37.

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— Por favor?

— Não.

— Por favorzinho?

Uma gargalhada enquanto ele afastava o braço dela de seu rosto.

— Loirinha, não.

Amanda bufou, fazendo graça, e finalmente colocou a pinça na escrivaninha. A coisa de fazer as sobrancelhas de Rafael realmente havia se tornado uma piada interna entre os dois. Ela abraçava o travesseiro azul, jogada na cama dele, os cabelos loiros presos em um rabo de cavalo bagunçado.

— Sabe, a sua casa não tem nenhuma graça sem o Eredin.

Ele revirou os olhos antes de deitar a cabeça no travesseiro, em cima da barriga dela. As mãos de Amanda imediatamente foram parar nos cabelos do garoto, que murmurou em aprovação.

Ficaram em silêncio, aproveitando o calor do corpo um do outro. A menina gostava daqueles momentos, em que não falavam nada. Nunca tinha momentos assim com Guilherme: ele era barulhento demais.

Respirou fundo e fechou os olhos, apoiando-se na cabeceira da cama. Odiava pensar nele e odiava a forma como ele se infiltrava em sua mente.

Era difícil, é claro. Passara tanto tempo com ele e, mesmo antes de namorarem, só conseguia pensar em Guilherme, Guilherme, Guilherme, Guilherme, o sorriso do Guilherme, a boca do Guilherme, o rosto do Guilherme, Guilherme, Guilherme, Guilherme, Gui—

Rafael. A voz de Rafael. A risada de Rafael. E os olhos! Os olhos de Rafael, sim. O jeito com o qual Rafael dizia "Loirinha". Rafael. Rafael que deixava as pálpebras se fecharem toda vez que sentia as mãos de Amanda em seu cabelo ou em seu rosto.

Rafael era um pensamento diferente de se ter. Guilherme era mais... Fixo. Sempre igual, de certa forma intocável. Agora Rafael, bom, sentia que podia levar Rafael para qualquer lugar.

Era tudo muito confuso o tempo todo — muito Guilherme o tempo todo. Rafael era como uma brisa que desatava todos os nós que tinha dentro de si com extrema delicadeza.

O término com Guilherme fora culpa sua, culpa completamente sua, sabia disso. Não era boa com relacionamentos românticos, não sabia lidar com a ideia de compromisso, não conseguia ver alguém amando-a de uma maneira que prendesse esse alguém à ela. Guilherme não a amava e por isso superou tudo tão depressa, e Rafael não a amava também.

Não que amasse Rafael. Loirinho era apenas uma diversão.

— Sabe, eu 'tô morrendo de sono.

Ela soltou uma risada baixa ao ouvir a voz arrastada do menino.

— Então vem pra cá, loirinho. Eu também 'tô precisando dormir.

Ele assentiu, trocando de lugar para deitar-se ao lado dela. Ela apagou a luz, usando o interruptor que ficava do seu lado da cama. Ficaram de frente um para o outro.

— Boa noite, loirinha.

Amanda sorriu, passando a mão pelos cabelos dele mais uma vez enquanto ele fechava os olhos azuis.

— Boa noite, loirinho.

são paulo • [r.l.]Onde histórias criam vida. Descubra agora