40.

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Ela encarava-o com um sorriso no rosto. Já era quase o amanhecer e não conseguiam dormir: permaneciam deitados, um olhando para o outro.

Haviam passado o dia nadando e conversando com os outros e, quando finalmente ficaram sozinhos, não conseguiam parar de falar.

O sono pesava nas pálpebras de Rafael, mas não queria fechar os olhos. Queria continuar acordado, ao lado dela. Se pudesse, permaneceria sempre acordado ao lado dela.

Tudo bem, esse foi um pensamento intruso e estranho e completamente acidental. Não se sentia assim por Amanda. Não sabia nem se o que tinham era sério ou não, não tinha direito de...

Sua boca foi mais rápida que seu bom senso.

— Loirinha, o que nós somos?

O sorriso sumiu do rosto dela quase que imediatamente. Ela franziu o cenho e mudou de posição até ficar sentada na cama, olhando para frente.

— Como assim?

Rafael suspirou, já se arrependendo, e sentou-se da mesma maneira que ela, mas com o rosto virado para ela.

— Digo... Bom, eu gosto bastante de você, e você sabe. E... A gente 'tá ficando sério? A gente 'tá só ficando? Porque eu não sei às vezes. Tipo, isso aqui é só um passatempo? Você ainda é apaixonada pelo Guilherme? Nós—

Ele se interrompeu, confuso, quando percebeu a maneira com a qual ela inspirou desesperadamente, como se tivesse esquecido de respirar por um segundo. Pela primeira vez desde que entraram naquele assunto, ela olhou para os olhos dele, na defensiva.

— Eu não sinto mais nada pelo Guilherme.

Rafael piscou, surpreso. De tudo que tinha dito, não pensou que seria naquilo que ela se concentraria.

— ... Certo...?

Ela respirou fundo, passando as mãos pelo rosto, os olhos voando pelo cômodo inteiro. Parecia ponderar.

Céus, não queria falar sobre aquilo. Tudo estava tão bem sem terem que mencionar o que verdadeiramente eram, sem terem que pensar em qualquer tipo de compromisso.

Amanda sempre estragava as coisas, e não queria estragar a coisa sem nome que tinha com Rafael, mesmo se fosse tudo de brincadeira.

Porra, por que as coisas sempre têm que mudar?

— Eu e o Guilherme — começou, incerta, e podia sentir o olhar atento do loiro em si. — Nós... Nós temos uma história bem longa, sabe? Eu conheço ele desde que eu tenho quatorze anos e quando eu tinha quinze e ele dezoito a gente começou a ter... Alguma coisa? Eu não sei. Eu só sei que a gente passou muito tempo meio que ficando e aí ano passado a gente começou a namorar e... — sua respiração falhou por um segundo. — Nós tínhamos defeitos, como qualquer casal. A gente vivia brigando e ele sempre ficava muito nervoso e eu nunca sabia o que fazer e uma vez ele—

Ela se calou de súbito, um arrepio percorrendo sua espinha. Rafael sentiu o coração acelerar ao ver que o corpo da garota tremia.

— Loirinha?

Amanda, me desculpa. Eu sinto muito, eu sinto tanto. Eu não tive a intenção. Me desculpa.

— Loirinha? — ele chamou novamente, entrando em desespero ao ver que ela começara a hiperventilar, os olhos ainda correndo pelo quarto.

Eu vou consertar tudo, eu prometo. Você quer que eu pegue um pouco de gelo? Eu vou pegar um pouco de gelo. Eu sinto muito, foi sem querer.

— Ei, ei, loirinha, respira fundo. Você quer que eu chame alguém?

Eu te amo, Amanda. Eu te amo demais. Você sabe, não sabe? Você é o amor da minha vida. Eu sinto muito. Eu te amo tanto.

— Você quer que eu chame a Diana?

Você também me ama, não ama?

— A Bella?

Amanda? Você também me ama, não ama?

— A Giulia?

Amanda, me responde. Amanda, você me ama?

— As três?

Amanda, me responde, caralho!

— Loirinha, olha pra mim, por favor. Fala comigo, eu quero ajudar.

Piscou uma, duas, três vezes. Pequenas lágrimas tentavam escapar. Virou a cabeça e encontrou a cor azul.

Rafael tinha olhos muito bonitos, mesmo quando estavam cheios de pânico, como naquele instante. Sabia que não estava muito diferente.

Obrigou-se a respirar controladamente. Não fazia a mínima ideia de quando mas, em algum momento, pegou a mão do loiro na sua e a apertava com força.

— Eu... Desculpa, loirinho. Eu só... Me distrai um pouco — soltou uma risada falsa. — Será que a gente não pode falar sobre isso outra hora?

Ele foi rápido em concordar, deitando de novo na cama e puxando-a com delicadeza para que deitasse ao seu lado. Amanda foi rápida em apoiar a cabeça no ombro dele, e ele passou um braço por sua cintura, abraçando-a.

Trocaram suaves palavras de "boa noite", e o silêncio finalmente reinou entre os dois.

O problema era que nenhum deles conseguiria pegar no sono.

Rafael conseguia pensar apenas em, senhor, o que aquele garoto fizera de tão ruim que apenas a lembrança deixara Amanda naquele estado?

E ela, bom...

Guilherme, Guilherme, Guilherme. As mãos de Guilherme. Guilherme. O rosto de Guilherme. O sorriso de Guilherme. A voz firme de Guilherme. Guilherme, Guilherme, Guilherme. As mãos de Guilherme. Guilherme. As mãos de Guilherme. Guilherme. As mãos de Guilherme. As mãos de Guilherme. Guilherme.

são paulo • [r.l.]Onde histórias criam vida. Descubra agora