Como todos os dias, Avice levantou-se pela manhã e, com a ajuda de Léa, penteou os cabelos, fazendo uma longa trança que deixava apenas alguns fios soltos em torno de seu rosto fino e marcado. Mesmo tentando esconder sua tristeza, a jovem princesa não conseguia disfarçar completamente. O tom avermelhado ao redor dos olhos deixava claro que ela chorava todas as noites desde que completara dezesseis anos — há dias. Sempre que tentava focar nas boas ações que faria pelo reino, lembrava-se de que faltavam apenas dois dias para embarcar, partindo para longe de sua família.
Viver em um reino distante, com costumes e valores diferentes dos que conhecia, a aterrorizava. Embora todos elogiassem o príncipe Nolan, que acabara de completar dezenove anos e estava sendo preparado para reinar, Avice sentia que ele não era o homem ideal para ela. A ideia de casar-se com alguém que nunca vira a deixava sem ar; era desesperador.
Apesar de todos os seus sentimentos, Avice sentia-se tranquila em relação ao futuro de Campbell. Daniel, seu irmão mais velho, assumiria o trono ao lado de sua esposa, e suas propostas prometiam acabar com a pobreza que assolava o reino por anos. Mesmo sendo um reino nobre, Campbell era fraco: a população pagava altos impostos, mas sempre havia escassez, e os mercadores preferiam vender para reinos vizinhos, aproveitando-se da situação para enriquecer. Enquanto isso, metade da população sofria com a falta de investimentos e as crescentes dificuldades.
Enquanto Avice caminhava pelos corredores do palácio ao lado de sua dama, Léa, notou uma movimentação incomum: as camareiras pareciam agitadas. Algo estava fora da rotina.
Seus pensamentos a levaram a uma única pergunta:
O que tiraria o palácio de sua rotina? Por que todos estavam tão eufóricos?
Essas dúvidas foram confirmadas quando ela viu guardas correndo, espadas afiadas em punho, prontos para qualquer combate. Sem hesitar, Léa empurrou Avice para dentro de um dos esconderijos do castelo, trancando-se com ela e lembrando-se das ordens: sair apenas quando o caos estivesse contido.
Léa, uma amiga inseparável, fora escolhida desde cedo para acompanhar a princesa. Com um olhar apreensivo, Avice murmurou:
— Não me diga que estamos sendo atacadas novamente… Mas… Tudo não estava contido?
— Talvez sejam apenas ladrões — Léa tentou tranquilizá-la. — O que importa é que você está segura, Avice.
— Não faz sentido serem rebeldes. E se forem? Nate está lá fora, mamãe está lá fora!
— Acredito que não sejam eles, mas todo cuidado é necessário. Em breve você estará longe daqui e segura em Guersi.
— Não acredito que estarei segura lá.
— Guersi é um reino seguro — Léa segurou a mão de Avice, tentando consolá-la. — Tem mais soldados do que a nossa população inteira — brincou.
Avice assentiu, embora não tivesse ânimo para brincadeiras. Em situações de ataque, sua ansiedade aumentava, mas ela sabia que nada podia fazer além de se esconder. Casar-se e selar a aliança era seu papel para proteger sua família e o reino. Se esse fosse o preço, ela o pagaria.
. . .
Após o ataque, quando finalmente saíram do esconderijo, desceram ao grande salão, onde muitas coisas estavam destruídas, inclusive os enfeites que a rainha adorava. Avice correu para abraçar a mãe, que estava em prantos. Contudo, estava claro que a rainha não chorava apenas pelos objetos quebrados. Quando o rei chegou, a verdade foi revelada: não eram apenas ladrões, mas assassinos. Eles tinham vindo para acabar com o acordo de defesa; queriam matar Avice. Se a princesa morresse, a aliança estaria desfeita, e Campbell estaria vulnerável aos ataques dos rebeldes.
Devido ao ataque, a viagem de Avice foi adiantada para que ela partisse em segurança. A jovem princesa não teve coragem de se opor à decisão do rei.
Avice embarcou no navio e ficou na borda, observando atentamente seus pais e seu povo. O rei enviara setenta e cinco soldados para protegê-la, distribuídos estrategicamente entre arqueiros, sentinelas e uma guarda pessoal. Além disso, embarcaram com ela arrumadeiras, cozinheiras, faxineiras e, claro, Léa, sua melhor amiga e dama de companhia, que preferiu acompanhar Avice para um reino distante e deixar para trás tudo o que mais amava — inclusive sua própria família e o amor de sua vida.
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A princesa prometida
FantasíaAvice, desde pequena, sempre soube que seu destino estava longe de ser seu. O dever para com o reino vinha antes de qualquer anseio pessoal, e o casamento arranjado era apenas mais uma peça no tabuleiro da política. A cada lição, ela internalizava q...