Capítulo 5

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Capítulo cinco

Passei a noite no grande salão de livros, poesias, canções e mapas, um grande templo reservado a contagem de bravuras dos heróis antigos. Sobre as mesas repousavam diversos pergaminhos, alguns com folhas amareladas pelo tempo.

Era preciso obter permissão oficial do rei, oficiais ou dos anciãos para entrar no salão. Aos jovens em treinamento era permitido fazer isso nos dias de estudos. Assim sendo, guerreiros passavam o dia estudando o que os generais escreviam sobre estratégias.

Por dentro, era um salão com três andares, e estantes apinhadas de livros preenchiam as paredes. Um pilar coberto por seda amarela erguia-se ao centro, saindo do piso lustroso para sustentar o teto de mármore branco, onde imagens de dezenas de deuses foram retratadas. As paredes eram pintadas com tons verdes escuros e brancos, que lembravam prata. No setor próximo às paredes estavam duas estátuas de mármore cinzento, que saudavam os visitantes: Erin e Hila, os deuses da palavra, da poesia e do pensamento.

— Todos os dias, Ansur faz escolhas tolas. — Não precisei me virar para ver quem falava. Já conhecia o timbre do general Lamorde. — Não precisamos mais dos conselhos de um mago moribundo!

— Não entendo suas palavras, meu bom general. Continuei a folhear o grosso livro, enquanto ele se manteve em pé com os braços cruzados atrás da mesa.

— A magia está morrendo! — "Assim como tua presença nas terras do reino" — Pensou Lamorde. — Logo a magia estará extinta como os dragões um dia foram.

— Muitas coisas, um dia, deixarão de existir. — Sorri.

— Teu escolhido poderia ser um dos meus jovens. — Insistiu Lamorde. — Treino um grupo há muito tempo para a jornada em busca da espada do rei Dragão.

— Nobre de tua parte, general. — Respondi, na vã tentativa de encerrar o assunto. — Se for a vontade dos deuses, escolherei um dos teus jovens com orgulho.

— Os deuses nos abandonaram há eras por nossa própria conta, mago. — Explicou, aborrecido. — Fazemos nossas próprias escolhas, sem depender mais deles.

Franzi o cenho. Interrompi a leitura. — Palavras fortes! Os deuses da criação apenas nos deixaram livres para caminhar. Ainda assim, continuam a nos observar e guiar, dando-nos sabedoria para bem agir.

— Eu acredito apenas nas armas de Heitor, o único deus que me ouve nas batalhas e a quem dedico todo o sangue de meus inimigos.

Lamorde parou a minha frente.

— Não acredito em deuses que visitam magos em sonhos.

— O tolo pode ser você. — Rebati, fitando a longa cicatriz vermelha de Lamorde, que começava no olho esquerdo e terminava no queixo, motivo de orgulho para ele por representar uma batalha. — Não acreditar é sua escolha. Ofender crenças e antigos deuses revela a falta de honra de certos homens!

— Eu tenho muita honra! — Cerrou os dentes. — Se fosse o rei, expulsaria a magia e tudo o mais para longe dessas terras!

Olhei para ele com ar de desprezo.

— Herdou os pensamentos de seu pai e o desprezo dele pelo antigo.

— Meu pai era um grande homem. — Recordou Lamorde. — Se tivesse se tornado rei, não estaríamos tendo essa conversa.

— Acredito que sim. — Concordei.

Prossegui com minha leitura, ávido pelo final da discussão. Lamorde silenciou. Aprendeu com o pai, Bravos, um antigo general do oeste, a detestar magia. Quando terminou a Segunda Guerra dos Magos, boatos de que muitos haviam morrido — inclusive eu — se espalharam. O rapaz não lamentou em nenhum momento, achando que já era hora da magia deixar de existir.

Sentia que a magia realmente estava ameaçada. Muitos pensavam da mesma forma. Sabia que, talvez, essa fosse minha última chance. A nova era certamente traria outras perspectivas.

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