Capítulo 1

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Parte um

O rei Dragão

Capítulo Um

Passaram-se quinze anos desde que desapareci. Após a Segunda Guerra dos Magos da Ordem Suprema, Dorival destruiu quase todas as escolas de magia, de modo que restaram apenas três nos reinos. Seu objetivo era adquirir poder e mais conhecimento para enfim possuir o domínio da magia e acordar os dragões adormecidos, se houvesse algum vivo.

Estive um tempo adormecido, reparando minhas feridas. Esse é o tipo de repouso que preciso fazer, pois é a única forma para que meus conhecimentos de outras eras não me deixem exaurido ou me levem à loucura. Entretanto, a cada adormecer perdia alguma memória antiga, então passei a deixar alguns registros para não esquecê-las de vez. Meu último descanso teve de ser rompido antes da hora por sonhos confusos - obra dos deuses - que vieram a mim anunciar o novo escolhido a erguer, a Schandar. Foi revelado um jovem inseguro e sonhador, o que dificulta o caminho: encontrar um jovem inexperiente na arte da guerra, quando se vive em uma época onde armas e guerreiros se tornaram mais forte que a magia.

Atravessei as terras do Grande Reino de Morza usando roupas de viajante e descansando em estalagens. Minha magia está enfraquecida devido a minha última batalha. Junto com Dorim, meu fiel corcel negro, rápido como o vento, posso me mover com mais agilidade; fui em direção ao leste, atravessei planícies e campos durante o percurso. Meu objetivo era chegar ao reino élfico de Idilnaren, ao centro da floresta de Adorne, uma região verdejante cercada de árvores talvez mais antigas do que o próprio homem. Idilnaren é um reino antigo, abençoado pelos deuses, banhada pela mais pura luz do sol e da lua.

À medida que me embrenhava na floresta, a claridade por dentre as copas das árvores ofuscava minha visão e emitia um suave frescor. Algumas daquelas antigas árvores pareciam me espionar. Dei uma olhadela pelos contornos e notei o movimento dos galhos, que pareciam vivos. Apenas o vento do sul balançava as folhas, semelhantes a braços contorcidos espantando curiosos. Atravessei uma caverna que, de início, aparentava ser apenas uma travessia para o outro lado da montanha. Emiti uma luz fraca do meu cajado para iluminar o caminho. Acreditava que ali existisse um vale, porém a iluminação desfez minha impressão e pude entrar no reino élfico sem dificuldades.

O clima suave renovou meu coração cansado. Escutei o som de pelo menos dois rios passando entre as pedras brancas, junto ao canto das aves multicoloridas, que espalharam seus ninhos por todo o ambiente. Mais adiante, o som de águas cristalinas descendo por uma parede rochosa. Atravessei o vale de beleza extraordinária, com árvores magníficas circundando o grande jardim. Nele havia flores exóticas, algumas raras e outras extintas há muitas eras, bem como algumas plantas medicinais que não são encontradas em nenhum outro lugar.

Magos circulavam por esse grande jardim. Alguns estavam distraídos com seus pensamentos, enquanto outros formavam círculos com seus aprendizes. Elfos armados com lanças e arcos vigiavam cada setor usando armaduras de cristal branco trabalhadas por mãos diligentes, elmos enfeitados com diamantes, capas lisas flutuantes e botas que não emitem ruídos. Quando cheguei a outro jardim, um pouco menor do que o anterior, avistei amplo gramado banhado por aquela luz quase divina, clareando as mesas de vime onde grupos de elfos preparavam poções.

Encontrei o rei élfico Aglargon e o mago Gastriam no jardim principal, próximos à grande árvore prateada, o centro desse reino. Suas raízes são ligadas a todas as árvores e plantas da região. Sendo considerada árvore mãe, concebe vida ao solo, onde as árvores nascem cheias de frutos doces. Nascida talvez na primeira Era do mundo, uma antiga canção conta que, dos seus frutos nasceram os primeiros elfos.

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