Capítulo 1

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Veruca Salt nasceu em berço nobre, de pais que nasceram em berço nobre, de avós que nasceram em berço nobre. A empresa de Nuts¹ vinha passando de filho para filho por tantas gerações, que seria necessário perder alguns minutos analisando a árvore genealógica da família Salt para saber quem fora o primeiro a construir o império.

A família Salt era bem rígida em seus costumes: o filho mais velho herdaria o império das castanhas e se casaria com alguma filha primogênita de alguma família muito forte em algum ramo comercial. Se fosse uma primogênita, ela seria, secretamente, ensinada a cuidar das finanças, apenas para ter certeza que seu marido, também de primeira linhagem, saberia gerenciar os negócios.

Hugo Salt e sua esposa Chainise Salt investiram muito para que Veruca nascesse. As dificuldades em ter um filho eram tão grandes que quando o casamento completou sete anos e nenhum primogênito nascera, os dois entraram em pânico.

Veruca fora, sem dúvidas, um bebe muito amado e mimado, mas lá no fundinho havia, sem dúvidas, a tristeza dela não ter nascido homem. Seu pai, Hugo Salt, acreditava não demonstrar para a filha o quanto ele preferia que um menino tivesse nascido, mas ela sabia.

Veruca sempre sabia.

Os olhos afiados e atentos captavam cada detalhe escondido em entrelinhas. Sorrisos verdadeiros contra falsos, palavras de amor sem amor, brechas em regras. Foi assim que, buscando ser a melhor primogênita da família Sal, que Veruca tomou para si todas as atividades femininas e masculinas que uma boa dama e cavalheiro deveriam ter.

Ela bordava de forma impecável, era uma desenhista exemplar, acertava um alvo como se seus olhos fossem binóculos, era muito boa em matemática financeira e física, uma esgrimista louvável e, bom, uma cozinheira terrível.

Não era apenas na arte culinária que Veruca era terrível, sua genialidade somada com a forma em que seus pais a mimavam a deixou com uma personalidade terrível. Não era apenas uma perdedora ruim, mas uma criança que não sabia escutar um não.

"Senhor Wonka, quanto o senhor quer por um esquilo deste?", questionou o senhor Salt.

Veruca olhou para o chocolateiro maluco com um sorriso enorme e olhos brilhantes. Ele não tinha como negar. Não quando ela era tão fofa e quando seu pai estava disposto a pagar tudo o que ele quisesse.

"Ah, mas não estão a venda. Ela não vai ter um." Disse Willy.

Veruca olhou para seu pai de forma irritada. O corpo ficando cada vez mais quente sob o casaco de inverno que vestia. Como assim? Como assim? Ela queria e iria ter um esquilo treinado!

O pai ergueu os ombros, não tinha nada o que pudesse fazer. Não mais.

"Papai!" Rosnou ela.

O casaco de inverno que usava tornou-se quase insuportável quando o corpo se aqueceu com a combustão da raiva. Como... no mundo... alguém... ousava... dizer... NÃO... para... ela? Os dentes perfeitos de Veruca rangeram enquanto ela deixava intrínseco, ao seu pai, que ela queria e teria um esquilo treinado!

O senhor Salt engoliu em seco. Como adulto, ele sabia que seria muito difícil ter um bichinho daquele, principalmente por não saber ao certo como deveria lidar com Willy Wonka. Todos os adultos eram movidos por dinheiro e, de uma forma ou de outra, acabavam cedendo. Só era preciso saber onde estava a necessidade ou ganancia da pessoa.

Entretanto, desde que foram recebidos, Wonka mostrava-se uma pessoa estranha, esquisita, ousada, atormentada. Ele fazia com que seu contrato de privacidade estivesse na parede de entrada da sua fábrica, não participava do show de abertura porque como ele poderia assistir ao show, se estivesse sentado na cadeira? Tinha uma pequena porta para o jardim e largava os casacos no chão.

A senhorita SaltOnde histórias criam vida. Descubra agora