(Ele anda, anda, anda e anda. Tenta, com isso, arrumar um rumo, mas, bem ao fundo de sua mente, sabe que não está indo a lugar algum. Desconsolado e supostamente desacordado dentro de seu próprio pesadelo, adentra um matagal muito denso, quase como o sensual corpo da Titã Gaia. Tal colossal agrupamento pode ser interpretado como a mais corrosiva dúvida, com a qual o dono da mente sofre inquietantemente).
(Ora, com a mais relevante relevância devemos nos aprofundar nesta já tão profunda dúvida, à qual, há quem diga ser, talvez, relutantemente, o momento de mais calma na vida de nosso insólito temente a Deus. Tal floresta, tão fria, tão vazia e sem respostas, sem vida e sem arvores, aonde se caminha e não se avança, de onde se questiona e não se soluciona; um lugar tão úmido quanto a terra molhada e triste do cemitério aonde Anne jaz. Cada galho tão mole e dispersivo, nada concreto e tudo passivo. Cada passo para frente é - ali - dois para trás; cada gota de suor não é jamais o produto do cansaço, mas sim do desespero calmo e dócio, como daquele que não mais tem controle sobre o seu destino, que se vê no cadafalso esperando indiferente e sem amor. A mente é o único lugar aonde Deus realmente existe e pode evitar o sofrimento, pois lá não se há profetas como Amós e Oséias, ambos parte de uma trupe de irracionais sádicos, que através da "desobediência" do povo de Israel em relação a Deus profetizaram a vingança do mesmo para punir seu povo, utilizando-se da fome, guerra, genocídio e tortura. Mas claro, que fique bem explicito que a única coisa deífica que existe se perpetrando na mente é a ignorância, cuja essência acalma os moribundos e exalta os lânguidos, tais quais ovelhas).
(Caminha sem no chão encostar, como quem já se esqueceu da gravidade, tanto física quanto abstrata. Ora, há quem vos diga que tudo que há de escrito sempre possui um "que" de verdade, joguemos isso ao ar para ver quem há de respirar. Um par de olhos se espreitam em meio a mata virgem).
("Quem poderia ser(?)", provavelmente se perguntou Lífer, ou, se não se há perguntado, quem saberia...)
- Tantas dúvidas... - Ouviu-se em meio aos arbustos.
(Arqui continua a caminhar).
- Saiba que foi Aristófanes que denunciara - à sociedade ateniense - o ateísmo de Sócrates. - Contou.
(Ele ainda continuou o seu rumo ao nada).
- Hahaha, muito engraçado; saiba que eu não sou o seu Aristófanes, pois não é de meu costume fazer troça de desesperanças alheias.
(Continuou com seus passos).
- Eu exijo que, além de você me ouvir, deves também fitar seus olhos nos meus, pois somente um homem que algo deve não consegue manter sua vista cravada na do outro que com ele está a falar. - Proferiu.
(Subitamente este parou seus passos incertos).
- Ótimo, agora vire-se e me de a honra de ver seus olhos vazios. - Provocou.
(Começou a dar meia volta; ficou de frente com o ser e o encarou).
- Se ainda hei de ter olhos, estes não são para conjugá-los com os teus, pois um homem com dúvidas não deixa - em muitas das vezes - de ser o sujeito mais orgulhoso de todos; quiçá é por isso inclusive que a ausência de respostas não se dissipa. - Respondera, Arqui. (Apertou os olhos). - E um aviso para você: é na mais odiosa dúvida que os tambores da loucura primitiva rufam, tome cuidado com o que me dizes, se fores continuar com o diálogo.
(A criatura nenhum movimento fizera, apenas fechou seus olhos e refletiu por um instante, e voltou a abri-los).
- Veja, alma irrisória, você me deu a liberdade de existir como um sujeito a parte, autônomo dentro da sua cabeça, uma criatura controlada por você mesmo, sem que você o saiba ou sinta, ou mesmo controle realmente. E no caso de você estar morto, vagando eternamente pelo purgatório, bom, neste caso eu também existo por causa de você, afinal, todo o demônio só existe pois deve atormentar alguém por causa de algo. Então, não tente dificultar as coisas para mim, pois eu as posso dificultar com bem mais força para você.
(Lífer olha ao redor, vê muitas tulipas cinzas contornando a longa estrada de terra. Olha para suas mãos, para ver se ainda lembra de como elas realmente eram, seus contornos, suas cicatrizes, suas marcas de vida, e então volta a olhar para aquelas esferas no meio da mata).
- Veja, demônio, se você acha que me amedronta de alguma forma, está errado. Se quer deixar meu caminho mais horrendo e complicado, vai em frente, pois o filósofo somente chega a algum lugar quando se vê inteiramente pressionado e aflito, à flor da angústia, "pois até Paulo crê que a partir de algo ruim, Deus faz algo bom".
(O vulto se entusiasma).
- Hmm - (morde o seu lábio inferior) -, muito interessante. Você realmente quer trazer este diálogo a tona, não quer? Pois até mesmo um homem que está longe da razão tenta, mesmo assim, criar sua própria.
(Finalmente percebe, após afastar as verdes folhas em sua frente que se trata de um quebradiço espelho, e com ele falava o reflexo de sí mesmo, o que o deixa ainda mais em dúvida).
- Eu já devia saber, não estou morto, isso é apenas minha mente. Agora tenho certeza de meu ateísmo, pois a vida jamais seria boa se fosse estendida eternamente, trata-se porém de uma parte de um dente de leão ao vento, tão frágil e tão único, esperando para o chão tocar e ali ficar, até algo nascer e morrer.
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(Em andamento) Moría da Inversa Filáucia - Parte dois.
RomanceSegunda parte de Moría da Inversa Filáucia. PLÁGIO É CRIME! TODOS OS DIREITOS DE TheJackWarner (E. A. do Prado). 01/09/2019