Capítulo XXV

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P.OV. Emma

Viver sempre foi complicado e isto nunca foi segredo para ninguém e meus quase trinta anos poderiam provar facilmente. Haviam-se passado dois meses desde que parte de mim nascera fria como a morte e durante todo esse tempo, eu não fizera nada além de reviver cada detalhe daquela noite. Eu poderia facilmente ouvir meus gritos de agonia até que a escuridão mostrou sua face e apenas me deixou quando tudo já estava feito, para que eu visse seu trabalho sujo obter êxito. Eu costumava sonhar com aquela escuridão desde o dia que soube que estava grávida. No início era uma pequena sombra que me acompanhava onde quer que eu fosse, e quanto mais os meses avançavam, maior e mais sombria aquela imagem se tornava. Eu vou tirá-la de você, a sombra repetia incansavelmente em minha cabeça como um looping aterrorizante e eu não podia fazer nada além de gritar. Foram meses a fio de noites mal dormidas por causa dos pesadelos, de um inferno real apenas em minha mente. No fundo eu havia a esperança de que eu fosse capaz de vencer a figura sombria, mas no final... No final de tudo, ela tirou-a de mim... E ainda doía como um membro arrancado.

Foram dois longos meses cega pelo martírio, parecia que todas as pessoas do mundo tivessem desaparecido e que apenas eu tivesse restado em meio a um grande nevoeiro. Não tomava mais as minhas pílulas, elas não serviam de nada, de qualquer forma. Sentia-me condenada aquela circunstância e isso me tornava tão covarde, que não conseguia nem mesmo me mover para atirar-me de alguma janela.

A imagem da sombra nunca mais deixou de me acompanhar, mas minha apatia era tão grande, que nem ao menos dava importância ao fato dela me afogar pouco a pouco em sua fumaça negra. Eu estava praticamente submersa na inconsciência absoluta, quando um barulho chamou minha atenção para a realidade, era sofrido, quase que um suspiro baixo. Abri meus olhos para o clarão que o ruído proporcionava e o segui para achar sua fonte. Jeanine encontrava-se em sua poltrona favorita, ao lado da grande janela da sala e sua imagem fez o resto do meu coração quebrar em um milhão de pedaços como um vidro frágil. Ela segurava suas duas pernas contra o peito, encarava o lado de fora e fungava enquanto lágrimas pesadas escorriam pelo seu rosto cansado. Dei um passo em sua direção, queria segurá-la em meus braços e dizer que tudo ficaria bem, mas foi quando seus olhos encontraram os meus que entendi...

O que eu havia feito?

Um grande sentimento de vergonha e culpa encheram meus póros e eu voltei rapidamente para o quarto. Imagens de todos os nossos momentos juntas bombardearam a minha mente me fazendo refletir sobre o quanto a minha entrada em sua vida havia sido catastrófica. Minha presença custou seu emprego, sua estabilidade, seus sorrisos... E quando tive a chance de reconstruí-la, decidi ficar presa na porra da minha própria realidade, enquanto a pessoa que eu dizia amar com todas as forças definhava. Encarei o anel em minha mão e me lembrei do dia em que firmamos o compromisso de vivermos juntas para sempre... Eu não poderia errar novamente, não poderia mais prendê-la a mim.

Boas horas se passaram enquanto eu decidia com cuidado meu próximo passo, naquela altura ela já havia saído para a terapia, era o tempo que eu tinha para arrumar o que fosse necessário dentro de uma mochila. Abri uma das gavetas da escrivaninha para procurar meu laudo médico entre os vários papéis, quando vi no canto a foto do dia de Ação de Graças. Provavelmente a dona Sandy teria tirado a foto, a qual Clarice segurava sua filha em seu colo, enquanto Enrico olhava genuinamente sorridente para elas. Francesca, Francine e Noah logo ao lado, todos posicionados atrás de um pequeno sofá, onde eu e Jeanine nos olhávamos com cumplicidade. Era uma bela foto... Até mesmo com Francine estando presente. Decidi guardar também aquela foto na mochila, sentei-me na cama para procurar em meu celular o melhor trajeto para a clínica que outrora havia sido meu lar. Jamais deveria ter saído de lá.

Alguns minutos mais tarde, minha atenção foi tomada pela bela-Ela era realmente bela.- mulher ruiva que entrara no quarto sem que eu percebesse.

- Olá, querida... - Ela chamou e encarei seu rosto, que tinha uma feição diferente da que eu encontrara mais cedo. Sem pensar, fui em sua direção segurando-a em um abraço instantaneamente correspondido. Não havia me dado conta do quanto sentia falta do seu corpo esguio junto do meu, do efeito que a proximidade nos causava, do seu perfume de rosas, sofisticado como ela própria. Eu gostaria de dizer tantas coisas a ela, mas aquele contato tão almejado reacendeu as masmorras adormecidas do meu corpo e no momento em que ela afastou seu rosto apenas para olhar em meus olhos e tocou seus lábios nos meus, uma eletricidade incontrolável terminou de me tirar o controle fazendo-me agarrar seus fios e aprofundar o beijo o máximo que poderia. Ela segurou meu rosto e pude sentir sua preocupação para que o beijo não findasse, como se precisasse acreditar que aquilo era real. Passeei por suas costas delicadamente, para então nos separarmos apenas quando o ar faltou.

The Teacher: Te desafio a me amarOnde histórias criam vida. Descubra agora