em minha garganta.
  Ela pôs a mão sobre meu ombro.
_Como eu disse,gosto de ajudar. Me sinto feliz com o simples fato de que a outra pessoa possa sorrir com algo que tenha feito.
  Ouve uma leve pausa.
  Ela continuou, se levantando.
_Agora,acho melhor se você tentasse dormir um pouco,você vai levantar cedo para poder ir para casa.
  Concordei com a cabeça. Ela apagou as luzes,indo em direção a porta.
_Boa noite Kateryne.
_Boa noite.
  Esperei ela fechar a porta e acendi as luzes de novo. Não dava pra ficar no escuro. E estava lutando ardoamente contra o cansaço para não dormir,mas parecia que estava perdendo.
  Algum tempo depois comecei a adormecer, mas ouvi um barulho na janela.
  Eu pulei da cama com o susto.
  Tinha alguém ali.
  Não conseguia ver por causa do escuro. Tentei procurar minha lanterna e quando virei a luz para ela não acreditei.
  Era Ed.
  Ele estava na varanda batendo na janela mas com uma mão tampando os olhos pela claridade que eu jogava em seu rosto com a lanterna.
  Não era possivel. Que cara de pau.
  Ele não conseguia falar.
  Resolvi que abriria a janela,ao menos assim eu poderia dar um soco na sua cara.
  Foi no mesmo segundo em que a destranquei que ele me puxou pelo braço e me levou ate a varanda. Estava apontando para baixo.
  Eu não conseguia me mover e nem falar. Apenas olhei para onde ele apontava. Vi pessoas correndo de algo que parecia uma sombra. Ela engolia a cidade com tudo oque tinha. Pessoas caiam no chão e suplicavam por ajuda. Eu queria fazer alguma coisa mas não podia mover um músculo.                   Foi quando a sombra se virou para mim e com aquela mesma voz sombria ela disse:
_Te achei.
  Dei um pulo da cama.
  Estava sem ar. Minha respiração estava acelerada. Não sabia oque estava acontecendo. Só queria sair dali.
  Peguei minha bolsa guardei minhas coisas e apaguei a luz do quarto.
Saí e andei tentando não fazer o menor barulho possivel, cheguei ate a cozinha e peguei um molho de chaves que tinha sobre a bancada e fui em direção a porta. Quando consegui a destrancar a fechei, tranquei pelo lado de fora e a joguei as chaves para dentro através da caixa de correio.
  Estava amanhecendo, e eu queria chegar a estação logo.
  Quando passei pelo bosque que estava quando Lorrany me encontrou, vi uma movimentação estranha entre as árvores. O vento me empurrava em direção ao centro da mata. Eu tentava desviar mas era forte de mais. Foi quando eu parei e caí de uma vez em um monte de folhas. Olhei para frente e estava lá, aquele livro que Ed tinha me mostrado.
  Tentei correr, mas o vento me prendia. O livro abriu em uma página e me enclinei para ler.
Você é nossa ultima esperança.
  Eu simplesmente queria acordar. Desejei que tudo tivesse sido um pesadelo e eu acordasse em minha casa,com tia Alice preparando o café da manhã e Ed me mandando mensagem dizendo que tinha dormido de mais.
  Mas nada acontecia.
  Eu peguei aquele livro e o vento parou. Queria ir embora e teria que leva-lo comigo.
  Se é assim universo, então que seja!
  Coloquei o livro na mochila e voltei ao caminho.
  Quando cheguei à estação entrei no primeiro vagão que vi.
  Demorou alguns minutos até que ouvi o maquinista.
_Proxima estação bairro San Diego.
  Quanto desci do metrô virei algumas ruas e finalmente cheguei em casa.
Havia algumas viaturas em frente à porta, e tia Alice conversava com algum dos policiais.
  Tentei passar por eles sem chamar atenção.
_Kateryne Hiolanda Diaz!
Merda.
_Venha já aqui mocinha!_ tia Alice esbravejou enquanto chegava perto de mim, desviando de alguns guardas.
E ela me deu um abraço.
_Ah,minha filha, você está encrencada. Acho que nem preciso dizer que você vai ficar sem seu celular por um ano não é?
_Me desculpe._ eu disse,meio sem jeito.
_Agora já pra casa!_Ela apontou para a porta. E eu fui. Derrotada.
  Quando entrei ouvi dois gritinhos.
_Kate!
Lory veio e ne abraçou forte,seguida por Lauren.
  Elas estavam chorando.
_Eu achei que você não ia voltar nunca mais._ disse Lauren enquanto soluçava.
  As abracei firme. Eram crianças. Não precisavam saber oque estava acontecendo,apenas que estava bem.
_Eu amo vocês. Mas agora eu preciso de um banho._Eu disse enquanto dava um beijo nas duas. Tinha sentido falta delas.
  Subi para meu quarto e estava já esperando a bronca da tia Alice, que seria séria e demorada, quando vi aquele livro. Parecia que estava me perseguindo,mas como não tinha como eu me livrar dele o enfiei junto com alguns cadernos.
  Na esperança de nunca mais sair de lá.

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A garota que sonhavaOnde histórias criam vida. Descubra agora