Capítulo 7

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No salão do banquete, juntaram quatro mesas de carvalho escuro, formando um círculo. Ao fundo, uma lareira ardia em labaredas. Ao centro, o rei vestia um manto carmesim sob um gibão dourado — traje especial, utilizado somente em eventos como aquele. Usava também um bracelete de pequenas pérolas alaranjadas. A sua direita se encontrava a bela esposa, a rainha Gutrune. Usava um longo vestido bordado, de seda cor de avelã. Na testa, uma tiara de prata com uma estrela esverdeada como adorno. Os longos fios dourados e soltos, juntamente com o rosto fino de lábios pequenos e rosados, estavam em harmonia. A pele pálida e os olhos verdes eram detalhes à parte. Corria os olhos pelo salão, reconhecendo cada rei e general de reinos vizinhos. Ansur conversava com os três reis menores do oeste. Portavam belas armaduras de prata e ônix, braceletes de safira e capas avermelhadas, azuis e roxas.

O rei bárbaro Odir e seu filho Eikki disputavam quem comia mais rápido a carne de javali, na sua segunda tentativa, pois empataram na primeira, deixando a barba engordurada com restos do suculento javali. Eikki era maior que seu pai: o tronco largo como um muro de concreto, os bíceps pequenos montes musculosos, o rosto alto e branco. Fazia jus ao nome que recebera em outros reinos — "o Gigante do Norte." Lamorde acompanhava outros generais da outra ponta da mesa. Gutrune não sentia simpatia pelo general; seus olhos sempre demonstravam um nível de arrogância que fazia a bela rainha levantar a sobrancelhas.

— Meu bom rei, o supremo Aduzam se encontra no reino? Onde está aquele velho? Há tempos não o vejo. — Disse Prost, um dos reis menores, trajando sua armadura dourada de batalha.

Gutrune lembrou-se da visita do mago. Gostaria de revê-lo novamente. Nunca mais o vira desde que estivera presente em seu casamento.

— Talvez esteja perdido em seus livros de filosofia e magia. — Respondeu Ansur, sorrindo, provando o delicioso vinho na taça em forma de escudo dourado, feita em argila. Quando a segurava, se assemelhava a um broquel.

— Disseram que o mago procura um aprendiz? — Indagou Prost, olhando ao redor do salão à procura do mago. Quem nessa parte do reino quer virar mago e se perder em loucura? Apenas os elfos!

— Ele não procura um aprendiz para a magia! Lamorde retrucou, sentado na outra ponta da mesa.

Bebeu o resto da cerveja vermelha na taça de marfim. A bebida era relaxante e doce, preparada com uma mistura de cevada especial, produzida nos solos de Menestron, que a deixava com tom vermelho escuro. Sua espuma era amarelada e também doce.

— Procura por um sucessor para a Schandar! — Disse ele.

As vozes tomaram conta do salão. Gutrune olhou para Ansur, que franziu o cenho fitando o general. Odir, que limpava a boca com as costas de uma das mãos e, na outra, segurava um pedaço de javali, gritou:

— Disseram que a espada lendária está perdida. Aqueles que a buscaram, sumiram em sua jornada!

— Meu primo a procurou por anos! — Replicou o rei Vartes, do reino mais ao norte de Menestron. Sua armadura de prata brilhava à luz das chamas da lareira. Um guerreiro há muito descansado de suas batalhas. Lutou em inúmeras guerras ao lado de Ansur. — Mas voltou para casa, cansado e ferido.

— Deixemos tal lenda de lado. — Lamorde interrompeu as vozes. — Temos assuntos mais interessantes a tratar. — Concluiu ao bater com a caneca na mesa.

— Devo interrompê-lo, general!

Aduzam, calmamente, entrou na sala acompanhado por Kerza. Os olhares se voltaram para eles. Gutrune abriu um fino sorriso.

— Tal assunto requer muito interesse. A espada é necessária em tempos difíceis e, não deve ser ignorada.

— Supremo, quanta honra! Veio nos agraciar com sua presença? Notícias de sua jornada sempre enchem nossos ouvidos! — Prost abriu o sorriso amarelado.

— Minha jornada foi completada hoje, senhores. — Disse, sem rodeios, aproximando-se da mesa. — Encontrei o Escolhido dos deuses.

O silêncio tomou o ambiente. Eikki e Odir interromperam a disputa, com metade do javali na boca, fitando Aduzam. O velho sábio retribuiu cada olhar, em especial o de Lamorde, que o fitava com curiosidade e desprezo.

— Ele se encontra no reino e eu o apresentarei ao conselho. É importante que todos estejam presentes.

— Um jovem?! — Indagou Ansur, inclinando-se na cadeira de madeira branca. — Quem seria tão abençoado pelos deuses? Um estudante das armas?

— Não! — Exclamou. — É filho de um senhor de terras do teu reino.

As palavras, pronunciadas calmamente, caíram como um raio em dia de céu azulado. Todos começam a falar ao mesmo tempo. A maioria expressava certa decepção diante da notícia, inclusive o general. O anunciante já esperava aquela reação.

— Como um homem humilde carregará um símbolo de poder?! — Berrou Lamorde.

O sábio manteve a serenidade.

— Será devidamente treinado por mim e por Kerza, que ficará no reino como seu mestre em armas. — Respondeu Aduzam.

— O tempo prejudicou seus pensamentos e capacidade de tomar decisões! — Retrucou Lamorde levantando-se e, esparramando o conteúdo da caneca sobre a mesa.

— Está contra a decisão dos deuses?! — As palavras de Aduzam ecoaram friamente no salão, de modo que todos silenciaram e o general novamente se sentou.

— Amanhã, quando o dia findar, nos reuniremos no conselho e veremos o que será feito.

Gutrune rompeu o breve silêncio. — Enquanto isso não acontece, vamos aproveitar a festividade!

A suavidade de sua voz acalmou a todos. Aduzam sempre admirou a rainha de Menestron, filha do bravo guerreiro Sodar, o "martelo do medo", como era conhecido em sua época. Foi um valioso amigo e aliado daquelas terras. Por ser nascido nas terras dos bhalcos, o povo bhalconês mantinha uma velha aliança com Menestron. Seu martelo de guerra era temido entre inimigos. Aduzam já lutara ao lado de Sodar e se orgulhava disso. Olhando para Gutrune, lembrou-se dela ainda menina nos ombros de seu pai. Agora transformada, era uma mulher alta e de corpo atlético, pronta para usar armas se fosse preciso defender seu reino.

— Com licença. Preciso me retirar para meus aposentos. — Aduzam sorriu para Gutrune e Ansur.

Aduzam deixou o salão ao lado de Kerza, que preferiu ficar em silêncio. Também tinha dúvidas sobre a escolha, mas, por conta de sua amizade, decidiu apoiar o desejo do outro. No salão, a conversa logo tomou novo rumo e a curiosidade pairou: Quem seria o jovem humilde escolhido pelos deuses? Teriam que esperar até o dia seguinte para descobrir. Lamorde, com expressão sombria, encarava as chamas da lareira.

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