P.O.V. Clarice
Todas as vezes em que pensei no real motivo pelo qual escolhi fazer o que faço, uma lista infinita de razões, momentos, sentimentos inundaram minha mente de forma rápida e eficaz, e ao tentar decodificar essa bagunça mental, cheguei a única conclusão plausível para tomar como resposta: o ser humano. Tudo bem, essa resposta, em um primeiro momento, não parece muito completa, mas pensem comigo: existe algo mais completo que o ser humano?
Desde que eu era um pequeno aglomerado de milhões de células, lá pros meus seis ou sete anos, perguntas relacionadas ao que eu descobria sobre meu próprio corpo e sobre a subjetividade essencial das pessoas rondavam a minha cabecinha imatura como um redemoinho grande demais para alguém do meu tamanho. Por isso, meus pais decidiram me levar a um psicólogo infantil, pois acreditavam que o tipo de pergunta que eu fazia provinha de algum tipo de doença como o autismo ou TDAH. "Por que amarelo se chama amarelo e não vermelho?", "Qual é a diferença do meu cérebro para o cérebro das outras pessoas do mundo?", "De onde vem a tristeza das pessoas que se matam?", "Por que existem pais que abandonam seus filhos?", "Por que devemos acreditar antes de entender a religião?". Essas e outras perguntas do gênero me levaram a ter o primeiro contato com a porção mais bela da filosofia, em minha humilde opinião.
Quando eu estava no ensino médio, não tinha dúvidas de qual carreira seguiria. A ideia de entender detalhadamente a intrigante mente humana me fascinava tanto em seu aspecto físico-químico quanto em seu aspecto mais subjetivo e saber que poderia ajudar tantas pessoas, que por alguma razão estavam presas em seus cárceres silenciosos e invisíveis, faziam meus olhos brilharem ainda mais, pois sempre gostei de escutar e aconselhar as pessoas ao meu redor e me sentia incrível quando elas me procuravam.
Assim que terminei a faculdade, consegui um emprego no setor de recursos humanos em uma revista de moda, o que estava longe de ser o que eu gostaria para minha carreira, mas pagava todas as minhas contas e ainda sobrava para o happy hour na sexta. Não demorou muito para que eu começasse a me sentir infeliz naquele lugar, então decidi juntar minhas economias para dividir um espaço com uma colega advogada, que tinha alugado um escritório grande demais e pensava em fazer uma nova sala e ali seria o meu primeiro consultório. Quando tudo estava pronto, comecei a distribuir meu cartão de visitas em todos os lugares possíveis e imagináveis, mandei mensagens para antigos amigos e professores de faculdade até conseguir algum paciente e poder largar a revista. Eu estava quase desistindo quando a minha primeira chama de esperança se acendeu.
- Alô? - Atendi um pouco exasperada, pois estava tentando abrir a porta de casa enquanto segurava as sacolas do supermercado.
- Clarice Thomlinson?
- Sim, sou eu, quem fala?
- Jeanine Daae, gostaria de agendar um horário... - Eu mal podia acreditar no que estava ouvindo.
- Um horário? Claro, claro! Qual a sua disponibilidade?
- Hum... Final da tarde sempre.
- Sexta às 18h está bem para você?
- Está ótimo.
- Ok, te deixo agendada. Até sexta! - Disse animada e ela desligou.
Haviam quase dois meses que não tínhamos nenhuma notícia sobre o desaparecimento da Emma, parecia que ela havia evaporado e isso nos deixava cada vez mais preocupados, não só pelo bem estar da menina, mas pela própria Jeanine. Aos olhos da maioria, ela não passava de uma mulher impenetrável, que encarava os problemas da vida de forma fria e extremamente calculista, o que não era mentira, porém, aquela menina mexeu com algo dentro da dama de ferro que a deixava incapaz de agir dessa forma quando se tratava de Emma Scott.
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The Teacher: Te desafio a me amar
Romance"Acredite em mim, eu nunca me senti assim por alguém, nem pelo meu ex-marido... Isso que sinto é diferente de tudo que já vi, senti e ouvi falar nas histórias, nos filmes, nas músicas... Isso que sinto é mais verdadeiro que a minha própria existênci...