Promessas que nunca foram cumpridas

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As anotações que Shelly achou estavam em folhas de papel, pequenas como as de agenda, soltas e empilhadas. Por isso, fez como qualquer pessoa faria: começou a ler as de cima primeiro. Porém, na quinta página, viu que leu tudo na ordem errada. Tentou fazer o contrário, vendo de baixo para cima, mas ainda assim as frases ficavam desconexas.

Pensou em desistir de decifrar, afinal, não foi autorizada a mexer em nada daquilo. Foi então que, enquanto arrumava de volta, um dos ursos da Nita apareceu no corredor e ficou a encarando.

-Oi, Bear...-Ela cumprimentou, um pouco nervosa, e se levantou (antes estava sentada no chão).

O grande animal se aproximou, fazendo Shelly recuar um pouco (afinal, não sabia se o instinto dele ultrapassaria a razão), e pediu as folhas com gestos de braço.

-Oh, não, garotão. Isso não é Poco com pouca vida para você querer mexer.-Ela nega e anda até perto do armário.

O urso estava impaciente e, por isso, foi até ela e arrancou os papeis de sua mão com brutalidade, quase os rasgando. Como os seus ataques são arranhões, ele acaba dando um pouco de dano nela, mas não foi por querer. Derrubou todas as páginas no chão e se sentou para espalhar, mas Shelly não poderia aceitar calada:

-Ei!-Atirou para cima com sua carabina; a mira era longa, mas não atingia o teto, então não causaria estragos na casa.-Esqueceu que quem manda aqui sou eu?!

Ele para, lembrando da ordem que a dona deu antes de adormecer, que era respeitar e obedecer a morena. Mas isso foi por um microsegundo, porque voltou a espalhar tudo pelo chão. Shelly deu um suspiro, para manter a calma, e então notou que ele procurava por algo. Impediria, se a curiosidade não surgisse.

Então ele achou e entregou a ela. Era um papel escuro (reciclado), que tinha uma caligrafia diferente das demais folhas. Era estranho, as letras não ocupavam só o espaço de uma linha, como deveriam, e foi escrito com uma caneta preta. Nele dizia:

''Se quer voltar a escrever,

é porque estamos com problemas.

Problemas, problemas e mais problemas''.

Com certeza, foi alguém que escreveu aquilo para a Nita. Mas quem? Shelly já conhecia a letra de todo mundo, porque todos tinham que fazer um ''diário'' contando como estava sendo o trabalho e entregar para ela (senão não recebiam o pagamento). Mas aquela não lhe era familiar.

Seja lá quem fora, colocou muita força na caneta, e dava para se ver isso porque uma parte do papel estava rasgada. Logo, ela imaginou que seria o Bull, ou o Frank, ou até o próprio ursão, mas não quis se precipitar demais.

Depois de toda essa análise, a shotgunner se sentou junto ao animal, e ele deu outra folha. Essa já estava como as outras: letra cursiva quase ilegível, sem pontuações ou acentos, uma falta bem notável de parágrafos, um grande espaço entre os caracteres, o lápis de escrever, a repetição agoniante da mesma palavra na mesma frase, tudo de um jeito bem característico da Nita. Eu não aguento tanto erro de português em um só lugar (mesmo que, as vezes, os cometa), então deixarei bonitinho para vocês:

''Olá.

Vi a sua resposta de ontem, e a achei irrelevante. Nossos ''problemas, problemas e mais problemas'' sempre existiram, e sempre vão existir.

Minha decisão está feita. Nosso acordo não foi cumprido, e agora tenho o direito de quebrá-lo.

Isso não quer dizer que ajudarei o Leon, muito menos que vou o atrapalhar. Vai ser algo rápido, todos os lados sairão felizes. Eu os prometo.

O Kagome que Errou o Chute (Brawl Stars)Onde histórias criam vida. Descubra agora