Como Pierre Hébrard... francês sentenciado a morte; aniquilado no dia 12 de setembro de 1831 na máquina do Sr. Guillotin: o grande triângulo de ferro descera sobre seu pescoço cinco vezes, e as cinco de nada adiantaram, pois somente cortara superficialmente infringindo uma dor atroz. O que aconteceu depois? Aqui, deixe-me ler um trecho para vossa silenciosa, talvez inexistente audiência: "O povo indignado armou-se de pedras e pôs-se, na sua justiça, a apedrejar o miserável carrasco. O carrasco foge por baixo da guilhotina, lá agacha-se atrás dos cavalos dos gendarmes. Mas a história ainda não acabou. O supliciado, vendo-se sozinho no cadafalso, tinha se levantado da tábua e, em pé, pavoroso, o sangue escorrendo pelo corpo, segurando a cabeça parcialmente cortada que caía no seu ombro, pedia com gritos fracos que viessem soltá-lo. A multidão, tomada pela piedade, estava a ponto de forçar os gendarmes e prestar ajuda ao coitado a quem tinham aplicado cinco vezes a sentença de morte." Vejam vocês, sobre o pitoresco prisma que vou lhes iniciar. Trata-se do Fragmentos sobre a pena de morte, anexado a algumas edições no prefácio do famoso O último dia de um condenado à morte, de Victor Hugo. "É neste momento que um ajudante do carrasco, um jovem de vinte anos, sobe no cadafalso, pede para o paciente virar-se para que ele possa soltá-lo e, aproveitando-se de posição do moribundo que estava se entregando a ele sem desconfiar, pula nos ombros dele e começa a cortar o que restava de pescoço com não sei que faca de açougueiro. Isto aconteceu. Isto foi visto. Sim." Este homem, Pierre Hébrard, de fato existiu e de fato foi morto desta forma grotesca, debaixo dos olhos de um juiz que, estava assistindo ao espetáculo e podia muito bem tê-lo parado com apenas um gesto, mas não. Sua crápulesa não permitiria tal intervenção justiceira, pois seu espírito sádico tinha de ver - até o último momento - tal teatro Danteano. Por quê citei tal livro? (O qual fortemete recomendo a quem quer que seja). Por motivos bastante óbvios: Deus. Veja que o juiz que estava assistindo a execução de Pierre era, por analogia, seu Deus, e igualsinho a Deus, vendo todo aquele suplício, nada fez a respeito. O juiz de Pierre na terra e Deus sobre à Terra. Veja que insiro aqui uma tautologia para provar, retóricamente meu ponto, da inutilidade de Deus ou Deuses. E veja também que perco-me mais uma vez nas assustadoras divagações ociosas de minha mente, uma vez eu mesmo aqui dentro estando, dentro deste inferno intelectual que me força a mal dizer Deus, o que obviamente me machuca muito, pois sou um ser sensiente que ainda precisa de um apoio metafísico, do contrário meu mundo despencaria. Após a catastrófica explosão muito provavelmente estou em coma e muito improvavelmente estou morto; se eu estivesse morto não estaria sofrendo com a mente humana por excelência, que confronta o consciente com o subconsciente e continua a dar impulsos nervosos sexuais, que estimulam a libido levando-me a conclusão de que eu não deveria ter quebrado e explodido Madeleine, mas sim ter tido coito com ela. Ficarei nadando nesse nada por muito tempo. Acho que tenho de inventar uma platéia para mim mesmo, uma que acompanhe minha infeliz ou feliz estadia neste antro filosófico, uma que me impeça de enlouquecer dentro de mim mesmo, em uma forma mental. É isso, acho que é um ótimo começo da espera do final... O dia e a hora que eu poderei acordar e levantar deste lúgubre coma, se é que eu ainda estou vivo.
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(Em andamento) Moría da Inversa Filáucia - Parte dois.
RomanceSegunda parte de Moría da Inversa Filáucia. PLÁGIO É CRIME! TODOS OS DIREITOS DE TheJackWarner (E. A. do Prado). 01/09/2019