#MinjoonWeek19 • coletânea

Dia 1 ⋆ Sobre promessas eternas

A voz doce de Jimin preenchia o cômodo de vida. As notas suaves da nova música do jovem tocavam em todas as rádios do país, um sucesso completo. Namjoon sabia toda a letra de cor, desde que o álbum foi lançado ele não conseguia parar de escutá-lo. A melodia falava de jeito incompreensível com seu coração e o transportava para uma outra época. Uma época antes de sua nova vida.

Namjoon retirou os óculos do rosto e os repousou sobre sua mesa lotada de papéis. O escritor vinha sofrendo de um bloqueio criativo há dias e, em tentativa de contornar suas frustrações, decidiu revisar todo o delineamento da estória que escrevia. Não tinha jeito, na cabeça dele nada mais existia além da voz de Jimin cantando suavemente.

Ele sabia que soava como um louco, obsessivo até. A parte racional de seu cérebro o dizia que estava alucinando, mas Namjoon tinha discernimento o suficiente para saber que não existia essa possibilidade. Ou talvez fosse isso o que todos os loucos dizem a si mesmos.

Desde que era criança, tão novo que nem saberia dizer quando, Namjoon tinha sonhos vívidos e que possuíam uma mesma variante em comum: Jimin. Não importa que seu sonho se passasse no século passado ou apenas décadas atrás, que fosse no país em que morava agora ou em algum outro, não importa se ele fosse jovem ou velho... Jimin sempre estava lá. As vezes com a mesma aparência, as vezes com outra.

Namjoon nem mesmo sabia qual era o nome de Jimin até vê-lo em um outdoor de uma campanha publicitária para cosméticos. Ele só entrou na loja mais próxima, comprou o produto que o cantor vendia e perguntou o nome dele para a vendedora. Pensando bem, Namjoon soava como um louco, ele se sentia assim também.

Como ele poderia explicar para alguém que conhecia Jimin sem nunca o ter visto pessoalmente nesta vida? Aliás, como ele poderia explicar que conhecia Jimin de outras vidas? O próprio conceito de reencarnação o fazia se encolher, sua mente por muitos anos se recusou a aceitar, mas não havia outra forma de explicar que ele conhecia uma pessoa que nunca havia visto nessa vida.

Nessa encarnação, Namjoon era de Ilsan e Jimin de Busan, Coréia do Sul. Namjoon é escritor – de livros de fantasia, vale acrescentar – e Jimin é um cantor solo em ascensão. Namjoon sempre foi um grandessíssimo nerd, tirou as melhores notas de sua classe e se graduou com honras em filosofia, fazendo um mestrado logo em seguida. Jimin, pelo que o escritor tinha lido em fóruns da internet, foi um bom aluno e estreou com seu primeiro mini álbum assim que concluiu o ensino médio. As vidas deles dois não poderiam ser mais diferentes, nunca haviam se tocado em ponto algum. A não ser por aqueles sonhos que o atormentavam quase todas as noites.

Depois que descobriu o nome de Jimin, Namjoon passou uma semana inteira procurando absorver tudo o que podia sobre o garoto. Teve que se controlar e botar um fim a sua pesquisa para não passar dos limites saudáveis. Ainda assim, ele não poderia simplesmente andar até Jimin e dizer: "Oi, eu te conheço de outra vida. E, por sinal, você é muito bonito, vamos tomar café?". Quer dizer, ele até poderia, caso quisesse sair do local escoltado por policiais em caminho direto à um hospital psiquiátrico.

Não era apenas a questão de conhecer o cantor de uma outra vida. Ah, como Namjoon queria que fosse apenas isso... O problema era como eles se conheceram em outras vidas. Fosse um relacionamento passageiro, uma amizade qualquer ou até mesmo um membro próximo da família, Namjoon teria sacodido o pensamento e seguido em frente. Não, Jimin tinha que ser um envolvimento romântico. E não qualquer um, aparentemente eles se amavam profundamente. Isso era algo que ele não conseguia ignorar.

Ele também não conseguia ignorar as imagens mais do que nítidas que sua mente o provia com lembranças – vívidas, repito – de momentos íntimos que compartilhou com o cantor. Era uma situação impossível, não tinha solução. Namjoon se via atormentado com memórias que não deveria ter. Um filme confuso que se repetia em sua cabeça, cenas tristes e felizes num emaranhado complexo do que haviam sido suas vidas passadas ao lado de um completo estranho.