Dia 4 ⋆ Sobre almas gêmeas

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Desde pequeno, Namjoon vivia cheio de rabiscos. A família dele achava que ele os fazia e os amigos zombavam dizendo que era a alma gêmea dele que gostava de anotar pequenos recados na pele.

Ele próprio nunca soube no que acreditar, sabia que não fazia aqueles riscos na própria pele – alguns nem mesmo eram em sua língua nativa -, mas não acreditava em nenhuma outra explicação absurda que criassem.

Quando era criança, Namjoon detestava os riscos que surgiam em sua pele: eles faziam com que seus pais brigassem com ele; com que seus amigos rissem dele; e, uma vez, até mesmo seu professor o mandou para a diretoria por cola. Ora! Namjoon nunca colou em uma prova, mas a outra pessoa, a que fazia os desenhos em suas mãos, sim. Era essa pessoa que eles deveriam mandar para a diretoria, não ele.

Sim, Namjoon tinha certeza que era uma pessoa. Podia não conhecer aquela outra língua que era riscada em sua pele, mas as vezes aparecia alguma palavra em coreano, alguns números e até equações ou desenhos. Quem poderia fazer algo assim? Só uma pessoa, é claro.

Então, Namjoon passou a odiar aquela pessoa. Mesmo assim, ele morria de curiosidade para saber quem era aquela outra pessoa e porquê ela o riscava. Ele sabia, já que seus amigos sempre diziam, que isso não era normal. Só Hoseok dizia para que ele não se preocupasse com os riscos ou com os comentários maldosos das outras crianças.

Conforme foi crescendo, os rabiscos foram parando de aparecer na pele de Namjoon e o garoto foi dando cada vez menos importância ao ocorrido. Julgava que tinha uma mente fértil, duvidava de sua própria memória e colocava aqueles risquinhos no mesmo local de sua cabeça onde a fada dos dentes habitava. Mas, as vezes - e Namjoon jamais dizia isso para ninguém –, um risco ou outro, talvez apenas uma mancha de caneta, aparecia em sua mão. E ele voltava a ser aquele garoto curioso que se perguntava se almas gêmeas eram reais.

Hoseok sempre foi seu confidente, as vezes Namjoon achava que estava paranoico... Quer dizer, como é possível que outra pessoa escreva em sua pele sem jamais tocá-lo. Cogitou que fosse pegadinha de algum fantasma, mas ele não acreditava em vida após a morte. Cogitou que fosse alguma reação louca de seu organismo, coisa que pesquisou por vários anos, sem jamais achar nada que comprovasse. Pensou que talvez escrevesse em si mesmo durante o sono, mas certa vez pediu ajuda a Hoseok para fazer um teste, nada aconteceu. Ainda assim, vai não vai, aparecia com rabiscos em sua pele.

Os rabiscos também apareciam mais em determinados lugares. Na maioria das vezes eram nas mãos e braços. Mais raramente nas pernas e rosto. Jamais foi riscado no tronco ou costas, o que o fazia acreditar que a pessoa riscava em sua própria pele e esses riscos apareciam na dele. Por menos que isso fizesse sentido.

Namjoon também se lembra de como eram os riscos, culpa de sua memória fotográfica. Ele recorda que, certo dia, chegou em casa com o rosto todo pintado, como se fosse um palhacinho. Seus pais enlouqueceram, principalmente quando a pintura não saia de forma alguma. No dia seguinte, acordou sem vestígios de algum dia ter sido pintado, exceto por uma marquinha vermelha atrás da orelha que só saiu dois dias depois.

Durante a adolescência, Namjoon tinha cuidado para não aparecer nas aulas com fórmulas químicas nas mãos, mesmo que elas fossem de uma série anterior à sua. Surpreendentemente, ele nunca apareceu com fórmulas de física ou de outras matérias, o que o fez concluir que a outra pessoa tinha um problema com química.

Também apareciam alguns desenhos de vez em quando. Desses, ele gostava bastante. Alguns eram simples linhas que contornavam as mãos de um jeito ou de outro. Outros, eram complexos e possuíam uma beleza delicada. Namjoon gostava dos desenhos porque, ao contrário de fórmulas ou rabiscos aleatórios que ele não entendia, esses davam uma visão sobre a mente da pessoa por trás dos riscos.

#MinjoonWeek19 • coletâneaOnde histórias criam vida. Descubra agora