Durante uns bons minutos ele apenas me observa, isso me incomoda, eu odeio ser analisada.
— Já terminou? — Pergunto, ele dá um meio sorriso, apenas evidenciando que ele sabe do que estou falando.
— Você é nova nisso, não é?
— Defina "nisso". — Tomo um gole da minha bebida sem tirar os olhos dele. Rare também mantém seu olhar fixo em mim, levantando o braço sem quebrar o nosso contato visual.
Como em um passe de mágica, um garçom aparece e entrega a ele um copo com uísque.
— Não precisa responder —diz ele — Eu não sou novo nisso, e nunca a vi nesse cruzeiro.
— Então esse cruzeiro acontece com frequência? — Mais do que você imagina. — Ele bebe um pouco e em seguida coloca o copo na mesa, seus olhos nunca saindo dos meus, é intenso.
Não posso dizer que sou do tipo de mulher que baixa a cabeça e fica constrangida com um flerte, mas algo nesse cara me faz querer recuar. Ele não quebrou nosso contato visual desde sentou, e isso me intriga.
— Então vamos ver se entendi — olho em volta e noto que todos os casais estão apenas conversando, alguns mais animados, outros contidos, porém aparentemente não passa de conversas inofensivas.
— Estamos em um cruzeiro de luxo, onde a palavra relaxar, vai muito além do óbvio.
Ele rir da minha constatação, e isso me arranca um pequeno sorriso.
— Quase isso. — Rare cruza as mãos em cima da mesa e apoia o queixo, ele inclina um pouco para frente — Diga-me Lucille, o que você acredita ser além do óbvio?
Cada palavra que sai da sua boca envia arrepios pelo meu corpo inteiro. A maneira como ele fala, seu sotaque se sobressaindo um pouco, ele não é americano, mas disfarça seu sotaque muito bem. Se eu não fosse uma pessoa atenta jamais teria percebido a diferença.
Porém, não ouso arriscar seu país de origem, Rare tem traços fortes, exóticos até. E tudo isso acompanhado de um olhar intenso e uma voz sexy.
O cara é uma perdição ambulante.
— Lucille?— Chama minha atenção, estive tão imersa em pensamentos que não respondi sua pergunta. Ele sabe disso, e é estranho que eu sinta como se ele soubesse cada pensamento meu.
— Acompanhantes de luxo — digo por fim e tomo mais um gole do meu drink. — Eu ainda matarei a minha sócia por me meter nisso.
— Você é do tipo de pessoa que faz suposições? Porque você apenas viu algo e supôs que somos acompanhantes.
— Eu vi pessoas sendo expostas como mercadorias.
— Somos sempre expostos como mercadoria. Seja em uma reunião de negócios para passar confiança e poder, seja em posts na internet para vender uma falsa imagem de perfeição. Não importa se estamos em cima de um palco ou não, somos mercadorias, Lucille.
— Nesse caso, o ditado sobre a primeira impressão ser a que fica, não cabe nessa situação? — brinco com ele.
— Qual foi a sua primeira impressão ao me ver? — ele muda sua posição e pega o copo novamente, mas não bebe, apenas brinca com o gelo.
— Um cara bonito. — dou de ombros.
— Apenas isso? Um cara bonito? — rir.
— Jesus, eu já causei melhores impressões antes. Quer saber qual foi a minha impressão quando vi você? — ele para de brincar com o gelo. Engulo em seco antes de responder.
— O que você pensou?
— Eu pensei...— ele levanta da cadeira e dá a volta na mesa, suas mãos tocam meu ombro em um aperto firme, em seguida sinto sua respiração no meu pescoço. — Será que ela cheira tão bem quanto eu imagino? — ele inspira profundamente, passando a ponta do nariz por toda extensão do meu pescoço, involuntariamente inclino a cabeça dando-lhe acesso. — Eu pensei... será que ela tem o gosto tão bom quanto eu acho que tem? — Rare passa a ponta da língua no lóbulo da minha orelha.
Minha respiração fica mais tensa, minhas mãos vão para minha perna e aperto com força. Sentindo o pulsar no meu clitóris. Deus do céu, eu estava extremamente excitada por causa de um desconhecido.
— Não somos prostitutos Lucille, não recebemos para estar aqui. — diz ele, mas sua língua não para.
— Garotos ricos e entediados, então? — digo e fecho os olhos quando as mãos dele descem pelos meus braços, e em seguida, ele as coloca em cima na minha.
Na minha coxa.
É como se todos a nossa volta tivessem desaparecido. Meus olhos ainda estão fechados, recusando-se a abrir. Não sei se com medo de me dar conta que há um cara atrás de mim, lambendo meu pescoço em público, ou se é medo de me dar conta do quão ridícula é essa situação. Quantos anos ele tem afinal de contas, no mínimo, uns dez anos a menos que eu.
Gemo com essa constatação, mas ele entende meu gemido de frustração errado. Delicadamente, ele afasta as minhas mãos da minha coxa deixando somente as dele.
— Garotos ricos sim, entediados nunca. — Ele abre um pouco a minha perna, o tempo todo sua boca passa ao longo do meu pescoço. — Acho que você é do tipo de pessoa que acredita que contra fatos, não há argumentos. — seus dedos começam a subir o tecido do meu vestido.
— Não, eu sou do tipo de mulher que argumenta com os fatos. — Sinto ele sorrir contra o meu pescoço. — E se a sua mão não parar agora Rare, não haverá argumento que mude o fato que você estará na cadeia.
Suas mãos param.
Sua boca para.
Rare sai de trás de mim e se posiciona ao meu lado, inclinando o corpo ele fala próximo o suficiente.
— Eu sabia que a minha segunda impressão sobre você estava correta. — diz ele com um sorriso vitorioso no rosto.
— Qual é ela?
— Que nenhuma mulher que eu estive nesse cruzeiro se compararia a você — ele estende a mão.— Diga que sim Lucille, me permita ser o seu acompanhante durante esses dias.
Olho para sua mão estendida e em seguida para o seu rosto. Ele não sorri, pelo contrário, está sério, parece ansioso.
— Quer mesmo isso? — Pergunto.
— Muito, mas eu não sou um cara de quebrar regras, serei seu durante esses dias, se, apenas se, você aceitar ser minha.
Minha.
A expressão não saiu como algo possessivo, seu tom era mais como uma negociação, uma troca.
Eu pego a mão dele.
— É agora que você vai me mostrar o que é além do óbvio? — Pergunto e deixo-o me ajudar a levantar, pego minha bolsa da mesa e me surpreendo quando ele leva minha mão até a boca e beija suavemente. E tão suave como seu beijo, é a maneira como ele me leva até ele, pressionando nossos corpos.
— Não Lucille, é agora que eu vou te fazer gozar a noite inteira.
Rare leva a mão até a minha nuca e me beija.
Sua língua invade a minha boca em um beijo cheio de desejo.
E pela primeira vez desde que me divorciei, eu me deixo aproveitar.
Outra boca.
Outros braços.
Que não são do Gabe.
YOU ARE READING
JOGOS PERVERSOS
Misteri / ThrillerSINOPSE Quando decidi ser advogada, desliguei algo em mim que nunca acreditei que fosse precisar novamente. Não havia regras que eu não soubesse driblar, não houve um caso que eu não tenha saído vitoriosa. Mesmo que para isso, eu tivesse que fazer u...