2. tempo perdido

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"A tempestade que chega é da cor dos seus olhos
Castanhos."

O que dizer sobre Byun Baekhyun? Seus 1,74 metros de altura não faziam jus ao tamanho da sua presença.

A imensidão do seu olhar. Olhos de trovão. Chanyeol sempre gostou de imaginar seus olhos cruzando com uma árvore qualquer e rapidamente ela se partiria ao meio, ele também costumava rir da própria idiotice em seguida.

A questão era que todo mundo sabia que o caçula dos Byun era problema. Tinha uma voz doce e cantava nos barzinhos da cidade pra descolar grana extra, curtia festas, baseados e era um encrenqueiro total. Quer dizer, Park nunca tinha visto Baekhyun se meter em uma briga com ninguém, mas o que as pessoas falavam era outra história. Diziam que ele tinha nascido para aquilo, brigar era um dom natural para ele, e exatamente por isso, ele era um lobo solitário. Não como Chanyeol, óbvio. Afinal de contas, as pessoas não achavam ele nojento, mas descolado.

Bad boy.

Chanyeol, pessoalmente, achava que ele era como qualquer outro ser podre do colégio, mesmo tendo chegado recentemente. Nunca tinha presenciado nada do que acontecia nos vestiários, porque faltava a aula de educação física pra fumar com outros babacas. O mullet de cor irritante, notas boas, farras de vez em quando e tudo que um adolescente metido a rebelde poderia ser. Esse era Byun Baekhyun.

Por isso, olhou com indiferença para Baekhyun quando ele entrou na aula de História Geral, atrasado. Procurou uma cadeira vazia e se sentou ao seu lado logo em seguida.

(...)

As horas se passaram com lentidão, mas a aula finalmente chegou ao fim. Enquanto os alunos eufóricos saíam atropelando qualquer alma que ficasse em seus caminhos, o maior medo de Chanyeol era a hora da saída. Quando dava sorte, só levava uns cascudos, quando corria, se livrava dos tapas e da humilhação diária, mas apanhava mais no dia seguinte. Por esse motivo, ficou na escola até que todos os alunos tivessem ido embora, achando finalmente estar seguro.

Guardou grande parte dos livros no armário, colocou seus fones de ouvido e escondeu o walkman de maneira vagabunda na roupa. Quando saiu pela porta da frente, o sol já estava quase na metade do horizonte e iluminava cada casa com tons de laranja. Quando chegasse em casa já estaria escuro. Enquanto isso, Charming Man enchia seus ouvidos e fazia com que ele evitasse pensar demais.

Enquanto pisava pelo concreto da calçada, com a mochila nos ombros, a trilha sonora do The Smiths e a brisa fraca no rosto, andava no ritmo da música. Alívio definia a sensação que sentia agora, mesmo com um fundinho de medo do que viria amanhã.

Em lapsos de extrema coragem, começou a pensar nas possibilidades em confessar aos pais o que acontecia na escola, mas sabia que não adiantaria muita coisa. Se quisesse mudar aquilo, ele e sua família teriam que mudar de cidade ou talvez até de país. Recomeçar uma vida do zero não era uma opção para os Park. Pai e mãe com emprego fixo e irmã mais velha recém-casada. Seria egoísmo da sua parte tirá-los dessa zona protegida.

Foi interrompido por duas mãos fortes e familiares, sendo jogado por elas em um beco. Luz escassa e chão úmido, provavelmente por chorume considerando as lixeiras de metal ao lado dos muros de tijolos vermelhos, onde foi prensado logo em seguida. A força do impacto foi o suficiente para que os fones, junto com o walkman, caíssem em um estrondo ruidoso ao atingirem o chão.

- Você se acha o esperto, né Park? - O dono da voz era Donghyun, do terceiro ano. Logo atrás vinham seus fiéis escudeiros, Hyunki e outro que Chanyeol nem sequer sabia o nome. Mas sabia que ele nunca batia, nem xingava ou sequer falava como os outros, só ficava na dele, o que não era ruim. Um punho a menos.

- É você quem 'tá dizendo. Quem sou eu pra discordar? - Mesmo claramente em desvantagem, Chanyeol não era o tipo que escutaria tudo o que tivessem para dizer em silêncio. Na verdade, sempre desdenhava. Talvez fosse por isso que as costas da mão de Donghyun foram de encontro com o seu rosto com força, era sempre assim, sem aviso prévio.

- Muito engraçadinho! 'Tá querendo morrer hoje, frutinha maldita? - Segurou Chanyeol pela gola da camisa e o sacudiu, suas costas foram de encontro com o muro pelo menos umas três vezes. - Se quer chamar atenção, é mais eficiente que ande por aí com uma sainha cor-de-rosa, Park.

- Rosa não vai bem com a cor da minha camiseta. - Dessa vez foi um soco, no meio do estômago.

Chanyeol ainda estava sem ar quando ele continuou, mas deixou de prestar atenção no que ele falava quando caiu no chão. Identificava poucas coisas no meio dos socos, mas ouviu algo sobre castração e algumas ameaças de morte. A única coisa que tentava proteger era o próprio rosto, pra evitar perguntas mais tarde.

Ficou tonto com o tempo, via o degradê do pôr do sol girar no seu campo de visão. Demorou cerca de 5 minutos para voltar a plena consciência e perceber que estava sozinho no beco outra vez, no chão completamente fétido, sujo e nojento. Exatamente como se sentia, mas não admitiria e daria esse gostinho para aqueles imbecis.

Tentou se limpar como podia, mas era impossível sem água e sabão, teria que entrar em casa de maneira bem sorrateira outra vez para que ninguém percebesse seu estado.

Com certeza, a parte mais triste do seu início de noite foi ver o walkman quebrado no chão, aquilo definitivamente era uma tragédia. De qualquer forma, guardou o que restava dele na mochila.

Fez o resto do seu caminho para casa meio manco, e com mais alguns minutos de caminhada, estava em casa.

Encontrou sua casa com as luzes da entrada acesas. Não deveria significar nada, mas para sua família aquilo era sinal de que tinham visitas. Sua mãe tinha manias e uma delas era sempre gostar de manter uma casa bem iluminada quando tinham visitas. Era bom, já que Chanyeol odiava escuro, mas ter visitas naquele momento era horrível. Seria extremamente rude passar pela sala sem cumprimentar cada uma daquelas pessoas, o que resultaria em um sermão da mãe mais tarde. Mas seu estado de espírito e corpo eram horríveis.

Dolorido e cansado, abriu a porta e caminhou quase na ponta dos pés. Se tivesse sorte, estariam na cozinha ou em qualquer outro cômodo.

- Chanyeol! Que bom que chegou! Temos novos vizinhos. - É, não tinha sido daquela vez.

Chanyeol se virou lentamente, com o pleno sorriso dissimulado do filho perfeito. Fez um breve aceno com a cabeça, tentando parecer tímido, havia uma mulher sentada no sofá da sala, de aparência familiar.

- Foi minha colega na época do colegial e hoje em dia é você quem está na mesma série que o filho dela, isso não é uma coincidência incrível? - Na verdade não era. A cidade era minúscula, era raro que não se soubesse da vida de seus moradores.

- Claro, mãe. - Sorriu brevemente para a nova vizinha, apenas para não aparentar todo o desconforto que estava sentindo no momento. - Então... Eu vou pro meu quarto. Foi um prazer. - Acenou uma última vez antes de correr para o quarto o mais rápido que podia sem parecer estranho.

there is a light that never goes outOnde histórias criam vida. Descubra agora