Erek

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Lucca se apegava a mim cada vez mais, eu consegui um bom dinheiro publicando meu primeiro livro, com o pseudônimo de Nana, e agora trabalhava na continuação. Kevin levava Lucca para visitar Jason uma vez por mês e namorava Alice firme! Vivíamos confortavelmente e felizes e eu conseguia ignorar algo que me incomodava desde que eu acordara.

A voz em minha cabeça.

Ela adquiriu uma personalidade. Nós discutíamos. Ela dizia que seu nome era Erek. Eu afirmava que ela era apenas uma manifestação de meu subconsciente que se recusava a voltar a minha vida de antes, fingindo que nada havia acontecido. Eu dizia que não estava. Ela argumentava que minha vingança nunca se concretizaria, até porque eu não a planejava. Erek queria ver sangue. Eu queria esquecer.

Numa tarde de março, um sábado, no entanto, as coisas vieram abaixo. Literalmente.

De repente, eu estava na moto, voltando para casa de uma visita ao meu editor, quando fui acertada por um pássaro e cai da moto. Quando ergui a cabeça, o trânsito inteiro estava entrando em pandemônio devido ao enorme número de pássaros caindo do céu. Pardais, pombos, anuns, todos os pássaros simplesmente caíram mortos no chão. Olhei ao redor e de repente vi que não eram só os pássaros, mas cães, gatos, alguns cavalos ali perto e então finalmente as pessoas sucumbiram.

Eu só conseguia pensar em Lucca.

“Ele está bem.” Erek disse, mas me convenci que era apenas eu mesma tentando me acalmar. “Crianças não são afetadas. São jovens demais.”

Ergui a moto e rumei em direção a casa de Jason, eu não queria vê-lo, mas Lucca estava lá. Desviei de animais e pessoas mortas ou moribundas nas ruas e calçadas e parei na ponte, quando o trânsito estava intransponível. Corri. Eu usava um vestido xadrez e botas de cano médio e salto baixo, larguei o capacete junto com a moto e corri os seis quarteirões que restavam até o prédio de Jason, que estava trancado quando cheguei e o porteiro estava estendido morto perto da guarita. Olhei ao redor desesperada e apertei o botão do apartamento de Jason no interfone, mas ninguém respondia. Insisti. Nada.

Comecei a ficar cada vez mais ansiosa, mexia no cabelo, olhava ao redor, até que ouvi um choro que reconheceria em qualquer lugar e corri mais dois quarteirões adiante e encontrei Rafaella junto ao corpo de Daniel, seu pai, marido de Danielle. Estava morto no chão e Rafella chorava. “Crianças não são afetadas.” Erek repetiu na minha cabeça e sacudi a cabeça.

-Tia, eu não fiz nada! –Ela gritou vindo até mim e se agarrando em mim. –Papai caiu!

-Eu sei meu anjo, eu sei! –Abaixei-me para abraça-la, eu estava assustada, queria chorar, mas ela precisava que eu fosse forte por ela. –Ella, olha para mim, precisa se acalmar. Lucca estava com vocês? –Ela fez que não com a cabeça e a ergui em meus braços. –Tudo bem, tudo bem, tudo vai ficar bem. –Corri com ela em meus braços.

-Mas o papai...

-Papai vai ficar bem, não se preocupe, meu anjo. Vamos procurar o Lucca.

Corri com ela em meus braços até voltar a ponte onde ouvi o choro de Lucca ao longe, no campo de futebol na beira do rio.

-Lucca! –Eu gritei. –Mamãe está chegando! –Mas no fundo da minha mente eu me perguntei por que eu também não havia sido afetada.

“Não afetaria você.” Erek disse. “Você já morreu.”

NinaOnde histórias criam vida. Descubra agora